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Moçambique e Portugal reforçam cooperação militar até 2026

João Carlos
10 de maio de 2021

Ministros da Defesa português e moçambicano assinaram um acordo que inclui a formação de militares. Moçambique quer mais apoios internacionais para combater o terrorismo, mas também tráfico de droga e de órgãos humanos.

Jaime Neto foi hoje recebido com honras militares por João Gomes CravinhoFoto: João Carlos/DW

"Penso que o treinamento [de forças especiais] que vai acontecer em Moçambique para poder apoiar a nossa força a combater o terrorismo devia também ser acompanhado por outros esforços de capacitação das nossas forças de defesa e segurança para melhor enfrentarmos esse desafio", afirmou o ministro moçambicano da Defesa.

Jaime Neto, que visita Portugal até o próximo fim de semana, assinou esta segunda-feira (10.05) em Lisboa, com o seu homólogo português, João Cravinho, o Programa-Quadro de Cooperação no domínio da Defesa entre os dois países para os próximos cinco anos. 

O programa privilegia a formação por militares portugueses das forças especiais moçambicanas, nomeadamente fuzileiros e comandos, determinada pela agudização da ação terrorista de grupos islâmicos fundamentalistas na região de Cabo Delgado.

João Gomes Cravinho, ministro da Defesa de Portugal, disse que este é um programa-quadro que tem elementos de continuidade e de evolução, de acordo com os desafios atuais de Moçambique. "Adicionou-se um projeto importante de formação de forças especiais moçambicanas em Catembe e Chimoio e o resultado é que o programa-quadro terá uma quadruplicação do número de efetivos portugueses a trabalhar com as suas contrapartes em Moçambique", declarou.

Formação de fuzileiros já começou

Cravinho acrescentou, em declarações à imprensa, que a assinatura do referido programa de cooperação, esta segunda-feira (10.05), coincide com o dia em que em Catembe, na cidade de Maputo, se iniciam as atividades de formação de fuzileiros moçambicanos.

Face à situação militar na região de Cabo Delgado, Portugal e Moçambique acordaram avançar com respostas multifacetadas, incluindo as componentes terra-ar e a nível de informações.

João Gomes Cravinho e Jaime Neto assinaram acordo de cooperação militar até 2026Foto: João Carlos/DW

Jaime Bessa Augusto Neto, ministro da Defesa de Moçambique, afirmou que a renovação deste pacote de cooperação vai continuar a ajudar o país. "Vamos trabalhar no sentido de tirarmos todo o proveito possível olhando para a situação atual do país. Sabem perfeitamente que o país está a ser agredido por forças estrangeiras, o terrorismo, que já matou muita gente", lembrou.

Até este momento, adiantou o ministro, cerca de duas mil pessoas já perderam a vida entre civis e militares moçambicanos, incluindo também elementos dos grupos terroristas. O conflito na região de Cabo Delgado já provocou cerca de 800 mil deslocados.

Apelo internacional "para conter este mal"

Na ocasião, Jaime Neto renovou o apelo à comunidade internacional em apoiar os esforços das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, "para contermos este mal."

"Sabem que o terrorismo está associado a várias outras coisas. Nós achamos que o tráfico de drogas também deve estar a acompanhar aquilo que está a acontecer em Moçambique, assim como o tráfico de órgãos humanos", sublinhou.

Luís Bernardino, investigador no Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (IUL), considera que "Portugal vem assumindo-se como um dos principais impulsionadores para uma solução do problema securitário na região de Cabo Delgado".

Contudo, acrescenta, "ainda existem outras formas de engajamento que Portugal precisaria considerar, desde logo a possibilidade da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] se envolver como um "soft power" no apoio à causa moçambicana, por exemplo, reforçando e contribuindo para uma maior capacitação da Marinha de Guerra de Moçambique, no sentido de contribuir para a segurança marítima no Oceano Índico."

Por outro lado, adianta, "no reforço da mobilização internacional para apoio a Moçambique, objetivos que derivam do Protocolo de Cooperação de Defesa da CPLP e que Portugal poderia eventualmente capitalizar em prol do problema securitário na região de Cabo Delgado."

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