COP23 quer ações concretas para implementar Acordo de Paris
6 de novembro de 2017
Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) estão presentes na Conferência do Clima das Nações Unidas para desenvolver estratégias e pedir apoio técnico e financeiro. Crise na Guiné-Bissau impede ratificação do acordo.
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Com mais de 25 mil participantes e delegações de 197 países, a 23ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP23) pretende definir ações concretas para o combate às mudanças climáticas. E começou com uma mensagem clara: "Esta ainda é uma jornada incompleta. Essa é a 23ª Conferência, mas nunca antes nos deparamos com um senso tão grande urgência. Milhões de pessoas estão a sofrer no mundo em razão de eventos climáticos extremos. Mas esse é apenas o começo do que está por vir".
O alerta foi lançado na abertura do evento por Patricia Espinosa, secretária-executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), que acrescentou que não dispomos mais do luxo do tempo para ficarmos inertes frente ao aquecimento global.
É preciso passar da era da esperança para a era da implementação. Essa é também a mensagem da ministra do Ambiente da Alemanha, Barbara Hendricks. "Não haverá caminho de volta se ignorarmos o teto de temperatura que concordamos em Paris. O aumento da temperatura global não deve ultrapassar os dois graus e, se possível, 1,5 grau nos próximos anos", afirmou.
Desafio imposto à África
Para países em desenvolvimento, sobretudo no continente africano, o desafio está imposto, assinalou em entrevista à DW África, o ministro das Relações Exteriores do Marrocos, Salaheddine Mezouar, presidente da COP22, a última conferência do clima, realizada em 2016.
"A África está diante de muitas exigências de desenvolvimento. O continente tem dois caminhos possíveis: seguir com o modelo antigo ou entrar plenamente num espírito de desenvolvimento e respeito ao ambiente. A África comprometeu-se a ter uma só voz e ser um ator eficaz nesse processo. O continente precisa de ajuda e de financiamento, mas precisa também desenvolver seu papel", sublinhou.
PALOP marcam presença
Delegações dos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) também estão presentes. Segundo Adérito Santana, do Instituto Nacional de Metereologia de São Tomé e Príncipe, o país precisa de apoio financeiro e técnico para conseguir dar saltos de desenvolvimento.
"A nossa preocupação maior é que ao longo do processo possamos também colmatar as dificuldades que possam surgir devido às alterações climáticas. Portanto, passa a ser um problema com o qual temos que lidar embora a questão da redução das emissões não seja propriamente a maior preocupação. Vamos colaborar se os meios forem postos à nossa disposição, mas uma nação como a nossa precisa dar outros saltos e outros passos", afirmou.
Uma das principais urgências é retirar populações de zonas de risco, colocá-las em regiões seguras e economizar gastos com o uso de energias renováveis. "Quando falamos basicamente de adaptação significa que existem populações que vivem em zonas que não podem continuar ali. Eventualmente elas poderão ser alojadas noutros locais ou criadas melhores condições para que permaneçam porque os problemas hoje causados pelas mudanças climáticas já não permitem que essas pessoas fiquem onde estão atualmente", acrescentou.
Guiné-Bissau ainda não ratificou Acordo de Paris
O Acordo de Paris, em vigor desde dezembro de 2015, é ratificado de forma voluntária por países que se comprometem a estabelecer metas climáticas nacionais. Ao todo, 169 países já aderiram ao acordo.A crise política na Guiné-Bissau impede que o país ratifique o documento, como explica o diretor geral do Ambiente do país, Viriato Cassama.
"Falta a abertura da Assembleia Nacional Popular (ANP) para que possamos submeter toda documentação para ratificação do Acordo de Paris, porque a ANP é o único órgão de soberania competente para ratificar todos os acordos internacionais de que Guiné-Bissau é parte", explicou.
Desde 2006, a Guiné-Bissau tem um plano nacional de adaptação às alterações climáticas, que já está alinhado com o Acordo de Paris. Basta apenas vontade política.
06.11 COP23 versão online - MP3-Mono
"O Governo elencou o setor da agricultura e a gestão da água como prioritários para lutar contra as alterações do clima e foi implementado um projeto de reforço de resilência da capacidade de adaptação das comunidades face aos setores agrário e hídrico e assim tornarmos as nossas políticas mais resilientes aos efeitos das alterações climáticas", diz.
Segundo Viriato Cassama, para fazer face a toda esta situação, é preciso "que o país seja dotado de quadros técnicos capazes e os governantes conhecerem bem as vulnerabilidades da Guiné-Bissau com base em informações científicas".
Este ano, a COP23 é presidida por Fiji, país insular do Pacífico. Até 17 de novembro, os países participantes vão negociar compromissos para que a luta contra as alterações climáticas não fracasse.
Mudanças climáticas: motivo de mais chuvas e inundações na Beira
A Beira está ameaçada pelas alterações climáticas. A segunda maior cidade de Moçambique tem de se adaptar, já que as inundações são cada vez mais frequentes. Para isso, conta com o apoio da Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
A força do mar
O quebra-mar destruído no bairro das Palmeiras mostra a força das ondas do Oceano Índico, na costa da Beira, a segunda maior cidade de Moçambique. Mesmo em condições normais, o nível do mar varia sete metros entre maré baixa e maré alta. Quando há ciclones e ondas criadas por tempestades, essa diferença é ainda maior. E as mudanças climáticas elevam ainda mais o nível do mar.
Foto: DW/J. Beck
Bairros inteiros ameaçados
Alguns bairros da cidade da Beira já estão tão perto do mar que algumas casas já nem podem ser habitadas. É o que acontece em Ponta-Gêa e Praia Nova. As residências já foram parcialmente destruídas pelas ondas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100.
Foto: DW/A. Sebastiao
Aposta na proteção
Novos canais e mais cancelas, como aqui no bairro das Palmeiras, deverão proteger a Beira de inundações nas partes baixas da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água. Até agora, a água das chuvas ficava acumulada - por vezes durante semanas. Um local ideal para a reprodução dos mosquitos transmissores de malária.
Foto: DW/J. Beck
Centro da cidade protegido de inundações
Está a ser construída mais uma cancela perto do porto de pesca. A ideia é melhorar o controlo da entrada e saída das águas na foz do rio Chiveve. O canal de entrada no porto já não precisará de ser dragado com tanta frequência. O projeto de cooperação para o desenvolvimento é financiado pelo banco estatal alemão de desenvolvimento KfW. O valor é 13 milhões de euros.
Foto: DW/J. Beck
Daviz Simango quer mudar a Beira
A luta do edil Daviz Simango para conseguir o dinheiro necessário para a transformação do rio Chiveve levou mais de cinco anos. O presidente da Câmara da Beira, que é do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), da oposição, queixou-se várias vezes da falta de apoio do Governo de Maputo.
Foto: DW/J. Beck
Limpar e mudar o percurso do rio
O rio Chiveve deverá ser limpo e o seu percurso mudado, de forma a passar por um parque urbano. A ideia é que o rio assuma melhor o seu papel natural na drenagem da cidade. Isso protegerá a Beira de inundações, após fortes chuvas, ajudando também a cidade a adaptar-se às mudanças climáticas.
Foto: DW/J. Beck
Área verde no centro da cidade
Depois do rio, a próxima fase do projeto será fazer um parque em torno do Chiveve. O rio é o único espaço verde no centro da cidade da Beira, que tem cerca de 600 mil habitantes - o que a torna a segunda maior cidade de Moçambique. Localizada no centro do país, a Beira tem sido considerada cinzenta e desinteressante.
Foto: DW/J. Beck
Arborizar os mangais
Para fazer as planeadas mudanças no rio, foi necessário retirar muitas árvores dos mangais. Por isso, é necessário um reflorestamento após o final do projeto. Mudas de diferentes espécies já estão a ser cultivadas para esse fim. Elas são muito importantes para a preservação do ecossistema local. Apenas estas espécies sobrevivem tanto em água doce quanto salgada.
Foto: DW/J. Beck
Construtora chinesa
A empresa chinesa CHICO (China Henan International Cooperation Group ) venceu o concurso para pôr em prática os planos para o rio Chiveve. Os meios vêm do banco estatal alemão de desenvolvimento KfW e da cidade da Beira. Além de engenheiros chineses, a CHICO também emprega diversos moçambicanos, tanto homens como mulheres.
Foto: DW/J. Beck
Poluição no rio continua
O projeto de limpeza no rio Chiveve pode estar ameaçado. Não muito longe do centro fica o bairro informal do Goto. Parte do lixo e esgotos dos quase 12 mil habitantes dessa localidade vão parar ao rio. A tão sonhada área verde poderá nunca existir.
Foto: DW/J. Beck
Recolha do lixo com carrinhos de mão
Com a ajuda da agência alemã do desenvolvimento GIZ, a Beira implantou um sistema de recolha de lixo no bairro do Goto. Até agora, os moradores tinham que levar o lixo para os arredores do bairro, para depositá-lo em contentores próprios. Agora, funcionários munidos de carrinhos de mão vão até às ruas estreitas do bairro e recolhem-no. O objetivo é que menos lixo vá parar ao rio.
Foto: DW/J. Beck
Adaptação às alterações climáticas, saúde e parque
No entanto, ainda é difícil imaginar como o Chiveve estará após a finalização do projeto em 2016. Se tudo correr bem, a Beira estará mais preparada para lidar com as mudanças climáticas e sofrerá menos com doenças como a malária. Além disso, o centro seria mais bonito com áreas arborizadas e um parque em torno do Chiveve.