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COP26: Transição energética vai demorar anos em Angola

Lusa
30 de outubro de 2021

Câmara Africana de Energia (CEA) defende que a transição energética tem de levar em conta as necessidades de África, e aponta Angola como exemplo. Afirmações antecedem Cimeira da ONU sobre alterações climáticas (COP26).

Ölproduktion in Angola
Exploração de petróleo em Angola (foto de arquivo).Foto: MARTIN BUREAU/AFP/Getty Images

Segundo o presidente da Câmara Africana de Energia (CEA), NJ Ayuk, por todo o continente africano, os países enfrentam o que chamou de "uma insistência dramática de vozes do Ocidente" para pararem as atividades de petróleo e gás e mudarem imediatamente para fontes de energia renovável.

Mas, para ele, "isso é impossível e prejudicial ao continente que menos contribui para a emissão de gases poluentes", disse.

"Se África for pressionada para cumprir os calendários externos relativos às alterações climáticas e não puder usar internamente os seus recursos de petróleo e gás, e tiver de mudar para as renováveis antes de estar pronta, isso criará um fardo financeiro injusto para os países africanos, para além de problemas económicos significativos", escreveu Ayuk.

As afirmações do presidente da CEA veem um dia antes da Cimeira da ONU sobre alterações climáticas (COP26), que se realiza a partir de amanhã (31.10), e tem como objetivo mais importante diminuir o aquecimento global.

Angola, "país rico em recursos"

Com mais de 1 milhão de barris bombeados todos os dias, 8 mil milhões de barris em reservas petrolíferas e 11 mil milhões de pés cúbicos de reservas de gás, "Angola é um país rico em recursos, convenhamos", escreve o presidente da organização destinada a promover os investimentos energéticos em África.

No texto, NJ Ayuk elogia o Governo pelas reformas que "preparam o caminho para a diversificação económica num contexto de transição para energias renováveis" e diz que "Angola tem uma oportunidade de mostrar ao mundo que os combustíveis fósseis podem desempenhar um papel significativo no caminho para a energia verde".

A utilização de gás natural como combustível de transição é defendida, mas "sem a energia do petróleo e gás para financiar as novas iniciativas, energias verdes, como a solar, correm o risco de falhar, prejudicando milhões de angolanos que já vivem em pobreza energética".

O país, aponta Ayuk, precisa de tempo, porque "não é realista pensar que ao limitar a produção de petróleo, Angola vai simplesmente adotar energia verde no dia a seguir porque o processo demora anos, se não décadas", avisa.

"Para a transição energética ser justa, Angola tem de ter tempo para capitalizar os esforços atuais, e tem de desenvolver a sua indústria de renováveis a uma velocidade que torne o país mais forte, fechar uma das principais fontes de receita não empurra Angola para as renováveis mais depressa, antes abranda o progresso porque o país fica sem capital para financiar essa iniciativa", conclui Ayuk.

Inicia-se este domingo, em Glasgow, a 26.ª cimeira das Nações Unidas sobre alterações climáticas (COP26).Foto: Scott Heppell/AP Photo/picture alliance

Cimeira da ONU sobre alterações climáticas (COP26)

Entretanto, milhares de especialistas, ativistas e decisores políticos reúnem-se a partir deste domingo (31.10), em Glasgow, na 26.ª cimeira das Nações Unidas sobre alterações climáticas (COP26), com o objetivo principal de travar o aquecimento do planeta. 

As alterações climáticas são, segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres, o maior problema da humanidade, e vão afetar dramaticamente o futuro se nada de substancial for feito.

As emissões de gases com efeito de estufa, que os países tentaram controlar no Acordo de Paris de 2015, mas que continuam a aumentar, estão já a afetar o clima e a natureza das mais diversas formas, segundo os cientistas.

Em África, as necessidades energéticas estão estimadas em 700TW (terawatts), o que é 4 mil vezes mais do que os 175GW (gigawatts) de capacidade eólica e solar que o mundo inteiro adicionou em 2020, por isso "África não se pode industrializar recorrendo apenas à energia solar e eólica", apontam os economistas.

Dos 1,3 mil milhões de africanos, 600 milhões não têm acesso à eletricidade, e a Agência Internacional da Energia estima que o número suba 30 milhões devido à pandemia de Covid-19.

Há 48 países na África subsaariana, excluindo a África do Sul, que emitem apenas 0,55% das emissões de CO2, mas sete dos 10 países mais vulneráveis às alterações climáticas estão nesta região.

Também o diretor executivo do Centro Global para a Adaptação, Patrick Verkooijen, avisou que as alterações climáticas implicam uma pressão negativa sobre os 'ratings' dos países africanos, aumentando os custos do financiamento internacional para o desenvolvimento destes países.

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