O Governo cabo-verdiano colocou de quarentena a ilha da Boavista, após confirmar primeiro caso de Covid-19. O Executivo exorta a população a obedecer as instruções para que o país vença a “guerra” contra o coronavírus.
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Após uma reunião do gabinete de crise, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva anunciou que a ilha da Boavista vai ficar em quarentena nas próximas duas semanas, para evitar situações de contágio. Durante esse espaço de tempo, ninguém poderá entrar ou sair da ilha.
O primeiro-ministro especificou os parâmetros: "Interdição de voos domésticos de e para a Boavista. Interdição de transporte de passageiros através de navios comerciais e de pesca. Exceção para situações sanitárias, evacuações de doentes e situações de emergência e de repatriamento".
Vão ainda ser encerrados "todos os serviços públicos e privados, empresas públicas e privadas, com exceção de farmácias e serviços públicos e privados de saúde, forças de segurança e serviços de proteção civil, serviços portuários e aeroportuários", disse o governante.
Primeira vítima é turista inglês
Os estabelecimentos comerciais de venda e abastecimento de bens alimentares, de higiene e limpeza, os serviços de entrega domiciliária de refeições, os postos de combustíveis e os bancos continuam, para já, de portas abertas.
Coronavírus em Cabo Verde: “Isto é uma guerra”
Cabo Verde confirmou na quinta-feira (19.03) à noite o primeiro caso do Covid-19 no país, doença causada pelo novo coronavírus que assola o mundo.
Segundo o ministro da Saúde, Arlindo do Rosário, trata-se de um turista de nacionalidade inglesa de 62 anos, que chegou à ilha no dia 9 de março e ao fim de sete dias iniciou um quadro respiratório com tosse e febre. "O quadro clínico é estável e encontra-se sob os cuidados da equipa da delegacia de saúde", disse o responsável.
"Nada de festas"
O turista inglês detetado com o coronavírus obrigou que os 850 hóspedes do hotel fossem colocados imediatamente de quarentena. Até agora as autoridades não constaram nenhum caso suspeito entre as pessoas que se encontram no hotel, e afirmam ter adotado todas as medidas de prevenção necessária de modo a reduzir o risco de transmissão e de propagação do vírus.
O primeiro-ministro pediu a população que adote medidas de distanciamento social.
"Nada de cumprimentar com beijos, apertos de mãos e abraços. Nada de festas, idas ao mar ou outras situações de ajuntamento de pessoas. Este não é o momento para isso.
Fiquem em casa", disse Correia e Silva, que explicou que o combate da pandemia é uma guerra: "Na guerra as pessoas cumprem as ordens. Esta guerra ganha-se com o comportamento e a mudança de hábitos de cada pessoa e cada família", disse o governante.
Marginalização: Onde vivem os afrodescendentes em Lisboa
Em Lisboa, vivem dispersas várias comunidades, entre as quais a africana e de afrodescendentes. Ao longo dos anos, foram submissas a uma posição social que contribuiu para a sua marginalização.
Foto: DW/J. Carlos
O caso extremo da Jamaica
Jamaica é um exemplo de marginalidade no Vale de Chícharros, situado no Seixal, no distrito de Setúbal. "As condições são incríveis. Nem se acredita", lamenta a arquiteta italiana, Elena Taviani. O realojamento das famílias, de acordo com a autarquia local, ficará completo em dezembro, antecipando o calendário para a sua conclusão em 2022. Aqui vai nascer um parque urbano e uma zona comercial.
Foto: DW/J. Carlos
Mapeamento dos bairros
A arquiteta italiana Elena Taviani decidiu fazer o mapeamento dos bairros residenciais onde é assinalável a presença de africanos e afrodescendentes para avaliar o índice de marginalização no espaço urbano na Área Metropolitana de Lisboa. O estudo em curso pretende mostrar que tais comunidades foram "empurradas" pelas estruturas do poder a ocupar uma posição marginal em Lisboa.
Foto: DW/J. Carlos
"6 de maio" em fase de extinção
No bairro "6 de maio", na Damaia, também construído por imigrantes africanos, ainda restam estruturas num raio de dois quilómetros. A forma como foram realizadas as demolições e o realojamento das pessoas que ali moravam ainda estão a ser objeto de grande debate e conflito entre a população e a Câmara Municipal.
Foto: DW/J. Carlos
Cova da Moura e o estigma da criminalidade
A Cova da Moura, no concelho da Amadora, mantém o seu traçado arquitetónico peculiar, onde é muito forte a identidade cultural africana, em particular a cabo-verdiana. Um dos bairros informais outrora rotulado de "problemático" pela imprensa "é um dos sítios onde as pessoas ainda evitam ir pelo seu forte estigma de negatividade e criminalidade", refere Elena Taviana.
Foto: DW/J. Carlos
Sinais de degradação no Bairro Amarelo
No Monte da Caparica, em Almada, fica o Bairro Amarelo. O também conhecido Bairro do Pica Pau Amarelo acolheu grupos de pessoas oriundas dos PALOP que viviam em barracas espalhadas pelo município. O bairro está minimamente dotado de infraestruturas sociais, mas notam-se sinais de degradação dos edifícios e falta de higienização nalgumas das áreas circundantes e do interior.
Foto: DW/J. Carlos
Protestos por uma melhor habitação
Ricardina Cuthbert, do precário Bairro da Torre em Camarate (Sacavém), é uma das vozes que, desde 2012, tem reclamado melhores condições de habitação para cerca de 40 famílias que lá vivem. "Tem sido um processo muito lento", lamenta a dirigente da Associação Torre Amiga.
Foto: DW/J. Carlos
Trajetória espacial dos afrodescendentes
Elena Taviani quer aprofundar o estudo sobre esses bairros para a sua tese de doutoramento a apresentar, em 2021, no Gran Sasso Science Institute (Itália). Em junho, a arquiteta publicou uma análise relativa à trajetória espacial dos afrodescendentes na revista científica de Estudos Urbanos "Cidades, Comunidades e Territórios", editada pelo Instituto Universitário de Lisboa.
Foto: DW/J. Carlos
Mouraria em transição
A Mouraria, onde vive Taviani com o marido cabo-verdiano e a filha, está numa fase de profunda renovação por força da especulação imobiliária. No passado, tinha o estereótipo de um lugar central, mas degradado, com rendas muito baixas, o que atraiu muitos imigrantes, entre os quais africanos. De acordo com a sua pesquisa, cerca de 25% dos que moram em Mouraria são originários dos PALOP.
Foto: DW/J. Carlos
Uma das zonas de referência
Apesar da inflação dos preços provocada pela valorização urbana e pelo turismo, o bairro da Mouraria ainda tem alguma presença de africanos e afrodescendentes. Ainda antes dos asiáticos, introduziram aqui o comércio de produtos oriundos de África, acabando por ser hoje uma zona de referência na capital para negócios e para quem quer fazer compras ou procurar gastronomia dos países de origem.
Foto: DW/J. Carlos
Sem razões de queixa
Januário morava numa barraca em Algés. Veio para Portugal com 16 anos e fixou-se na Outurela quando tinha 39 anos de idade. Natural de Cabo Verde, ele está em Portugal há 45 anos, já com nacionalidade portuguesa. Gosta do bairro e do convívio entre as pessoas. Os transportes funcionam bem, tem autocarros à porta. Não tem razões de queixa.
Foto: DW/J. Carlos
O bom exemplo de Outurela
Outurela – onde existe uma forte comunidade cabo-verdiana – é considerado "um caso bem sucedido" no âmbito do programa de realojamento da Câmara Municipal de Oeiras. "Os moradores dizem que tiveram sorte de serem realojados ali", afirma Elena Taviani, que menciona também o Casal da Mira, na Amadora, como um sítio onde as coisas vão melhorando, apesar do forte estigma negativo.
Foto: DW/J. Carlos
Arte urbana na Quinta do Mocho
A Quinta do Mocho, em Loures, passou a designar-se Terraços da Ponte, depois de construído. É uma das "ilhas" com grandes problemas de marginalidade. O bairro, que sempre teve uma imagem negativa, foi transformado na maior galeria de arte urbana a céu aberto da Europa com mais de cem grafittis nas suas fachadas cegas. Essa é uma tentativa de criar um novo pólo de atração turística.