Detetado na vizinha África do Sul, o vírus começa a agitar os moçambicanos. Governo de Moçambique e instituições de saúde desdobram-se em esforços para dissipar o medo, o pânico e a desinformação sobre a Covid-19.
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Em Moçambique, o novo coronavírus está a criar medo e desinformação, apesar de nenhum caso ter sido ainda detetado no país. A agitação surge pelo facto de haver já casos confirmados na vizinha África do Sul, um país onde muitos moçambicanos fazem transações comerciais diárias.
Alguns cidadãos moçambicanos nem sabem por onde deverão começar para lidar com a Covid-19, caso a doença chegue a Moçambique. "É uma preocupação para nós a partir do momento que se falou do coronavírus", afirma um cidadão.
"Medo tenho, mas o que fazer se o meu trabalho é transportar pessoas e nem sei quem está contaminado e quem não está", afirmou um motorista de Maputo.
Moçambique: Início de pânico devido ao coronavírus?
O Ministério da Saúde de Moçambique e outras instituições ligadas ao setor, como o Instituto Nacional de Saúde (INS) e a Cruz Vermelha, têm estado no terreno para explicar à população como lidar com a pandemia.
O ministro da Saúde moçambicano, Armindo Tiago, pediu esta quarta-feira (11.03) apoio financeiro aos parceiros para contornar a epidemia, caso sejam confirmados os primeiros casos.
"Queremos trabalhar todos juntos, cada um com a sua respetiva ação. Assim, poderemos garantir que o coronavírus possa ser controlado de forma adequada", declarou.
Alerta máximo
O Governo moçambicano decretou o alerta máximo por causa de casos de infeção pelo coronavírus detetados na vizinha África do Sul, a 5 de março. Caso haja casos confirmados, o país vai precisar de cerca de cinco mil milhões de dólares, que vão ser disponibilizados pelos parceiros.
Moçambique em alerta para combater o coronavírus
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"É acreditar no papel dos parceiros. Nós, do Ministério da Saúde, reconhecemos as dificuldades que o país tem em termos de capacidade. Sozinhos não podemos ir longe", acrescentou Armindo Tiago.
O Instituto Nacional de Saúde orientou uma formação a membros da Cruz Vermelha de Moçambique para sensibilizar a população.
"Na disseminação das mensagens corretas, mais apropriadas e precisas sobre o coronavírus, as comunidades ficam devidamente informadas e podem tomar as medidas de prevenção mais apropriadas relativamente a esta situação", disse Rufino Gujamo, diretor de formação do INS.
Alguns cidadãos difundem nas redes sociais informações falsas, alegando que há casos da doença em Moçambique. Outras informações são relativas a alimentos que supostamente ajudariam a prevenir a doença.
As informações sobre como prevenir a Covid-19 difundidas pelo Governo incidem na lavagem das mãos, na necessidade de tapar a boca ao tossir e em evitar locais com grande aglomeração de pessoas.
Perigos da ignorância: Os presidentes africanos e a negação da SIDA
Saber é poder. Por isso o lema do Dia Mundial da SIDA 2018 é "conhece o teu estado". Estar ciente da doença torna mais fácil combatê-la. Mas nem todos os presidentes africanos entenderam a ameaça que o vírus representa.
Foto: picture-alliance/dpa
Negação fatal
O ex-Presidente sul africano Thabo Mbeki (1999 - 2008) ficou para a história como o principal negacionista do HIV/SIDA. Contrariando a evidência científica, Mbeki insistiu que o HIV não causava SIDA e mandou que a doença fosse tratada com ervas. Analistas acreditam que isto custou a vida a 300.000 pessoas. Há quem exija que o ex-Presidente seja julgado por crimes contra a humanidade.
Foto: Getty Images/AFP/G. Khan
O Presidente curandeiro
Em 2007, o então Presidente da Gâmbia, Yayah Jammeh (1996 - 2017) obrigou pacientes da SIDA a submeter-se a uma cura que dizia ter pessoalmente desenvolvido. A cura consistia de uma mistura de ervas. Um número desconhecido de pessoas morreu. Jammeh, que dizia ter poderes místicos, é o primeiro Presidente africano a ser julgado por violação dos direitos de pessoas com HIV/SIDA.
Foto: picture alliance/AP Photo
Duche como prevenção
Outro Presidente famoso pelas suas declarações inconvencionais sobre o HIV/SIDA é Jacob Zuma da África do Sul (2009 - 2018). Durante o processo por violação de uma mulher HIV-positiva em 2006, Zuma disse que não correu perigo de contágio apesar de não ter usado preservativo, porque "tomou um duche a seguir".
Foto: Reuters/N. Bothma
Sem preservativo?
O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni , também levou algum tempo a compreender a dimensão do problema. Ainda em 2004, numa conferência internacional na Tailândia dedicada ao combate da SIDA, Museveni minimizou a eficácia de preservativos alegando, entre outras coisas, que o seu uso contrariava algumas práticas sexuais africanas. Os seus comentários foram recebidos com risadas pela audiência.
Foto: picture-alliance/dpa/I. Langsdon
Um imposto para o tratamento
Algumas medidas tomadas por líderes africanos para combater a doença foram mal recebidas. Em 1999, o Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe (1987-2017) introduziu um imposto destinado a apoiar os órfãos e pacientes do HIV/SIDA, que provocou protestos. O imposto ainda existe. Mugabe admitiu que membros da sua família foram afetados e chamou à infeção "um dos maiores desafios da nação".
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Um grande exemplo
As possíveis consequências económicas, por exemplo, para o turismo, fizeram com que muitos líderes africanos mostrassem relutância em aceitar a dimensão da ameaça. Mas Kenneth Kaunda, o Presidente da Zâmbia (1964-1991), já em 1987 anunciou a morte de um filho com SIDA. Em 2002 foi o primeiro Presidente africano a fazer um teste de SIDA. Até hoje continua a lutar pela erradicação da doença.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Mwape
Testes compulsórios
A luta contra a SIDA do sucessor de Kaunda, Edgar Lungu, também causou consternação. Lungu quis introduzir testes compulsórios na Zâmbia em 2016. Mas protestos no país e no exterior obrigaram-no a recuar. Sobretudo quando a Organização Mundial de Saúde criticou o propósito e deixou claro que esses testes só servem para aumentar o estigma do HIV/SIDA.
Foto: Imago/Xinhua
Por uma África sem HIV
Depois de abandonar o cargo de Presidente do Botswana, Festus Mogae (1998-2008) lançou a organização "Campeões por uma geração sem SIDA", à qual se juntaram numerosos ex-chefes de Estado e outras personalidades influentes. Juntos tentam pressionar governos e parceiros a investir mais na prevenção da SIDA.