Alguns estudantes dos PALOP que vivem no berço do coronavírus, na China, sentem-se abandonados pelas suas embaixadas. Mas os que estão em Pequim são devidamente apoiados, dizem.
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"Queremos que nos ajudem a sair desta cidade, mesmo que seja para outra cidade aqui da China. Só queremos sair daqui", conta desesperada Jéssica Mendes Silva. A estudante guineense vive no epicentro do coronavírus, a cidade de Wuhan, onde frequenta o terceiro ano do curso de tecnologia.
"Nem dá para receber comida. Não há comida. Para comprar comida aqui é difícil. Há uma semana que o meu pai não consegue mandar dinheiro porque os bancos estão fechados. Realmente estamos aflitos", diz em entrevista à DW África.
Na capital da província de Hubei, no centro da China, há três estudantes guineenses. Guilende Pereira é uma delas e está igualmente alarmada: "Olha, aqui a situação está muito crítica, não sabemos o que fazer. Não tenho muito o que dizer, mas estamos muito mal aqui."
Em Pequim a situação é menos complicada
Quem vive fora desta região crítica não está tão alarmado assim. Há muita preocupação, sim, mas a vida ainda é levada com alguma normalidade, conta-nos o estudante angolano Arnaldo Dala, que frequenta o curso de engenharia em Pequim: "Por eu estar em Pequim, que é a capital, o vírus não se alastrou de tal forma que os mercados tenham escassez de comida. Ainda há alimentos em supermercados e mercados informais."
O moçambicano Francisco Sitói Jr. também vive na capital chinesa. O estudante diz que está de férias, que deveriam terminar a 24 de fevereiro, mas, por causa da doença, as autoridades chinesas adiaram o recomeço das aulas para uma data a anunciar.
A rotina de Jr. mudou muito desde o dia 20 de janeiro, quando começou a haver muita informação acerca do coronavírus.
"A situação que estamos a viver agora é de pânico, está todo o mundo com medo desse coronavírus, que tem vindo a matar e a contaminar cada vez mais pessoas - até hoje são cerca de 4.000. Então, a situação é de pânico, alerta total. A rotina mudou muito, digamos que estamos numa prisão domiciliar, somos até impedidos de nos movimentar."
A maioria dos estudantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), está na China no âmbito de parcerias entre os seus países e o gigante asiático, beneficiando de bolsas de estudo.
"Embaixada de Angola devia olhar pelos estudantes em Wuhan"
Neste momento crítico, que apoio recebem os estudantes das suas embaixadas?
"Não tenho muito a dizer a cerca da embaixada, porque faz pouco tempo que recebi uma chamada deles a perguntar como eu estava e como se encontravam também os outros alunos da mesma faculdade que eu. Perguntaram-me coisas básicas, se estava a faltar-me alguma coisa", começa por responder Arnado Dala, de Angola.
O estudante recomenta ainda: "Se for para fazer alguma coisa [a mais], penso que a embaixada devia olhar para os estudantes que estão na cidade mais assolada pelo vírus. Que eu saiba, a embaixada está a fazer tudo o que é possível, consoante as suas limitações, vendo que estamos num outro país, apesar de que eles podiam fazer mais, como os outros países estão a fazer: estão a tirar os seus concidadãos dos lugares onde o vírus é mais alarmante".
E Dala assegura: "Até agora tenho conhecimento que nenhum angolano que se encontra naquela cidade foi infetado pelo coronavírus".
Coronavírus: Estudantes dos PALOP em pânico em Wuhan
Estudantes em permanente contacto com a embaixada de Moçambique
Também os moçambicanos não se sentem desamparados, pelo menos os que não estão em Wuhan.
Francisco Jr. conta o que a embaixada moçambicana tem feito pelos seus concidadãos: "Apoio temos tido, em termos de informação. A embaixada disponibilizou até os números [de telefone] para que, em caso de emergência, a gente possa contactar, nesse caso o número das autoridades chinesas. Então, temos estado em permamente contacto com a embaixada, com quem temos falado sobre como podemos ultrapassar essa fase. E tem havido muita informação".
Pelo adiantado da hora na China, não foi possível falar com nenhuma embaixada dos PALOP, mas a DW conta fazê-lo em breve.
Há na China aproximadamente 475 estudantes moçambicanos, 30 dos quais em Wuhan, perto de 500 estudantes angolanos e cerca de 350 estudantes cabo-verdianos, 16 deles em Wuhan. Quanto aos estudantes são-tomenses, não deverão ultrapassar os 200.
Ébola em Lagos - entre o pânico e a normalidade
A Nigéria é o país economicamente mais forte de África. Sua capital económica, uma metrópole de negócios. Em julho, foram identificados os primeiros casos de ébola em Lagos. Como a megalópole lida com o vírus mortal?
Foto: DERRICK CEYRAC/AFP/Getty Images
Como a megacidade da Nigéria lida com o vírus mortal?
A Nigéria é o país economicamente mais forte de África. Sua capital económica, uma metrópole de negócios. Em julho, foram identificados os primeiros casos de ébola em Lagos. Como a megalópole lida com o vírus mortal?
Foto: DERRICK CEYRAC/AFP/Getty Images
Verificação de febre antes das compras
Na entrada das lojas, funcionários prontos para medir a febre. Isto ainda é comum em muitas lojas em Lagos, embora até agora nenhum novo caso de ébola tenha sido relatado na megacidade. No entanto, o surto de ébola deixou muitas pessoas cautelosas.
Foto: DW/A. Kriesch
Metrópole em perigo
Cerca de 21 milhões de pessoas vivem em Lagos, a maior cidade da África. Os especialistas haviam alertado que o vírus poderia se espalhar rapidamente na populosa metrópole. "Imaginem se um vendedor de bilhetes de um dos nossos microônibus tivesse ébola ...", escreveu um usuário preocupado no Twitter.
Foto: DW/A. Kriesch
"Não há razão para pânico"
As autoridades teriam tudo sob controle, diz Yewande Animashaun -Adeshina durante uma visita ao hospital no continente. Lá, são tratados todos os pacientes de ébola da cidade. A consultora de saúde de Lagos estava preocupada que uma grande parte dos funcionários do hospital pudesse se recusar a tratar dos infectados pelo vírus mortal.
Foto: DW/A. Kriesch
Vírus mortal no ambiente de trabalho
"É claro que estamos com medo aqui, não há dúvida", diz Esther Oduwole. A cozinheira prepara a comida para os cuidadores e pacientes com ébola. Muitos funcionários do hospital não vieram mais trabalhar depois da primeira internação de um paciente com ébola, conta ela.
Foto: DW/A. Kriesch
Esclarecimento graças à linha SOS Ébola
Mas há também voluntários que se engajam na luta contra o ébola. A estudante de medicina Hubaidat Olawunmi Tobun recebe até 70 chamadas diárias pela SOS Ébola, uma linha telefônica gratuita para esclarecimentos sobre o ébola. A estudante aconselha os preocupados nigerianos. Dois casos de ébola foram detectados por meio da hotline. "Meu país precisa de mim agora", diz. "Quero elucidar as pessoas."
Foto: DW/A. Kriesch
Curandeiros, boatos e os eleitos de Deus
Prestar esclarecimentos sobre o ébola é importante, porque a superstição é generalizada. O pastor Golden Ozor fez uma bebida em sua comunidade, nos arredores de Lagos. O líquido protege contra o ébola, afirmou. "Deus revelou-me a receita e vou agora espalhá-la por todo o país", disse o clérigo. Recentemente, 20 fiéis participaram da primeira degustação.
Foto: DW/A. Kriesch
Lavar as mãos, em vez de superstição
Em frente à igreja, está a barraca de comércio de Emmanuel Abioli. Ele só pode sacudir a cabeça. "É claro que o ébola é perigoso, porque ainda não existem vacinas", diz o jovem. Ele baseia-se na medida de proteção mais simples e importante contra o vírus mortal: lavar as mãos com sabão frequentemente.
Foto: DW/A. Kriesch
Rumores mortais
A vendedora da barraca ao lado lida com a situação de uma forma bastante diferente. "Não existe ébola", diz ela. "E se existir, apenas os infiéis podem ser infectados." A superstição é um problema na luta contra a doença, em toda a África Ocidental. Quando, na Nigéria, se propagou o boato de que a água salgada ajuda a combater o vírus do ébola, duas pessoas morreram por overdose de sal.
Foto: DW/A. Kriesch
Sanduíche com mensagem
Por isso, as autoridades penduram faixas de advertência por toda a cidade, como aqui na frente de um restaurante. O governo de Lagos fez do extermínio do vírus do ébola uma prioridade. Para tal, o Presidente do país, Goodluck Jonathan, disponibilizou cerca de nove milhões de euros provenientes do orçamento da Nigéria.
Foto: DW/A. Kriesch
Aeroporto em alerta
Um liberiano tinha introduziu o vírus do ébola na Nigéria, em julho. Ele desembarcou no aeroporto de Lagos gravemente doente e morreu pouco tempo depois. Os outros infectados tiveram contato direto ou indireto com o homem. As autoridades nigerianas receberam elogios internacionais por terem reagido rapidamente, monitorando e isolando essas pessoas.
Foto: DW/A. Kriesch
Lição aprendida?
A Nigéria pretende erradicar o vírus em breve. O dano na imagem já está lá. "Os investidores estrangeiros estão com medo, os hotéis estão vazios", observou o empresário Kasumu Garda (foto). O país aprendeu muito com a ameaça. "Finalmente nos unimos para resolver um problema – esta deve ser também a nossa estratégia na luta contra o grupo terrorista Boko Haram", disse Garda.