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Corpos queimados em Moçambique: Silêncio da SAMIM criticado

António Cascais
5 de abril de 2023

O Centro para a Democracia e Desenvolvimento critica a "demora" do inquérito ao caso de um vídeo que mostra supostos soldados sul-africanos a queimar cadáveres de insurgentes na província mocambiçana de Cabo Delgado.

Foto: ALFREDO ZUNIGA/AFP

"A demora na conclusão da investigação já começa a levantar preocupações sobre a seriedade com que a SAMIM [Missão Militar da África Austral em Moçambique] está a tratar do assunto", refere a organização não-governamental (ONG) moçambicana, em nota distribuída à comunicação social.

Em entrevista à DW África, o diretor do  Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, mostra-se preocupado com o silêncio da SAMIM, assim como dos governos sul-africano e moçambicano sobre o caso.

Cadáveres queimados: CDD critica silêncio da SAMIM

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DW África: Antes de mais, talvez seja necessário explicar o que é que se vê concretamente no vídeo em questão?

AN: São soldados com bandeira sul-africana, aparentemente numa missão da SAMIM em Cabo Delgado, num ato que, segundo a nossa investigação, aconteceu em finais de novembro do ano passado, e onde soldados com bandeira sul-africana atiram corpos contra uma fogueira enormíssima. Isto é preocupante, sobretudo porque há um consenso quanto às causas domésticas para este conflito e isto, a nosso ver, pode exacerbar os fatores internos.

DW África: O que está a dizer aplica-se, mesmo tratando-se de terroristas?

AN: Até podem ser corpos de extremistas violentos, mas podem ser jovens recrutados localmente contra a sua vontade. E isto pode, naturalmente, provocar esta exacerbação de radicalização junto dos outros jovens e ir contra os propósitos da missão da SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral] em Moçambique e da presença das tropas sul-africanas em particular.

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DW África: Na vossa opinião, exige-se uma investigação independente?

AN: Desde essa altura vimos chamando a atenção para a urgente necessidade de um esclarecimento através de uma investigação independente. E dissemos na altura que não deviam ser as tropas sul-africanas a fazerem investigação de si próprias. Estranhamos e condenamos o silêncio do Estado moçambicano perante tamanha barbaridade e violação grave de direitos humanos, algo que até hoje, incompreensivelmente e condenavelmente se mantém o silêncio das autoridades moçambicanas.

DW África: O que é que a SAMIM tem vindo a alegar? Algum tipo de esclarecimento até agora?

AN: A SAMIM vem dizendo que está a investigar, mas ainda não saiu nenhum dado preliminar que indica que essa investigação esteja a acontecer. E condenamos agora esta demora, esta despreocupação em esclarecer algo que pode estar a denunciar algo maior da forma como as autoridades militares se estão a comportar em Cabo Delgado, num quadro onde o controlo, a fiscalização sobre a ação militar parece não estar a acontecer, dando lugar à impunidade da ação militar que claramente vai exacerbar, como já dissemos, eventuais focos de radicalização dos jovens.

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