Foi assinado o acordo de financiamento de longo prazo para o desenvolvimento e operação do corredor do porto moçambicano de Nacala. Os governantes prometem benefícios, mas a população local teme os riscos.
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As empresas e os financiadores do Corredor Logístico de Nacala, no norte do país, comprometeram-se esta quinta feira (30/11), em Maputo, a disponibilizar cerca de 2,7 mil milhões de dólares para o financiamento do projeto. O corredor é um projeto que envolve a multinacional brasileira Vale, a japonesa Mitsui e a empresa pública moçambicana de Caminhos de Ferro.
O empreendimento faz parte de um projeto mais ambicioso, avaliado em cerca de cinco mil milhões de dólares, que compreende a construção de um porto de águas profundas em Nacala, ligado a uma linha férrea com cerca de 900 quilómetros. Esta ferrovia destina-se ao escoamento do carvão extraído da província de Tete.
O ministro moçambicano dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, disse esperar que com o novo financiamento o corredor logístico de Nacala conheça significativas melhorias. Acrescentou que o corredor deverá atingir brevemente a capacidade de 22 milhões de toneladas, contra as seis mil transportadas em 2016.
Promessa de desenvolvimento da região
Na cerimónia de assinatura dos contratos de financiamento do Corredor de Nacala, Carlos Mesquita sublinhou que o projeto deverá catapultar o desenvolvimento de Nacala e da região. Acrescentou que o Governo vai continuar a privilegiar as parcerias público-privadas: "Reiteramos o nosso cometimento e determinação na prossecução da criação de um ambiente atrativo de negócios, particularmente a criação e atualização da legislação sobre o investimento, a promoção do ambiente de paz, a redução da burocracia, entre outros”, disse o governante.
O representante da Vale, Alexandre Pereira, referiu que o projeto para além de permitir o escoamento do carvão da sua empresa, tem benefícios para as comunidades locais, como o transporte de passageiros e mercadorias. Apontou ainda que Moçambique é o maior destino de iniciativas de cooperação da Vale em África. A empresa tem no país cerca de quatro mil trabalhadores direta ou indiretamente ligados à organização, 94% dos quais são nacionais, enfatizou.
Nacala - MP3-Mono
Uma das queixas com que se tem confrontado a Vale nos locais de exploração do carvão na província moçambicana de Tete está relacionada à poluição ambiental. Mas Alexandre Pereira afirma: "Temos o compromisso com os impactos de nossas operações e de promover práticas sustentáveis ao longo de toda a cadeia de valor, compartilhando valores e atuando como cidadão corporativo responsável”.
Perigo para a saúde
Tete é uma região muito seca. Quando a terra é lavrada nas zonas mineiras o solo fica exposto podendo gerar poeira. Segundo o Presidente da Vale Moçambique, Marcio Godoy: "Cientes desse risco nós temos uma série de controles ambientais, como aspersão das vias e dos pontos chave onde pode haver geração de poeira, e com isso controlamos essas emissões de pó para que a operação seja sustentável”.
Ainda assim, a população local queixa-se de doenças provocadas pela poeira nos habitantes das comunidades vizinhas da mina de carvão. Marcio Godoy afirmou não ter conhecimento de uma relação direta entre as doenças e as operações da sua empresa: "Até porque nós iniciamos não há tanto tempo as operações. E como eu disse nós temos todos os controlos para mitigar esses impactos que a operação possa causar”.
O financiamento para o desenvolvimento e operação do corredor e do porto de Nacala conta com o financiamento da Japan Bank for International Cooperation (JBIC), da Nippon Export and Investment Insurance (NEXI), do Banco Africano de Desenvolvimento e da Agência Sul-africana de Crédito à Exportação (ECIC).
Os ciclistas do carvão de Sofala
Produzem-se diariamente mais de 15 toneladas de carvão vegetal em Sofala. Este é transportado de bicicleta para os clientes, percorrendo longas distâncias. O abate descontrolado de madeira está a causar desertificação.
Foto: Gerald Henzinger
Um ciclista de carvão
De distâncias que perfazem até cem quilómetros é transportado carvão de madeira, do interior, para segunda maior cidade moçambicana, a Beira. Este ciclista transporta cerca de 120 quilos de carvão que poderá vender por 650 Meticais (20 Euros).
Foto: Gerald Henzinger
A caminho
Os cerca de meio milhão de habitantes da Beira queimam diariamente 15 toneladas de carvão de madeira. O carvão vegetal é produzido no interior da província de Sofala e transportado de bicicleta até os clientes, o que representa um enorme esforço físico.
Foto: Gerald Henzinger
Bicicletas sobrecarregadas
Normalmente as bicicletas não oferecem lugar para mais de três sacos, se se quiser pedalar. Este transportador colocou seis sacos, ou seja cerca de 300 quilos de carvão, e empurra a bicicleta por detrás, guiando-a com duas cordas amarradas ao volante.
Foto: Gerald Henzinger
Pequenas reparações
As bicicletas usadas em Moçambique vêm habitualmente da Índia e têm uma qualidade duvidosa. Sob o peso do carvão as varetas das rodas partem com facilidade. As distâncias são muitas vezes tão grandes que dificilmente se fazem num dia, os ciclistas dormem por isso na berma da estrada.
Foto: Gerald Henzinger
Paisagem devastada
Não existe um verdadeiro controlo do desmatamento. No interior da Beira já quase não existem árvores. Quase todas elas foram abatidas e transformadas em carvão vegetal. O Governo, em colaboração com as autarquias, tenta travar a destruição ambiental. Agora cada aldeia tem uma cooperativa que distribui concessões aos produtores.
Foto: Gerald Henzinger
Desmatamento avança
Poucos produtores respeitam no entanto as normas. A erosão dos solos e a desertificação são as consequências do abate descontrolado.Torna-se cada vez mais difícil obter madeira para a produção. Não apenas devido aos pequenos produtores do negócio do carvão. Grandes empresas nacionais e internacionais, sobretudo chinesas, derrubam árvores e exportam os troncos.
Foto: Gerald Henzinger
Padre Emílio em Chissunguwe
O padre brasileiro Emílio Moreira defende os interesses dos produtores de carvão vegetal. A sua paróquia abrange as comunidades de Chissunguwe, Njangulo, Nhangau e Casa Partida. Estas comunidades situam-se entre 30 a 40 quilómetros da Beira. A imagem mostra uma visita do sacerdote à comunidade de Chissunguwe, na qual ele procura introduzir a plantação de legumes como alternativa ao carvão.
Foto: Gerald Henzinger
Lenha para carvão
Em lugares como Chissunguwe produz-se o carvão utilizado na Beira. Este monte de lenha arde já há alguns dias e deverá produzir três a quatro sacos de carvão, pesando 50 quilos. A lenha é recolhida a grande distância porque em Chissunguwe há anos que deixou de existir.
Foto: Gerald Henzinger
Nando - Produtor de carvão
Na localidade vizinha Njangulo ainda existe um pouco de floresta. Ali Nando produz o seu carvão vegetal. Desta pilha de lenha poderão resultar cerca de dez sacos de carvão.
Foto: Gerald Henzinger
Pilhas de lenha ardidas
Estas pilhas já arderam na totalidade e o proprietário aperta o último saco de carvão, que de imediato transportará de bicicleta para a Beira. A capital da província de Sofala é a maior cidade do centro de Moçambique e o maior mercado regional para o carvão vegetal.
Foto: Gerald Henzinger
A caminho dos clientes
Fontes de energia alternativas como gás ou electricidade não são acessíveis à maioria dos moçambicanos e, por isso, os produtores de carvão continuam a ter muita procura. Botijas de gás para cozinhar têm de ser importadas da África do Sul, isto apesar de Moçambique exportar gás para o país vizinho.
Foto: Gerald Henzinger
Pilhas de lenha nas serrarias chinesas
Desde o escândalo em torno da exportação de troncos inteiros por empresas chinesas, as mesmas começaram a trabalhar a matéria-prima em Moçambique. Desta forma, podem continuar a abater árvores e a exportar madeira. Os restos das serrarias são aproveitados pelos locais para a produção de carvão.