Costa do Marfim: Cinco mortos em protestos contra Ouattara
AFP | bd
15 de agosto de 2020
O balanço foi feito pelo Governo do país na sexta-feira (14.08) à noite, apelando à contenção dos manifestantes contra a decisão do chefe de Estado de disputar as presidenciais de outubro próximo.
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Pelos menos cinco pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas após três dias de violência nas ruas da Costa do Marfim, provocada pelos protestos contra a recandidatura, a um terceiro mandato, do Presidente do país, Alassane Ouattara.
Os protestos levaram a "muitos deslizes que causaram cinco mortos e 104 feridos", de acordo com uma declaração do Ministro da Segurança e Proteção Civil da Costa do Marfim, General Vagondo Diomandé.
"Dez polícias" estavam entre os feridos, segundo o ministro marfinense, que anunciou "um regresso à calma em todo o território nacional".
Mas, um relatório anterior de fontes de segurança e funcionários locais disse que seis pessoas tinham sido mortas durante a violência em Daoukro (centro), Bonoua (sul) e Gagnoa (oeste).
Quase 70 detidos
O ministro da Segurança e Proteção Civil da Costa do Marfim, General Vagondo Diomandé, referiu também que "68 pessoas foram detidas por perturbarem a ordem pública, incitando à revolta, à violência contra as forças da lei e da ordem e à destruição dos bens de outras pessoas", durante estas manifestações.
Anteriormente, a polícia tinha anunciado uma morte em confrontos em Gagnoa, local de nascimento do antigo presidente da Costa do Marfim Laurent Gbagbo. "Lamentamos um morto em confrontos entre opositores a favor e contra", disse o presidente da câmara de Gagnoa, Yssouf Diabaté, à AFP.
"Houve ferimentos em ambos os lados", continuou Diabaté, dizendo que "a calma voltou".
A violência continuou em Daoukro, no centro do país, matando mais uma pessoa, disse à AFP uma fonte de segurança.
A morte eleva para quatro o número de pessoas mortas em confrontos neste reduto do ex-presidente Henri Konan Bédié, também candidato à presidência.
O Presidente Alassane Ouattara, 78 anos, eleito em 2010 e reeleito em 2015, anunciou pela primeira vez em março que iria entregar a presidência ao primeiro-ministro Amadou Gon Coulibaly. Mas este último morreu a 8 de julho de um ataque cardíaco. Após a sua morte, Alassane Ouattara anunciou a 6 de agosto que iria finalmente concorrer a um terceiro mandato.
A Constituição limita os mandatos presidenciais a dois, mas a oposição e o Governo discordam sobre a interpretação da reforma adotada em 2016: os apoiantes de Ouattara afirmam que o mandato foi reposto a zero, enquanto os seus opositores consideram uma terceira candidatura inconstitucional.
O antigo Presidente Henri Konan Bédié disse recentemente que uma candidatura de Ouattara "seria ilegal". Com 86 anos, ele próprio é o candidato nomeado pelo principal Partido Democrático da Costa do Marfim (PDCI) da oposição.
A tensão política na Costa do Marfim tem vindo a aumentar à medida que se aproximam as eleições presidenciais, que terão lugar 10 anos após a crise pós-eleitoral de 2010-2011, de que resultaram 3.000 mortos.
Os aeroportos dos presidentes em África
São uma espécie de monumento auto-instituído: vários líderes africanos construíram os seus próprios aeroportos em locais remotos. Hoje, são estruturas esquecidas, paralisadas ou dão grandes prejuízos.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
O aeroporto esquecido de uma capital esquecida
Nos anos 60, o Presidente Félix Houphouët-Boigny decidiu fazer da sua cidade natal, Yamoussoukro, a capital da Costa do Marfim. Construiu avenidas imponentes, uma enorme igreja, vários edifícios e um aeroporto. Tanto a cidade como o Aeroporto Internacional de Yamoussoukro acabaram por cair na insignificância. Hoje em dia, o aeroporto está praticamente abandonado.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
Perdido na selva
Também Mobuto Sese Seko, ex-Presidente da RDC, se instalou com toda a pompa e circunstância na sua cidade natal, Gbadolite, com três palácios e edifícios representativos. Há também um aeroporto, rodeado por floresta tropical. Não há indústria nem turismo nas redondezas e a capital, Kinshasa, fica a 1400 quilómetros. Mobutu e a mulher gostavam de voar de Gbadolite para Paris – num Concorde alugado.
Foto: Getty Images/AFP/J. Wessels
O ditador com a sua própria pista de aterragem
Mobutu foi também recebido pelo ditador da vizinha República Centro-Africana, Jean-Bedel Bokassa (segundo à direita). Na residência de Bokassa, a cerca de 80 quilómetros de distância, havia também uma pista de aterragem para passageiros. Há muito que Bokassa morreu e a sua pista desintegra-se – tal como os seus palácios.
Foto: Getty Images/AFP/OFF
Boas-vindas a um convidado alemão
Mesmo antes de se tornar um aeroporto internacional - a mando do antigo Presidente Daniel Arap Moi - o aeródromo de Eldoret, no centro-oeste do Quénia, recebia o chanceler Helmut Kohl, em 1987. Eldoret é o centro económico dos Kalenjin – o grupo étnico do Presidente Moi. Apesar do nome, o aeroporto serve apenas para voos domésticos.
Foto: Imago Images/D. Bauer
O aeroporto inviável do ex-Presidente da Nigéria
O ex-Presidente da Nigéria, Umaru Yar'Adua, também converteu o aeroporto da sua cidade natal, Katsina, em aeroporto internacional durante o seu mandato (2007-2010). Mas o projeto preferido do antigo Presidente, que morreu em 2010, não é rentável. O Governo está a ponderar a entrada da autoridade aeronáutica nacional na equipa de gestão do aeroporto de Katsina.
Foto: Getty Images/AFP/P. Utomi Ekpei
Rumo a Chato?
A companhia aérea tanzaniana Precision Air poderá voar em breve para Chato, cidade natal do Presidente John Magufuli. O chefe de Estado quer expandir este aeroporto para impulsionar o turismo. Mas uma comissão parlamentar apela à renovação das infraestruturas já existentes em vez de novos projetos. Apenas 5 dos 58 aeroportos e pistas de aterragem do país contribuem para o PIB, dizem os deputados.