Costa do Marfim: Ex-rebelde mantém candidatura presidencial
Lusa | ms
17 de setembro de 2020
O ex-chefe rebelde e antigo primeiro-ministro da Costa do Marfim Guillaume Soro mantém-se como candidato às presidenciais de outubro de forma "irrevogável". Candidatura foi rejeitada pelo Conselho Constitucional.
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"A minha candidatura está fechada, é irredutível e irrevogável" disse o antigo presidente da Assembleia Nacional da Costa do Marfim. "A Costa do Marfim está à beira do abismo", disse ainda Guillaume Soro.
As eleições presidenciais na Costa do Marfim estão marcadas para o próximo dia 31 de outubro. Na terça-feira (15.09), o Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos determinou que a Costa do Marfim admita a candidatura às eleições presidenciais de Guillaume Soro.
O tribunal, com sede em Arusha, na Tanzânia, "ordena ao Estado que tome todas as medidas necessárias para remover imediatamente os obstáculos que impedem Guillaume Soro de gozar dos seus direitos de eleger e de ser eleito especialmente durante as eleições presidenciais de outubro de 2020", de acordo com uma ordem publicada na página oficial da instituição.
Guillaume Soro foi excluído pelo Conselho Constitucional das eleições presidenciais de 31 de outubro na Costa do Marfim por ter sido condenado pela justiça marfinense, em abril, a 20 anos de prisão por desvio de fundos públicos e branqueamento de capitais.
Dias antes do julgamento, o Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos tinha ordenado a suspensão do mandado judicial contra Guillaume Soro, que vive exilado em Paris, e decretado a libertação de 19 dos seus apoiantes e familiares, que estavam detidos desde dezembro.
Rejeitadas 40 candidaturas
Na segunda-feira, o Conselho Constitucional da Costa do Marfim rejeitou 40 das 44 candidaturas para as eleições presidenciais de outubro, incluindo as de Soro e do antigo Presidente Laurent Gbagbo. No entanto, validou a candidatura a um terceiro mandato, considerado inconstitucional pela oposição, do presidente cessante, Alassane Ouattara.
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Nas suas declarações de hoje, a partir de Paris, Soro apelou à oposição marfinense, incluindo os ex-presidentes Laurent Gbagbo e Henri Konan Bédié, para se unirem, defendendo a mediação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) "com vista à obtenção de eleições transparentes".
"Não faz sentido manter as eleições do dia 31. Participar nelas seria aceitar o golpe de Estado institucional de Alassane Ouattara", sustentou. "Não pode haver eleições presidenciais na Costa do Marfim. A eleição [do dia 31] não terá lugar", insistiu.
Pressionado com perguntas para descobrir o que queria dizer, recusou-se a fazer "ficção política", dizendo apenas que a oposição deveria "unir-se para deter Ouattara na sua louca aventura".
"Não irei a eleições enquanto Ouattara for candidato, o que validaria a falsificação", assegurou. Além disso, Guillaume Soro prometeu regressar à Costa do Marfim, sem fornecer mais detalhes.
Os aeroportos dos presidentes em África
São uma espécie de monumento auto-instituído: vários líderes africanos construíram os seus próprios aeroportos em locais remotos. Hoje, são estruturas esquecidas, paralisadas ou dão grandes prejuízos.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
O aeroporto esquecido de uma capital esquecida
Nos anos 60, o Presidente Félix Houphouët-Boigny decidiu fazer da sua cidade natal, Yamoussoukro, a capital da Costa do Marfim. Construiu avenidas imponentes, uma enorme igreja, vários edifícios e um aeroporto. Tanto a cidade como o Aeroporto Internacional de Yamoussoukro acabaram por cair na insignificância. Hoje em dia, o aeroporto está praticamente abandonado.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
Perdido na selva
Também Mobuto Sese Seko, ex-Presidente da RDC, se instalou com toda a pompa e circunstância na sua cidade natal, Gbadolite, com três palácios e edifícios representativos. Há também um aeroporto, rodeado por floresta tropical. Não há indústria nem turismo nas redondezas e a capital, Kinshasa, fica a 1400 quilómetros. Mobutu e a mulher gostavam de voar de Gbadolite para Paris – num Concorde alugado.
Foto: Getty Images/AFP/J. Wessels
O ditador com a sua própria pista de aterragem
Mobutu foi também recebido pelo ditador da vizinha República Centro-Africana, Jean-Bedel Bokassa (segundo à direita). Na residência de Bokassa, a cerca de 80 quilómetros de distância, havia também uma pista de aterragem para passageiros. Há muito que Bokassa morreu e a sua pista desintegra-se – tal como os seus palácios.
Foto: Getty Images/AFP/OFF
Boas-vindas a um convidado alemão
Mesmo antes de se tornar um aeroporto internacional - a mando do antigo Presidente Daniel Arap Moi - o aeródromo de Eldoret, no centro-oeste do Quénia, recebia o chanceler Helmut Kohl, em 1987. Eldoret é o centro económico dos Kalenjin – o grupo étnico do Presidente Moi. Apesar do nome, o aeroporto serve apenas para voos domésticos.
Foto: Imago Images/D. Bauer
O aeroporto inviável do ex-Presidente da Nigéria
O ex-Presidente da Nigéria, Umaru Yar'Adua, também converteu o aeroporto da sua cidade natal, Katsina, em aeroporto internacional durante o seu mandato (2007-2010). Mas o projeto preferido do antigo Presidente, que morreu em 2010, não é rentável. O Governo está a ponderar a entrada da autoridade aeronáutica nacional na equipa de gestão do aeroporto de Katsina.
Foto: Getty Images/AFP/P. Utomi Ekpei
Rumo a Chato?
A companhia aérea tanzaniana Precision Air poderá voar em breve para Chato, cidade natal do Presidente John Magufuli. O chefe de Estado quer expandir este aeroporto para impulsionar o turismo. Mas uma comissão parlamentar apela à renovação das infraestruturas já existentes em vez de novos projetos. Apenas 5 dos 58 aeroportos e pistas de aterragem do país contribuem para o PIB, dizem os deputados.