Costa do Marfim: Presidenciais "não foram credíveis"
Lusa
2 de novembro de 2020
Quem o diz é a missão de observação eleitoral conjunta do centro Carter e do Instituto para a Democracia Sustentável em África. Para estes observadores, votação de 31 de outubro foi prejudicada por numerosos incidentes.
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"O contexto político e de segurança não permitiu a organização de uma eleição presidencial competitiva e credível". É a conclusão apresentada esta segunda-feira (02.11), em Abidjan, pela missão de observação conjunta do Instituto Eleitoral para a Democracia Sustentável em África (EISA) e do Centro Carter, uma organização não-governamental (ONG) que trabalha na promoção da democracia e dos direitos humanos e na resolução pacífica de conflitos.
O anúncio dos observadores foi feito numa altura em que se aguarda ainda a divulgação dos resultados globais e numa altura em que os dados parciais divulgados pela Comissão Eleitoral Independente (CEI) dão a liderança ao Presidente cessante, Alassane Ouattara, cuja candidatura é considerada inconstitucional pela oposição.
"O processo eleitoral excluiu um grande número de forças políticas da Costa do Marfim e foi boicotado por parte da população num ambiente de segurança volátil", de acordo com o mesmo relatório.
Eleições tensas na Costa do Marfim
01:09
Quarenta das 44 candidaturas presidenciais foram invalidadas pelo Conselho Constitucional, e a oposição tinha apelado à "desobediência civil" e ao boicote, denunciando a candidatura do Presidente Ouattara a um controverso terceiro mandato.
"Grande número de incidentes"
"A votação foi marcada por um grande número de incidentes. Em seis das 17 regiões observadas (a Costa do Marfim tem 31 regiões) a organização do escrutínio foi gravemente afetada, com pelo menos 1.052 mesas de voto que não puderam abrir", aponta-se no relatório. Foram criadas cerca de 22.000 mesas de voto em todo o país, de acordo com a Comissão Eleitoral.
No dia da votação, registaram-se pelo menos cinco mortes em numerosos incidentes e confrontos que afetaram principalmente a metade sul do país, de acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP).
No domingo, ainda segundo a AFP, quatro pessoas da mesma família morreram em consequência de um incêndio na sua casa e na sequência de tumultos em Toumodi, a cerca de 40 quilómetros de Yamoussoukro (centro), segundo o testemunho de habitantes locais.
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Taxa de participação
Os observadores disseram ainda que "a taxa de participação observada é mista e mostra fortes disparidades, com uma taxa elevada no norte, baixa no centro e oeste e muito variável no sul do país". "Estes problemas ameaçam a aceitação dos resultados pela população e a coesão do país", adverte a missão de observação.
Cerca de 30 pessoas tinham morrido em incidentes violentos desde o anúncio, em agosto, da candidatura do Presidente Ouattara.
O ambiente continua tenso na Costa do Marfim, onde se receia uma nova crise pós-eleitoral, dez anos após as eleições presidenciais de 2010, em que 3.000 pessoas morreram, na sequência da recusa do então presidente Laurent Gbagbo em admitir a derrota para Ouattara.
Costa do Marfim: Um renascimento lento
Devido à harmonia étnica e religiosa que então reinava depois da independência de França, a Costa do Marfim foi, para muitos, o "milagre africano". Mas, hoje, este país dinâmico ainda enfrenta muitos desafios.
Foto: DW/E. Lafforgue
Estranhos no próprio país
Na Costa do Marfim residem 62 grupos étnicos, incluindo os peuls. Destes, muitos não tem a cidadania marfinense, pois o Governo exige que pelo menos o pai ou a mãe tenha nascido no país. Sem a cidadania não é possível abrir uma conta bancária ou obter a carta de condução. Isto faz com que muitos peuls se sintam estrangeiros no seu próprio país.
Foto: DW/E. Lafforgue
Tecidos tradicionais contam histórias
"Diz-me que tecido usas e eu digo-te quem és" é um ditado comum entre os marfinenses. O tecido de cera com estampa tradicional costuma ser usado por mulheres. Cada desenho dá um recado diferente ao marido. A estampa de flor de hibisco, por exemplo, simboliza a felicidade no casamento.
Foto: DW/E. Lafforgue
Padrões de beleza prejudiciais persistem
Embora proibidos, os produtos de clareamento da pele ainda são muito populares. O clareamento da pele escura pode causar danos irreparáveis e até resultar em hipertensão e diabetes. Ainda assim, muitas farmácias ganham dinheiro vendendo esses produtos, e também muitos médicos continuam a prescrevê-los por motivos comerciais. Uma em cada duas mulheres na capital, Abidjan, usa estes cosméticos.
Foto: DW/E. Lafforgue
Arte milenar
Em Aniansué, a 200 quilómetros da capital, as raparigas dançam com o corpo revestido de caulino. Elas aprendem a ser "komians" - curandeiras e adivinhas tradicionais. As "komians" são conhecidas pela sua capacidade de curar a má sorte e prever o futuro. São consultadas com frequência pelas autoridades mais poderosas do país. Uma única escola ensina esta arte da cultura Akan.
Foto: DW/E. Lafforgue
Falsos medicamentos trazem falsas esperanças
Quase metade da população vive abaixo da linha da pobreza, o que facilita a exploração de quem precisa de serviços de saúde. Nos últimos três anos foram apreendidas cerca de 600 toneladas de medicamentos falsificados - um terço de todos os medicamentos vendidos no país. Sinais como estes são comuns no exterior das lojas que vendem medicamentos 'made in China'.
Foto: DW/E. Lafforgue
O sonho de uma vida no estrangeiro
O mundo foi alertado para a situação dos refugiados marfinenses em 2020, quando o corpo de um adolescente foi encontrado no trem de aterragem dum avião. Sem perspetivas de emprego, muitos jovens sonham em começar uma nova vida no estrangeiro, para o que percorrem perigosas rotas de migração. O Presidente Alassane Ouattara prometeu criar 200.000 novos empregos por ano, mas os jovens estão céticos.
Foto: DW/E. Lafforgue
À espera do 'ouro feminino'
Este homem espera pacientemente para comprar manteiga de karité no distrito de Savanes. O produto é conhecido como "ouro feminino" em toda a África, pois são principalmente as mulheres que ganham dinheiro com a sua venda através de pequenas cooperativas. Usada na maquilhagem e na alimentação, a manteiga de karité é popular em todo o mundo.
Foto: DW/E. Lafforgue
Cozinha milenar
Esta mulher, que faz parte da Cooperativa Mulheres Batalhadoras, embrulha o attiéké, um tipo tradicional de cuscuz feito de tubérculos de mandioca. A produção do attiéké também é da responsabilidade das mulheres: elas cultivam a mandioca, processam o alimento e vendem-no na beira da estrada. O dinheiro adquirido é frequentemente utilizado para enviar os filhos à escola.
Foto: DW/E. Lafforgue
Poucas mulheres na mineração
A próspera indústria de mineração continua a ser dominada pelos homens. Isso não impediu algumas mulheres de quererem trabalhar no setor. Mas muitas vezes elas são vítimas de exploração laboral. O trabalho é notoriamente exaustivo sob o sol escaldante.
Foto: DW/E. Lafforgue
Dificuldades no setor de cacau
O setor do cacau da Costa do Marfim está à beira de uma nova crise. Os pequenos comerciantes têm cada vez mais dificuldades em competir com as grandes cooperativas locais, que detêm a maioria dos contratos com os grandes fabricantes de chocolate, como a Mars ou a Nestlé. Das 3.000 cooperativas de cacau do país, pouco mais de 200 são certificadas.
Foto: DW/E. Lafforgue
Sítio de adoração
A Basílica de Nossa Senhora da Paz, em Yamoussoukro, foi consagrada pelo Papa João Paulo II em 1990. A sua construção terá custado cerca de 270 milhões de euros. É ainda maior do que a Basílica de São Pedro, em Roma. A basílica pode acomodar até 200.000 pessoas: 7.000 no seu interior e o restante na esplanada. Mas hoje em dia apenas algumas centenas de pessoas se reúnem para a missa aos domingos.