Costa do Marfim: Presidente promete negociar com oposição
Lusa
14 de dezembro de 2020
Alassane Ouattara, que esta segunda-feira (14.12) tomou posse para um terceiro mandato, convidou a oposição para um "diálogo" e promete negociar sobre a comissão eleitoral para que as legislativas se realizem em 2021.
Publicidade
O Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, prometeu que vai reiniciar as negociações sobre a comissão eleitoral para que as eleições legislativas se realizem já no primeiro trimestre de 2021. "Convido todos os partidos políticos a aproveitarem esta nova oportunidade aberta a todos para se conseguir um relaxamento do clima através do diálogo", disse.
No seu discurso de tomada de posse, nesta segunda-feira (14.12) o Presidente adiantou que pediu ao primeiro-ministro, Hamed Bakayoko, para "retomar as discussões" sobre a Comissão Eleitoral Independente (IEC, na sigla em inglês) com a oposição, que boicotou as eleições presidenciais de 31 de outubro e ainda contesta a legitimidade do ato eleitoral.
Com base nas decisões do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos, a oposição apelou constantemente a uma reforma da IEC antes das eleições, por considerar aquela entidade subserviente ao Governo.
"Diálogo nacional"
O ex-Presidente e principal opositor da Costa do Marfim, Henri Konan Bédié, tinha proposto na quarta-feira (09.12) um "diálogo nacional" para resolver as tensões decorrentes das eleições presidenciais, e anunciou o fim do regime de "transição" proclamado pela oposição que pretendia substituir o regime do Presidente Ouattara, sem reconhecer a sua legitimidade.
Alassane Ouattara, eleito em 2010 e reeleito em 2015, voltou a ganhar as eleições de 31 de outubro, tomando posse para um controverso terceiro mandato.
A violência cessou após uma reunião, em 11 de novembro, entre o Presidente Ouattara e o líder da oposição, o antigo Presidente Henri Konan Bédié, mas a oposição continua a contestar os resultados eleitorais.
Publicidade
"Conselho nacional de transição"
Neste momento, há negociações entre o Governo e a oposição, com alguns dos seus membros, como o seu porta-voz, Pascal Affi N'Guessan, ainda na prisão por quererem criar um "conselho nacional de transição".
No discurso de tomada de posse, Ouattara prometeu também a criação já nos próximos dias de um "Ministério da Reconciliação Nacional". Contudo, salientou que "a violência e os atos intoleráveis" cometidos durante as eleições presidenciais "não devem ficar impunes".
A cerimónia de tomada de posse contou com a presença de cerca de 300 convidados, incluindo uma dúzia de chefes de Estado, como os presidentes da Etiópia, Sahle-Work Zewde, do Senegal, Macky Sal, da Libéria, George Weah, da Serra Leoa, Julius Maada Bio, e do Gana, Nana Akufo-Addo.
Também estiveram presentes o ex-Presidente francês Nicolas Sarkozy e os representantes do corpo diplomático acreditado neste país da África Ocidental.
Costa do Marfim: Um renascimento lento
Devido à harmonia étnica e religiosa que então reinava depois da independência de França, a Costa do Marfim foi, para muitos, o "milagre africano". Mas, hoje, este país dinâmico ainda enfrenta muitos desafios.
Foto: DW/E. Lafforgue
Estranhos no próprio país
Na Costa do Marfim residem 62 grupos étnicos, incluindo os peuls. Destes, muitos não tem a cidadania marfinense, pois o Governo exige que pelo menos o pai ou a mãe tenha nascido no país. Sem a cidadania não é possível abrir uma conta bancária ou obter a carta de condução. Isto faz com que muitos peuls se sintam estrangeiros no seu próprio país.
Foto: DW/E. Lafforgue
Tecidos tradicionais contam histórias
"Diz-me que tecido usas e eu digo-te quem és" é um ditado comum entre os marfinenses. O tecido de cera com estampa tradicional costuma ser usado por mulheres. Cada desenho dá um recado diferente ao marido. A estampa de flor de hibisco, por exemplo, simboliza a felicidade no casamento.
Foto: DW/E. Lafforgue
Padrões de beleza prejudiciais persistem
Embora proibidos, os produtos de clareamento da pele ainda são muito populares. O clareamento da pele escura pode causar danos irreparáveis e até resultar em hipertensão e diabetes. Ainda assim, muitas farmácias ganham dinheiro vendendo esses produtos, e também muitos médicos continuam a prescrevê-los por motivos comerciais. Uma em cada duas mulheres na capital, Abidjan, usa estes cosméticos.
Foto: DW/E. Lafforgue
Arte milenar
Em Aniansué, a 200 quilómetros da capital, as raparigas dançam com o corpo revestido de caulino. Elas aprendem a ser "komians" - curandeiras e adivinhas tradicionais. As "komians" são conhecidas pela sua capacidade de curar a má sorte e prever o futuro. São consultadas com frequência pelas autoridades mais poderosas do país. Uma única escola ensina esta arte da cultura Akan.
Foto: DW/E. Lafforgue
Falsos medicamentos trazem falsas esperanças
Quase metade da população vive abaixo da linha da pobreza, o que facilita a exploração de quem precisa de serviços de saúde. Nos últimos três anos foram apreendidas cerca de 600 toneladas de medicamentos falsificados - um terço de todos os medicamentos vendidos no país. Sinais como estes são comuns no exterior das lojas que vendem medicamentos 'made in China'.
Foto: DW/E. Lafforgue
O sonho de uma vida no estrangeiro
O mundo foi alertado para a situação dos refugiados marfinenses em 2020, quando o corpo de um adolescente foi encontrado no trem de aterragem dum avião. Sem perspetivas de emprego, muitos jovens sonham em começar uma nova vida no estrangeiro, para o que percorrem perigosas rotas de migração. O Presidente Alassane Ouattara prometeu criar 200.000 novos empregos por ano, mas os jovens estão céticos.
Foto: DW/E. Lafforgue
À espera do 'ouro feminino'
Este homem espera pacientemente para comprar manteiga de karité no distrito de Savanes. O produto é conhecido como "ouro feminino" em toda a África, pois são principalmente as mulheres que ganham dinheiro com a sua venda através de pequenas cooperativas. Usada na maquilhagem e na alimentação, a manteiga de karité é popular em todo o mundo.
Foto: DW/E. Lafforgue
Cozinha milenar
Esta mulher, que faz parte da Cooperativa Mulheres Batalhadoras, embrulha o attiéké, um tipo tradicional de cuscuz feito de tubérculos de mandioca. A produção do attiéké também é da responsabilidade das mulheres: elas cultivam a mandioca, processam o alimento e vendem-no na beira da estrada. O dinheiro adquirido é frequentemente utilizado para enviar os filhos à escola.
Foto: DW/E. Lafforgue
Poucas mulheres na mineração
A próspera indústria de mineração continua a ser dominada pelos homens. Isso não impediu algumas mulheres de quererem trabalhar no setor. Mas muitas vezes elas são vítimas de exploração laboral. O trabalho é notoriamente exaustivo sob o sol escaldante.
Foto: DW/E. Lafforgue
Dificuldades no setor de cacau
O setor do cacau da Costa do Marfim está à beira de uma nova crise. Os pequenos comerciantes têm cada vez mais dificuldades em competir com as grandes cooperativas locais, que detêm a maioria dos contratos com os grandes fabricantes de chocolate, como a Mars ou a Nestlé. Das 3.000 cooperativas de cacau do país, pouco mais de 200 são certificadas.
Foto: DW/E. Lafforgue
Sítio de adoração
A Basílica de Nossa Senhora da Paz, em Yamoussoukro, foi consagrada pelo Papa João Paulo II em 1990. A sua construção terá custado cerca de 270 milhões de euros. É ainda maior do que a Basílica de São Pedro, em Roma. A basílica pode acomodar até 200.000 pessoas: 7.000 no seu interior e o restante na esplanada. Mas hoje em dia apenas algumas centenas de pessoas se reúnem para a missa aos domingos.