Covid-19: África deverá ter um crescimento limitado em 2021
Lusa | ms
10 de dezembro de 2020
O crescimento económico em África não deverá voltar aos níveis do ano passado até 2022 e os incumprimentos financeiros deverão cingir-se a um reduzido número de países, segundo previsões de analistas.
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"África deverá ter um crescimento limitado em 2021 e não é provável que atinja os níveis de crescimento de 2019 até 2022", lê-se no comunicado de imprensa divulgado no final da Mesa Redonda Anual de Investidores, no qual se apresenta uma perspetiva sobre as intervenções dos participantes.
"Os incumprimentos financeiros deverão ser circunscritos a um pequeno subconjunto de países com poucas hipóteses de contágio a outros países na região", é ainda referido no texto, que acrescenta que os analistas presentes na região convergiram na ideia de que os países que enfrentam maiores dificuldades já estavam numa situação difícil antes da pandemia de covid-19.
Os analistas salientaram que "não há grandes surpresas uma vez que os países mais resilientes são aqueles que, como o Senegal e o Uganda, já tinham políticas financeiras e monetárias sãs antes da pandemia, ao passo que os países que já estavam vulneráveis antes da pandemia deverão ter mais dificuldades, com a média do peso da dívida a chegar a 60% este ano, o que compara com os 40% em 2012", lê-se no documento.
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360 mil milhões de euros para recuperação
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que serão precisos 435 mil milhões de dólares (360 mil milhões de euros) nos próximos três anos para ajudar os países a recuperarem por completo dos impactos económicos da pandemia, mas "o instrumento mais abrangente de alívio da dívida, a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), dará apenas 6,5 mil milhões de dólares [5,3 mil milhões de euros] aos países elegíveis até junho de 2021", dizem os organizadores da reunião liderada pelo presidente da Agência Africana de Seguros Comerciais (ATI-ACA), Manuel Moses.
África do Sul: Boom digital na pandemia
02:49
As parcerias são a chave para o desenvolvimento e para a recuperação das economias africanas, disse o presidente da ATI-ACA, anunciando que o foco da sua nova presidência será o fortalecimento do apoio às economias mais vulneráveis e que um dos pilares será a rápida expansão do número de membros.
No resumo da reunião feita pelo gabinete de imprensa da ATI-ACA, lê-se ainda que em 2021 deverá haver seis países com um rácio da dívida face ao PIB acima de 100%, como é o caso de Angola e Moçambique, mas aponta-se que "dada a natureza isolada dos atuais 'defaults', a tendência geral não mostra perigo de contágio à região".
A consolidação orçamental e a geração de receitas foram alguns dos fatores apontados como necessários para melhorar a qualidade do perfil de crédito destes países, de acordo com a ATI-ACA, que reuniu analistas de agências de rating, consultoras de risco, banqueiros e economistas.
África registou 352 mortes devido à covid-19 e mais 19.578 novos casos de infeção nas últimas 24 horas, contabilizando agora 54.916 óbitos causados pelo novo coronavírus, segundo dados oficiais. De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o continente africano conta agora com 2.304.485 casos de pessoas infetadas nos 55 membros da União Africana.
O fardo da Covid-19 para as famílias de Inhambane
Milhares de famílias estão a sofrer na província de Inhambane, no sul de Moçambique, desde que eclodiu a pandemia do novo coronavirus. Há pessoas sem emprego, em isolamento, obras paralisadas e os bens escasseiam.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Famílias sofrem por causa da Covid-19
Muitos habitantes da província moçambicana de Inhambane perderam os postos de trabalho por causa da crise provocada pela Covid-19, outros foram dispensados para cumprirem o isolamento social. Por outro lado, há obras paralisadas e faltam vários produtos, principalmente nas zonas rurais. Muita gente está a migrar para as cidades e vilas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
A culpa é do coronavírus
Dulce Eugénio, mãe de dois filhos e residente no bairro Sarrene, na cidade de Maxixe, disse que antes da pandemia o negócio corria muito bem, mas depois ficou sem dinheiro: "Consegui comprar o meu terreno e já estava a construir a minha casa de blocos com este pequeno negócio de vender tomates, cebola, pepino e cenoura, mas essa doença veio atrapalhar toda a situação."
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Coronavírus trouxe mais fome"
Com o confinamento obrigatório decretado em abril de 2020, a situação da fome agravou em Inhambane. Os cidadãos consideram que a pandemia do novo coronavírus "trouxe mais fome e miséria às comunidades". O desespero continua a imperar.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Viver de hortaliças é para quem pode
Há cada vez mais pessoas desempregadas, muitas famílias tiveram de adaptar as receitas em casa e passaram a consumir mais verduras, por exemplo. Mesmo assim, nem todos conseguem comprar, porque as hortaliças também já começam a escassear. Marta Alberto diz que não foi registada para receber o subsídio da Covid-19, concedido pelo Estado, e pede ajuda.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Produção agrícola em queda
Não é só a pandemia que tem sido um problema. Não tem chovido e muitas pessoas abandonaram a atividade agrícola. Os camponeses pedem ao Estado sementes, que estão cada vez mais caras no mercado. Em Inhambane, nem todos os camponeses vão receber o subsídio de dois mil meticais mensais (cerca de 23 euros) para suprir as suas necessidades durante seis meses.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Abandonada pela família e sem apoio
Joana Cândido foi abandonada pela família. Vivia com os netos, mas, com a pandemia, o filho solicitou aos netos que residissem juntos noutro bairro, deixando assim a idosa à sua sorte. Com problemas na perna e dores constantes na coluna, não lhe é fácil ter três refeições por dia. Afirma que não foi selecionada pelo Instituto Nacional de Ação Social (INAS) para receber o subsídio da Covid-19.
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Estamos a sofrer e precisamos de apoio"
Laura Simão foi registada pelo INAS, na cidade de Maxixe, mas ainda não recebeu o dinheiro e afirma não ter comida suficiente. Em situação semelhante estão muitas outras pessoas carenciadas, que foram inscritas mas ainda não receberam os subsídios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Excluída dos apoios, com a panela vazia
Maria João revela que não foi contemplada pelos apoios da Covid-19. Ficou surpreendida, porque não trabalha, tem filhos a seu cargo e a panela vazia. E pede apoio ao Estado.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Enganar a fome
Teresa António trabalhava como doméstica em Inhambane, numa residência, mas, com a pandemia, teve de deixar de trabalhar para os seus patrões. Agora desempregada, diz que é difícil ter arroz na mesa e, muitas vezes, tem de misturar o arroz com tapioca (farinha de mandioca) para conseguir enganar a fome.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Vender mangas para sobreviver à pandemia
Cândida Maurício fazia venda ambulante no centro da cidade da Maxixe, mas - impossibilitada de continuar o negócio na rua por causa da pandemia - teve de se adaptar. Faz agora revenda de mangas na sua residência, mas soma prejuízos e não recebe apoio do Governo.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Perdeu o emprego com a Covid-19
Com o encerramento dos estabelecimentos comerciais em cumprimento do decreto do estado de emergência, João Saul foi demitido do serviço de guarda. Afirma que a pandemia lhe trouxe efeitos negativos que jamais irá esquecer. Sobrevive com o subsídio que recebe por ser desmobilizado - não superior a 50 euros - valor que considera insuficiente.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Sonho perdido?
Nina Cumbe concluiu o 12º ano de escolaridade em Inhambane, em 2019. Antes da eclosão da pandemia, queria concorrer a uma escola técnica profissional, mas não conseguiu, porque muitos estabelecimentos de ensino tiveram que encerrar com a declaração do estado de emergência no país. Agora, tenta ganhar a vida fazendo tranças a amigas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Resta fé e esperança
No meio de tanto sofrimento provocado pela pandemia do novo coronavírus, as famílias estão a lutar para superar a crise. Ilda Joaquim, residente de Inhambane, afirma que o confinamento social agravou a maneira de viver e que está a ser difícil adaptar-se às novas medidas. Reza muito para que consiga ultrapassar esta crise, porque está difícil receber apoios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
À espera de dias melhores
Antes da chegada do novo coronavírus, Maria Alberto fazia trabalhos para terceiros e produzia mandioca para fabricar e vender farinha. Hoje, é uma simples dona de casa que deixa as panelas limpas à espera que o marido traga alguma coisa dos seus biscates diários. Lamenta o sofrimento provocado pela Covid-19, mas vive na esperança de que tudo voltará à normalidade.