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Tecnologia

Covid-19: África do Sul cria app que rastreia o vírus

Adrian Kriesch (Cidade do Cabo) | mo
15 de maio de 2020

Cientistas da Universidade da Cidade do Cabo desenvolveram uma aplicação para rastrear o novo coronavírus. No entanto, a implementação da app está a ser uma tarefa difícil.

Foto: DW/A. Kriesch

A vista da janela do local de trabalho de Co-Pierre Georg em casa parecia um cartão postal. O sol punha-se no distrito de Camps Bay, na Cidade do Cabo. O céu ficou laranja e refletiu no oceano Atlântico. Mas Georg não olhou pela janela, estava concentrado nos três ecrãs à sua frente. Junto com a sua equipa, ele organizou um seminário on-line para aotres políticos em África, durante o qual apresentaria a sua aplicação de rastreamento do novo coronavírus, o "Covi-ID".

A app foi desenvolvida por uma equipa de 150 cientistas voluntários, banqueiros, empresários e estudantes. Georg é docente de economia na Universidade da Cidade do Cabo, com foco em tecnologias financeiras. Também trabalha no Bundesbank, o banco central alemão, e agora no "Covi-ID".

Código QR para usuários

O sistema foi projetado para ajudar a rastrear pessoas que tiveram contato com alguém infetado pela Covid-19. A aplicação é direcionada especificamente para mercados emergentes. Os participantes podem inscrever-se de forma gratuita através da Internet e inserir o seu status da Covid-19. Recebem um código QR - no telemóvel ou impresso em papel. Isso ocorre porque mais da metade da população da África do Sul não possui um smartphone.

O código QR é o coração da app. A sua funcionalidade é simples, "o código QR pode ser digitalizado assim que você entra no autocarro ou no supermercado, por um segurança", explica Georg na sua apresentação.

Co-Pierre Georg faz parte da equipa de desenvolvimento da app "Covi-ID"Foto: DW/A. Kriesch

"Toda vez que o código é escaneado, você recebe o chamado ‘recibo de geolocalização’. É como uma nota que diz: Neste dia, neste momento, você estava neste local específico", afirma Co-Pierre Georg.

Os usuários mantêm os seus dados atualizados e a identidade é verificada via cadeia de blocos, não armazenada num servidor central. Os usuários devem concordar em ter as informações divulgadas às autoridades de saúde se apresentarem resultados positivos para a doença.

Isso permitirá que os chamados "rastreadores de contato" avisem aqueles que estiveram em contato com o usuário infetado. Até agora, os rastreadores contavam com a memória de uma pessoa infetada, com quem ele conheceu, quando e onde.

Impedir a propagação do vírus

"A pesquisa mostra que o rastreamento de contatos só funciona se encontrarmos 60% dos pacientes assim que apresentarem os sintomas. E então precisaremos encontrar 50% de seus contatos o mais rápido possível", diz Georg. "Se levarmos de quatro a seis dias para fazer isso, será muito lento para impedir a propagação do vírus".

O mercado agrícola da cidade de Orangezicht, na Cidade do Cabo, introduziu um sistema simples: os clientes precisam fornecer o seu nome e número de telefone antes de entrar. Os funcionários inserem os dados numa lista no papel. "Se um visitante do mercado adoece, temos que encontrar todos os outros que estiveram aqui com ele, para que se possam isolar e o vírus não se espalhar mais", explica Sheryl Ozinsky.

Funcionários do mercado de Oranjezicht anotam os nomes e números de telefone dos visitantesFoto: DW/A. Kriesch

Antes da pandemia, o mercado atraía cerca de sete mil visitantes por dia. O mercado foi autorizado a reabrir no final de abril, mas apenas para fornecer bens essenciais. As taxas diárias de visitantes caíram para 700. Uma app, diz Ozinsky, seria uma melhoria no sistema manual.

Epidemiologista cético

No entanto, como em todos as aplicações de rastreamento, esta funcionará apenas se uma grande parte da população usá-la. Apenas alguns países, como a China, forçam os seus cidadãos a fazê-lo. A maioria dos Governos em todo o mundo sabe que as pessoas temem a vigilância do Estado ou a falta de proteção de dados e, por isso, não cooperarão.

"Sempre que alguém me procura com uma app, eu não me interesso", diz Salim Abdool Karim, epidemiologista e consultor do ministro da Saúde da África do Sul. "Aprendi que as promessas são exageradas e muito pouco é realmente cumprido", completa o consultor.

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No início do bloqueio, o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, anunciou que as empresas de telecomunicações estavam a trabalhar numa solução de rastreamento automatizado. Mas o sistema que eles criaram é muito impreciso.

Apesar do interesse demonstrado pelos representantes do Governo na apresentação on-line de Co-Pierre Georg, ninguém manifestou interesse na África do Sul ou em qualquer outro lugar para transformar a aplicação num projeto nacional. Os pesquisadores, portanto, optaram por trabalhar com empresas privadas por enquanto. Uma grande companhia de seguros demonstrou interesse e a "Covi-ID" deve ser testada no mercado OrangeJezicht.

Falta de testes

O maior problema para o uso bem-sucedido do sistema no continente é a falta de capacidade de teste. A África do Sul já testou mais de 350 mil casos suspeitos da Covid-19, de longe o número mais alto do continente. Mas enquanto os laboratórios privados entregam os resultados dos testes em 48 horas, alguns laboratórios estaduais levam mais de cinco dias. Nenhuma aplicação pode compensar esse atraso.

"Por fim, estamos a construir uma ferramenta de gerenciamento de riscos", diz Georg. "Isso ajudará o Governo a reabrir a economia de maneira rápida, eficiente e segura". Mas ele também admite: "Não haverá solução para a Covid-19 sem resolver nossos problemas de teste", finaliza Co-Pierre Georg.

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