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Covid-19: África "não está sentada" à espera das vacinas

17 de dezembro de 2020

África está a trabalhar agressivamente com todos os produtores para garantir que o continente não é deixado para trás, garantiu esta quinta-feira, (17.12), o diretor do Africa CDC, John Nkengasong.

USA New York | Krankenschwester Sandra Lindsay bekommt Covid-19 Impfung
Foto: Mark Lenninhan/AFP/Getty Images

Os "mais altos representantes" da União Africana (UA) estão "pessoalmente envolvidos" no "esforço ativo de não deixar o continente de fora do esforço mundial de vacinação, sublinhou hoje Nkengasong, na conferência virtual semanal do Africa CDC, a partir de Adis Abeba.

"Temos estado em conversações com vários produtores, os trabalhos continuam e são prometedores", disse Nkengasong, referindo-se expressamente a negociações em curso com a Johnson&Johnson, a AstraZeneca e com o Serum Institute of India, o maior produtor de vacinas em volume, que se associou à AstraZeneca para desenvolver e produzir a vacina.

"Estas discussões não podem ser consideradas negócios, é preciso tempo para que amadureçam", disse o diretor do Africa CDC, mas são "importantes", "especialmente nesta fase prévia, para garantir que o continente não é deixado para trás", acrescentou.  

Diretor do Africa CDC, John NkengasongFoto: Getty Images/M. Tewelde

"O continente nunca até hoje vacinou mais de 100 milhões de pessoas por ano, e terá que fazer muito mais do que isso em 2021 se quiser ter alguma hipótese de combater esta epidemia", disse o responsável, sublinhando que esta foi uma das principais conclusões da conferência virtual de segunda e terça, patrocinada pelo Africa CDC, centrada na questão da "justa, equitativa e rápida alocação das vacinas anti-covid-19 para África". 

 A segunda recomendação referiu-se à necessidade de todas as vacinas serem pré-qualificadas pela Organização Mundial de Saúde, mesmo que doadas, por forma a prevenir a ocorrência de quaisquer efeitos adversos.

África irá empenhar "todos os esforços" no sentido de criar capacidades de produção própria de vacinas no continente, que reitera o objetivo de vacinar 60% de uma população de 1,2 mil milhões de habitantes nos próximos dois anos, mas tem a consciência de que o esforço de vacinação será prolongado por "vários anos", atendendo à evolução do vírus e da epidemia, garantiu Nkengasong. 

"É necessário rever a estratégia de distribuição de vacinas”

O armazenamento e a distribuição da vacina contra a covid-19 em África terão de envolver o setor privado, como a indústria alimentar, devido à insuficiente capacidade do continente nesta área, defendeu esta quinta-feira, (17.12), a OMS para a região, Richard Mihigo.

"As áreas-chave que precisam de atenção são a logística e a cadeia de abastecimento e, especificamente, é necessário rever a estratégia de distribuição de vacinas, mapeando os pontos de armazenamento e a facilidade de armazenamento adicional de reserva", adiantou na conferência de imprensa online semanal sobre a pandemia no continente.

Dados apontam para que a rejeição da vacina está ligada à desinformaçãoFoto: Dado Ruvic/REUTERS

Richard Mihigo referiu que se chegou a "um momento crucial" ao continente. "Estamos a assistir à aprovação e lançamento de vacinas em países com rendimentos elevados, o que enfatiza a necessidade de estarmos preparados na nossa região". De acordo com este responsável, são muitos os países do continente africano que têm estado a relatar os seus progressos.

Contudo, "a disponibilidade média em toda a região é, infelizmente, de apenas 36%, o que está realmente muito abaixo do valor de referência dos 80% que permitirão realizar um esforço de vacinação bem-sucedido e eficiente".

Maioria dos africanos tomaria vacina, diz inquérito

A maioria dos africanos (79%) tomaria uma vacina "eficaz e segura" para a Covid-19, revela um inquérito do Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças da União Africana (África CDC) esta quinta-feira, (17.12), divulgado. Feito em parceria com a London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), o estudo mostra que, quatro em cada cinco dos inquiridos, tomaria uma vacina covid-19 "se esta fosse considerada segura e eficaz".

Conduzido entre agosto e dezembro de 2020, o inquérito entrevistou mais de 15 mil adultos em 15 países africanos: Burkina Faso, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Etiópia, Gabão, Quénia, Malawi, Marrocos, Níger, Nigéria, Senegal, África do Sul, Sudão, Tunísia e Uganda.

O estudo visou avaliar o conhecimento e as perceções do público sobre a pandemia e a vacina para a covid-19, num contexto de "declínio global na aceitabilidade de vacinas devido a dúvidas sobre a sua eficácia e segurança e à disseminação de desinformação".  

Cerca de 18% dos inquiridos acreditam que as vacinas geralmente não são seguras e 25% que uma vacina para a covid-19 não será segura. Alguns dos inquiridos expressaram desconfiança em relação às vacinas em geral, enquanto outros desconfiam especificamente da vacina para a Covid-19.

Em África o número de mortes decorrentes da doença ascende a mais de 57 mil, o que aponta para uma taxa de fatalidade no continente na ordem dos 2,4% e para uma percentagem de 3,5% das mortes em todo o mundo.

A logística complicada para a entrega da vacina da Covid-19

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