Continente africano conta ainda mais de 21 mil mortes. Mas especialistas afirmam que os números reais poderão ser muito mais elevados, devido aos casos não detectados por falta de testes.
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Os casos confirmados de coronavírus em África utrapassaram um milhão – um "ponto marcante", segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), numa altura em que o número de infeções está a aumentar em vários países.
No entanto, os especialistas em saúde dizem que o balanço real é provavelmente muito superior, refletindo a falta de testes para os 1,3 mil milhões de habitantes do continente.
Segundo os dados oficiais, mais de 21 mil pessoas morreram de Covid-19 em África. A África do Sul continua a ser o país mais afetado, com mais de metade dos casos confirmados em todo o continente (538.184) e quase metade dos óbitos (9.604 mortes).
O Egito registou quase 95 mil casos e a Nigéria quase 45 mil. Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, a Guiné Equatorial lidera em número de casos e de mortos (4.821 infetados e 83 óbitos), seguindo-se Cabo Verde (2.689 casos e 27 mortos), Guiné-Bissau (2.032 casos e 27 mortos), Moçambique (2.120 casos e 15 mortos), Angola (1.483 infetados e 64 mortos) e São Tomé e Príncipe (878 casos e 15 mortos).
África do Sul é alerta para o resto do continente
Ainda assim, África é o continente com o segundo menor número de casos confirmados, depois da Oceânia. Com a noção imediata de que partiam em desvantagem, as nações africanas uniram esforços no início da pandemia para tentar angariar testes e material médico, bem como advogar para o acesso igualitário a uma eventual vacina. O rápido encerramento das fronteiras atrasou a propagação do vírus.
Mas o país mais desenvolvido do continente, a África do Sul, tem tido dificuldades em lidar com a rápida ocupação das camas dos hospitais e os casos confirmados já são mais de meio milhão, com o país a ocupar o quinto lugar da lista de países com mais infeções em todo o mundo. Apesar do elevado número de testes e da recolha de dados mais extensiva do continente, na semana passada, um relatório do Conselho Sul-Africano de Investigação Médica revelou que muitas mortes por Covid-19 não estão a ser contabilizadas.
É um aviso aos restantes 53 países do continente sobre o que poderá estar para vir. Apesar de as previsões iniciais sobre a pandemia não se terem concretizado, "achamos que será um processo lento", disse a diretora da OMS para África, Matshidiso Moeti, na quinta-feira (06.08).
Apenas dois países africanos estavam equipados para testar o coronavírus no início da pandemia. Agora, praticamente todos têm capacidade básica, mas faltam muitas vezes os materiais. Alguns países têm apenas uma máquina de testagem. Vários realizam menos de 500 testes por um milhão de pessoas, enquanto nos países mais ricos se fazem centenas de milhares de testes. E as amostras podem demorar vários dias a chegar aos laboratórios. Além disso, África tem apenas 1.500 epidemiologistas, um défice de cerca de 4.500. No total, os países africanos realizaram 8.8 milhões de testes desde o início da pandemia, muito abaixo do objetivo de 13 milhões do Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças da União Africana (África CDC)
África do Sul encerra escolas públicas por quatro semanas
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"Uma janela de oportunidade"
As estimativas dos especialistas citados pela agência de notícias Associated Press colocam o total "real" do número de casos em África entre os 5 e os 14 milhões. A responsável da OMS para África, no entanto, rejeita a ideia de uma "enorme epidemia silenciosa" com milhares de mortes não contabilizadas no continente, embora admita que há casos que ficam por registar. "O que eu gostaria de ver, para estar realmente confiante, eram taxas de testagem mais altas", disse Moeti na semana passada, criticando o "mercado global distorcido" em que os países mais ricos têm a maioria dos materiais de testes, enquanto os mais pobres lutam para realizar algumas centenas por dia.
"Há muita coisa que não sabemos", admite o diretor do África CDC, John Nkengasong, apontando, no entanto, para a existência de uma "janela de oportunidade" para vencer a pandemia em África, onde a maioria dos países regista menos de 5 mil casos.
"Ainda temos uma janela de oportunidade para, como continente, vencer a pandemia porque 36 dos 55 estados-membros [da União Africana] ainda registam menos de 5 mil casos de Covid-19", disse John Nkengasong.
"Se fizermos um conjunto de coisas corretamente, agressivamente e consistentemente temos boas hipóteses de derrotar esta pandemia, o que inclui usar máscara e aumentar a testagem e a monitorização de casos", acrescentou.
Antigas crianças-soldado lutam agora contra o coronavírus
A guerra civil na República Centro-Africana (RCA) envolveu milhares de crianças em grupos armados. Aquelas que tiveram a sorte de escapar estão agora a ajudar vizinhos a protegerem-se da pandemia de Covid-19.
Foto: Jack Losh
Coronavírus: Um novo inimigo
Uma equipa de antigas crianças-soldados e crianças de rua cava um poço para beneficiar moradores de um bairro pobre na capital da República Centro-Africana, Bangui. Os jovens ajudam a melhorar a higiene em áreas onde moradores vivem amontoados. O projeto da UNICEF instalou poços para 25 mil pessoas e começou antes de o coronavírus chegar à região. Agora ajuda a RCA a lutar contra a pandemia.
Foto: Jack Losh
Perfuração pela paz
Um jovem pressiona um mecanismo que os seus companheiros giram manualmente para perfurar um poço. O projeto da UNICEF é também uma forma de reabilitação social, porque oferece aos adolescentes um trabalho remunerado enquanto superam o passado violento. Também encoraja a comunidade a aceitá-los de volta. O programa foi criado em 2015, e agora integra o plano de resposta ao coronavírus.
Foto: Jack Losh
Trabalho sujo
Crianças-soldados agacham-se para retirar a terra à mão. Existem mais de 3,9 mil casos confirmados de coronavírus na RCA, embora a limitação de testes no país leve a crer que o número real seja maior. O grupo de trabalho de escavação de poços acelera a instalação de novos tubos e furos a nível nacional. Quase 80% dos lares na RCA não dispõem de instalações para lavagem das mãos.
Foto: Jack Losh
Corações e mentes vencedoras
Crianças reúnem-se para observar a escavação dos poços. As antigas crianças-soldados enfrentam rejeição - o que pode aumentar as suas hipóteses de serem novamente recrutadas. As intervenções que promovem a aceitação são cruciais. Como explicou uma delas: "Este trabalho pode mudar a minha vida. Finalmente tenho algum dinheiro. E estou a ajudar estas comunidades e o meu país".
Foto: Jack Losh
Terra marcada
Sepulturas não marcadas na periferia de Bossangoa, no noroeste da RCA. Civis massacrados no conflito foram enterrados aqui. Após décadas de instabilidade, a guerra eclodiu em 2013, quando uma aliança principalmente muçulmana de grupos rebeldes, a Séléka, varreu o país e derrubou o Presidente. Em resposta, comunidades cristãs e animistas mobilizaram-se para formar as milícias "anti-balaka".
Foto: Jack Losh
Acordo de paz desgastado
Um soldado rebelde da "FPRC" fica de guarda num posto de controlo no norte da RCA. Os rebeldes controlam grande parte do país e - apesar da assinatura de um acordo de paz em fevereiro passado entre o governo e 14 grupos armados - a instabilidade persiste. Nos últimos meses, intensificaram-se confrontos entre grupos armados rivais pelo controlo da zona rica em minerais.
Foto: Jack Losh
"Crianças, não soldados"
Uma placa de sinalização da UNICEF em Bossangoa alerta contra o recrutamento de crianças em conflitos armados. Entre 2014 e 2019, mais de 14,5 mil crianças-soldado foram libertadas das milícias da RCA. No entanto, estima-se que 5,550 crianças permaneçam nas mãos de grupos armados. Muitas são vítimas de abuso sexual, outras são combatentes e outras servem como cozinheiras, guardas ou mensageiras.
Foto: Jack Losh
Educação contra estatísticas
Crianças reúnem-se dentro de uma sala de aula improvisada debaixo de lonas, num acampamento para famílias deslocadas pelo conflito em Kaga Bandoro. Mais de 1,3 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas. Em média, uma em cada cinco crianças não frequenta a escola. Mas nas áreas mais afetadas, o número chega a quatro em cada cinco.
Foto: Jack Losh
Civis sitiados
Uma força de manutenção da paz da ONU dirige-se em patrulha por um campo de deslocados na cidade de Bria, no leste, capturada por rebeldes. Uma placa à entrada adverte guerrilheiros sobre a entrada de armas. As condições apertadas e insalubres de campos como estes também aumentam o risco de propagação do coronavírus.
Foto: Jack Losh
Resiliência face à guerra
Os civis sentam-se na parte de trás de um camião enquanto conduzem através do território detido pela facção FPRC no nordeste da RCA. A ONU adverte que o país está muito mal preparado para fazer face a um surto de coronavírus. O conflito complexo e sectário devastou o fraco sistema de saúde da RCA e forçou o pessoal médico a fugir. Atualmente, metade da população depende do apoio humanitário.
Foto: Jack Losh
Uma luta penosa
Uma criança leva água e passa por um soldado das forças de manutenção da paz perto de um campo de deslocados em Bria, uma área controlada por rebeldes. O ACNUR está a instalar pontos de água nos campos e explica aos residentes a importância da lavagem das mãos. Encarregados pela ajuda humanitária advertiram que há pouco recurso para satisfazer as necessidades da população.
Foto: Jack Losh
Tentar manter a paz
Mulheres passam por um veículo blindado da ONU, que foi retido por rebeldes em Kaga Bandoro. Há receios de que a Covid-19 intensifique as tensões entre as comunidades, gerando aumento de preços e paralisando o fornecimento de ajuda. Com as eleições presidenciais marcadas para dezembro, este é um ano crucial para a RCA. Observadores temem que as hostilidades aumentem na campanha eleitoral.
Foto: Jack Losh
Atacar violadores
Os adolescentes jogam futebol num campo de terra, numa área para deslocados em Kaga Bandoro. Embora os números possam ser muito mais elevados, mais de 500 violações graves dos direitos da criança foram relatadas no ano passado. Estão em curso esforços para levar os senhores da guerra à justiça, mas a corrupção generalizada torna tudo mais difícil.
Foto: Jack Losh
Um lampejo de esperança
Antigas crianças-soldados terminam a perfuração do seu novo poço em Bangui. A terapia profissional está fora do alcance de muitos por aqui. Mas projetos como este ajudam a lidar com sentimentos de vergonha e de culpa e a criar uma sensação de normalidade. Embora não seja de modo algum uma solução perfeita, iniciativas de base como esta oferecem às crianças da RCA um pouco mais de esperança.