Após Governo decretar estado de emergência devido à pandemia de Covid-19, comerciantes informais queixam-se da falta de clientes. O sentimento é de impotência diante das medidas restritivas, e alguns temem passar fome.
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Após três dias de estado de emergência em Moçambique, comerciantes informais já notam acentuada queda nos seus negócios. Integrantes da categoria ouvidos pela DW África aceitam as medidas restritivas adotadas pelo Governo, mas a vendedeira Mónica Paulo, por exemplo, alerta que o impacto nos negócios pode levar à fome.
"Assim nós estamos a morrer, porque o que estou a ver já não aguento. Já não anda nada. Quem devia resolver este problema? Não podemos culpar ninguém”, desabafa.
Desde que foram detetados os primeiros casos da doença, conta a outra comerciante informal Maria Argentina, os seus clientes fizeram compras de produtos na intenção de fazer estoques por causa da especulação de preços. Com o abastecimento por um determinado período garantido, alguns consumidores, segundo Argentina, optam por ficarem em casa.
"Já não temos clientes, muita gente está com medo e preferiu ficar em casa. As empresas fecharam. Quando o Governo disser para fecharmos, a solução será fechar. Não temos outra alternativa”, conclui.
O estado de emergência em Moçambique vai durar até dia 30 de Abril, e a vendedeira Vitoria André vai tentar arranjar-se. Como? ninguém sabe. "Só poderemos fechar se as coisas continuarem assim. Está a ser difícil e não há como. Apenas tentar a sorte. No dia que consigo [dinheiro] dá, mas quando não conseguir vamos ver o que fazer. Mas tentamos a nossa maneira.”
Os interesses dos "vulneráveis”
Luísa Augusto vende frangos e conta que, desde que a pandemia da Covid-19 chegou a Moçambique, só está a somar prejuízos. "As coisas estão muito diferentes. Hoje descarreguei 45 galinhas e até aqui as pessoas não estão a comprar. Tenho aqui galinhas há já uma semana e perderam peso. Paguei para isto e acabei chamando o dono para vir recolher as galinhas. Antes, a esta altura já tinha vendido tudo.”
O jurista Ercínio de Salema disse que o estado de emergência deve salvaguardar os interesses dos comerciantes informais e outras pessoas vulneráveis através das instituições de tutela.
"Temos o Instituto Nacional de Ação Social, cuja ação tem sido criticada. Mas este é o tempo de alargar as suas ações. Não só para grupos tradicionais, mas eventualmente para trabalhadores informais ou aqueles que hão de sentir de forma drástica este efeito”, sugere Salema.
No terceiro dia depois de se ter decretado o estado de emergência o ambiente na capital Maputo tem sido calmo. No primeiro dia, alguns tumultos foram verificados no centro da capital moçambicana porque a polícia mandou fechar todas as lojas. Depois das explicações do Governo, no entanto, o comércio reabriu. Locais de venda de bebidas alcoólicas, como barracas e bares, devem fechar as portas.
O que mudou em Cabo Verde com a Covid-19
Cabo Verde registou quatro casos de infeção por Covid-19 e uma morte. Todos os casos são importados. Centenas de pessoas estão em isolamento e os voos foram condicionados. O dia a dia também está a ser afetado.
Foto: DW/A. Semedo
Movimentação reduzida nas ruas
A chegada do novo coronavírus a Cabo Verde mudou a rotina dos cabo-verdianos, sobretudo nos centros urbanos, onde se tem notado a diminuição de movimentação e aglomeração de pessoas. Muitos preferem ficar em casa para diminuir o contacto social. Eventos com muitas pessoas foram suspensos em todo o país. Discotecas foram encerradas, bares e restaurantes passaram a fechar mais cedo.
Foto: DW/A. Semedo
Férias escolares antecipadas
Cabo Verde antecipou as férias escolares do ensino pré-escolar, básico e secundário para o dia 23 de março, como medida de contenção à Covid-19. As universidades também suspenderam todas as aulas e outras atividades formativas. Foram ainda estabelecidas medidas "excecionais e temporárias" para o funcionamento de creches, com a possibilidade do teletrabalho para os pais.
Foto: DW/A. Semedo
Informar com urgência a população
Campanhas de sensibilização e de esclarecimento à população sobre a Covid-19 estão a ser realizadas pelas autoridades em Cabo Verde. Carros passam informações à população sobre o que é a Covid-19, as formas de transmissão e como prevenir a doença. Estas viaturas circulam nos centros das cidades e bairros para reforçar a comunicação.
Foto: DW/A. Semedo
Transportes urbanos com lotação a 50%
Os transportes urbanos e interurbanos, como taxis e "hiaces", já estão a sentir os efeitos da Covid-19. A lotação passou para metade, com impacto direto no rendimento dos condutores. A medida visa aumentar o distanciamento entre os passageiros e evitar o contágio. "Hiacistas" e taxistas pedem apoio ao Governo para colmatarem as perdas, como a suspensão de impostos ou a facilitação de créditos.
Foto: DW/A. Semedo
Praias interditadas em todo país
As autoridades interditaram o acesso às praias do país para evitar a aglomeração de pessoas e, consequentemente, prevenir o contágio e a disseminação da Covid-19. A proibição durará enquanto se mantiver o plano de contingência a nível nacional decretado pelo Governo. A polícia está a patrulhar as zonas balneares para garantir o cumprimento da interdição.
Foto: DW/A. Semedo
Acesso limitado aos locais públicos
Mercados, bancos, farmácias, lojas e outras instituições estão a limitar a entrada de pessoas para prevenir a Covid-19, o que tem levado à criação de filas à porta destes espaços. Nos mercados da Praia, por exemplo, foi proibida a entrada de crianças e as vendedeiras com mais de 65 anos devem ficar em casa. Feiras e vendas de animais vivos são agora proibidas. Algumas lojas chinesas já fecharam.
Foto: DW/A. Semedo
Corrida aos supermercados
O anúncio do plano de contingência para a prevenção e controlo da Covid-19 e do primeiro caso da doença no país, disparou as compras em Cabo Verde. O medo de ficar sem alimentos levou as pessoas a comprarem grandes quantidades de comida e produtos de higiene. O Governo alertou a população para não açambarcarem os produtos e reforçou a fiscalização contra a especulação de preços.
Foto: DW/A. Semedo
O medo de ficar sem gás butano
O anúncio do primeiro caso de Covid-19 no país levou os cidadãos à compra desenfreada de gás butano para armazenamento, temendo a sua falta no mercado. Vários postos de venda ficaram sem este combustível para atender à elevada procura. Entretanto, as empresas de combustíveis garantem à população que têm stocks de gás suficiente para abastecer o mercado, afastando um cenário de escassez.
Foto: DW/A. Semedo
Faltam materiais de proteção individual
A falta de máscaras e álcool em gel no mercado tem deixado os cidadãos muito preocupados. A procura por estes produtos aumentou drasticamente com o registo do primeiro caso de Covid-19 no país. A empresa de medicamentos Inpharma passou a produzir álcool em gel para abastecer o país e já garantiu o fornecimento de máscaras às farmácias. Porém, a venda destes produtos está a ser racionada.