Covid-19: Artistas moçambicanos pedem linha de crédito
Lusa | cvt
21 de março de 2020
Este sábado (21.03), artistas moçambicanos pediram incentivos para o setor face a eclosão da Covid-19, alertando para o "impacto terrível" com a suspensão de eventos com mais de 50 pessoas no âmbito da prevenção.
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"Estamos num momento, em termos de produção artística, terrível. Os espaços de produção artística estão a fechar e estão a ser cancelados vários eventos", disse à Lusa Alvim Cossa, presidente da Associação Moçambicana de Teatro.
Aquele responsável falava à margem de uma reunião, realizada este sábado (21.03) em Maputo, que debateu os desafios das artes face à Covid-19 em Moçambique.
Para o presidente da Associação Moçambicana de Teatro, o impacto das medidas de prevenção, que incluem a suspensão de todos os eventos que juntem mais de 50 pessoas por 30 dias, será mais doloroso para os fazedores das artes, na medida em que o próprio setor atravessa vários desafios, com destaque para a falta de apoio.
"Há necessidade de o Estado olhar para nós e abrir linhas de crédito para que, em casos como este, as pessoas não percam os seus salários e tenho alguma forma de sobrevivência", frisou Alvim Cossa.
Também Matilde Muocha, investigadora e docente da Escola de Comunicação e Artes na Universidade Eduardo Mondlane, observa que a crise consequente da propagação da Covid-19 vai agudizar as dificuldades dos artistas no país, lembrando que se está perante um setor cuja estruturação é fraca.
"Para os mais fracos, a crise é muito mais aguda. Mas isto nos dá oportunidades para refletirmos em torno das fragilidades existentes no setor e encontrarmos soluções", observou a investigadora.
Recorrer a meios digitais
Por sua vez, Dadivo José, ator e também docente universitário, entende que o período pode ser usado para a adoção de novas formas de fazer arte a partir das plataformas digitais e os artistas podem usar a sua arte para promover mensagens de prevenção.
"Não vamos olhar as coisas com fatalismo, vamos ficar nas nossas casas e vamos produzir bastante. Há aqui um oportunidade para nos entregarmos a ideias novas e também ajudarmos a disseminar mensagens educativas, gravando pequenos vídeos e que podem passar nas nossas televisões", afirmou.
As conclusões da reunião, que também decorreu em simultâneo nas cidades da Beira, Quelimane e Pemba, serão compiladas em um documento, que deverá ser entregue ao Governo moçambicano e aos parceiros que apoiam a arte, além de ser veiculada pelos media.
Prevenção em Moçambique
Moçambique ainda não registou casos de Covid-19, mas a doença existe em países vizinhos e o risco é iminente, segundo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, que falava à nação na sexta-feira (20.03) para anunciar novas medidas de prevenção.
As medidas incluem o fecho de todas as escolas e a suspensão de vistos de entrada no país por um período de 30 dias a partir de segunda-feira
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 271 mil pessoas em todo o mundo, das quais pelo menos 11.401 morreram.
Mafalala: Entre a riqueza cultural e os problemas de saneamento
Quando se fala em bairros periféricos de Maputo, a Mafalala é sem dúvida o "ex-líbris". Nomes como José Craveirinha ou Eusébio dão fama ao bairro. Mas também vive os seus dramas, a criminalidade é um deles.
Foto: DW/R. da Silva
Casas de madeira e zinco
O emblemático bairro da Mafalala é dos mais antigos subúrbios da capital, Maputo. Localizado no centro-oeste, Mafalala está num ponto, cujo lençol freático é muito elevado, o que dificulta a construção de habitações. Aliás, os habitantes deste bairro acabaram por chegar a este local empurrados pelo colono, pois estes ocupavam locais mais frescos e altos.
Foto: DW/R. da Silva
Mesquista com século de vida
A mesquita “Baraza” é centenária e foi a primeira a ser construída pelos comoreanos na Mafalala. O termo “Baraza”, em Suaíli, significa “local de convívio, reunião ou concentração”. Localiza-se no centro do bairro e a sua construção não foge à regra típica das outras construções: madeira e zinco.
Foto: DW/R. da Silva
Arte e Cultura
Mafalala, historicamente, abrigava também homens de arte. Nesta foto está representada a dança “tufo”, típica de Nampula, dos macuas do norte de Moçambique, que é o principal cartão de visita do bairro. Nas duas paredes estão representadas partes da dança que são executadas maioritariamente por mulheres. No bairro, existe a Associação Tufo da Mafalala, para preservação desta “marca” cultural.
Foto: DW/R. da Silva
Fundação José Craveirinha
O escritor José Craveirinha dispensa apresentação. A sua figura enriquece a história da Mafalala. O Museu José Craveirinha ou Fundação José Craveirinha, localiza-se mais na parte do bairro vizinho do Alto-Maé. Era a sua residência, mas a sua juventude foi passada na Mafalala, daí os habitantes considerarem que o Museu é daquele bairro.
Foto: DW/R. da Silva
"Xicampaninene": local preservado pelos residentes
O campo onde evoluíram grandes jogadores nos anos 60 como Eusébio, já não existe por conta das ocupações para outras atividades. Porém, no atual "xicampanine" (campinho) disputa-se, no final de cada ano, um dos célebres torneios da capital, não só por simples cidadãos, mas também por políticos como Joaquim Chissano, Pascoal Mocumbe entre outros. É uma homenagem aos talentos do bairro.
Foto: DW/R. da Silva
Mercado de Mafalala 1977
Trata-se de um local, como nos outros bairros, que se dedica à venda de diversos produtos. O mercado é constituído por bancas e barracas. Foi fundado em 1977 e outrora funcionava na atual secretaria do bairro. Reza a historia, que a sua transferência se deveu à concorrência do mercado da Praça de Touros, alvo de maior procura por parte dos compradores.
Foto: DW/R. da Silva
Cantinas construídas (também) de madeira e zinco
Uma das cantinas mais antigas tem esta característica: madeira e zinco. As cantinas da Mafalala, segundo a história, eram uma das principais atrações e vendiam, entre vários produtos, o vinho português, afamado pela sua má qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Meio ambiente na Mafalala
O município de Maputo, outrora dirigido por Eneas Comiche, em 2003, fez um notável trabalho para aliviar os habitantes das águas estagnadas, que propiciam doenças como cólera, malária, diarreias entre outras. A abertura de pequenas valas de drenagem veio aliviar os residentes, pois são poucos os charcos criados quando se registam intensas chuvas.
Foto: DW/R. da Silva
Casas mais recentes com valas de drenagem
São poucas as casas modernas na Mafalala, pois os “maputenses” preferem deslocar-se a outros bairros mais frescos e longes da imundície. Estas casas são típicas dos subúrbios do Maputo atual, se bem que agora a preferência vai para os chamados “rés-do-chão”.
Foto: DW/R. da Silva
Associação de Defesa do Meio Ambiente – Associação Comunitária Ambiente da Mafalala, ACAM,
ACAM dedica-se à sensibilização dos residentes sobre a preservação do meio ambiente, tendo em conta as características do próprio bairro. Quando chove, mesmo sendo uma precipitação baixa, os becos e as ruas não demoram alagar devido ao elevado lençol freático. Os residentes são igualmente ensinados a conservar as valas de drenagem, por exemplo, ao não atirarem lixo para o chão.
Foto: DW/R. da Silva
"Baixa" da Mafalala ajuda a escoar águas
Um dos bons resultados da ACAM é este: abriu-se uma vala-rua que permite a circulação das águas pluviais e ao mesmo tempo, de viaturas, sem provocar danos. Estas águas das chuvas serpenteiam o bairro até chegarem à avenida Acordos de Lusaka, que fica na parte este do bairro, para uma outra vala de drenagem capaz de escoar maiores quantidades de agua.
Foto: DW/R. da Silva
Sede do bairro da Mafalala
Os habitantes mais velhos do bairro são conhecidos como Matlotlomana, ou ku-tlotloma, que significa "conquistar uma mulher", na língua local, o Ronga. O local que hoje é sede do bairro outrora foi mercado e um dos locais onde funcionavam algumas cantinas. Servia também de local onde os matlotlomanas encontravam mulheres mais apreciadas e controladas pelos proprietários das cantinas.
Foto: DW/R. da Silva
Rua e praceta que substituem os famosos becos
De alguns anos a esta parte, a Mafalala tentou mudar de rosto trazendo consigo alguma modernidade, como a colocação de pracetas e ruas pavimentadas. Exemplo prático é a rua de Gôa, que liga o norte do bairro ao leste e oeste, facilitando a mobilidade de viaturas.
Foto: DW/R. da Silva
Becos periogosos no horário noturno
Por fim, a criminalidade. Tal como acontece noutros bairros periféricos, os becos são ladeados por vedações de madeira e zinco e a falta de iluminação propícia a atividade criminosa, não só à noite, mas também de dia.