Cabo Verde vai passar a partir da meia-noite à situação de "risco de calamidade" face à pandemia da Covid-19. Isso implica o encerramento das empresas públicas e a suspensão das ligações aéreas e marítimas inter-ilhas.
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Com quatro casos positivos de Covid-19 já confirmados, 11 casos suspeitos e um óbito, o Governo cabo-verdiano decidiu elevar o nível de contingência da Proteção Civil para a situação de "risco de calamidade".
A decisão foi anunciada pelo primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva depois de uma reunião do seu gabinete de crise.
"Com efeitos a partir do dia 27 de março, às zero horas e até ao dia 17 de abril, são reforçadas significativamente, para todo o território nacional, as medidas restritivas para diminuir os riscos de propagação e contágio do vírus", anunciou Correia e Silva numa comunicação ao país esta quinta-feira (26.03).
Cabo Verde em alerta por causa do coronavírus, mas sem laboratórios
02:14
Face a esta nova medida, serão encerrados todos os serviços e empresas públicas, em todo o território nacional. Os voos e ligações marítimas inter-ilhas também serão suspensos.
Vários populares saudaram a decisão do Governo: "Acho bem. Penso que a medida devia ter sido tomada desde a altura em que se descobriu o primeiro caso", afirmou uma cidadã. "Se tivesse sido assim, se calhar, não chegaríamos a este ponto".
"Esta é uma boa medida.... [Mas] se endurecerem as medidas, como é que os mais vulneráveis vão sobreviver?", questionou outro cidadão.
Estado de emergência?
O primeiro-ministro é favorável à declaração de situação de emergência situação de emergência a nível nacional.
"Hoje de manhã tive um encontro com o Senhor Presidente da República", disse Ulisses Correia e Silva. Neste momento, está a ser ponderada "seriamente a possibilidade de declaração de Situação de Emergência Constitucional, que irá permitir ao Governo reforçar as medidas de prevenção, nomeadamente a obrigatoriedade legal de as pessoas permanecerem em casa, o encerramento de serviços e empresas privadas e a obrigatoriedade acrescida do dever de colaboração com as autoridades sanitárias e de proteção civil."
Depois das declarações do primeiro-ministro, o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, anunciou que vai reunir esta sexta-feira (27.03) o Conselho da República para debater a resposta à pandemia do novo coronavírus. A decisão deverá ser conhecida no próprio dia.
O que mudou em Cabo Verde com a Covid-19
Cabo Verde registou quatro casos de infeção por Covid-19 e uma morte. Todos os casos são importados. Centenas de pessoas estão em isolamento e os voos foram condicionados. O dia a dia também está a ser afetado.
Foto: DW/A. Semedo
Movimentação reduzida nas ruas
A chegada do novo coronavírus a Cabo Verde mudou a rotina dos cabo-verdianos, sobretudo nos centros urbanos, onde se tem notado a diminuição de movimentação e aglomeração de pessoas. Muitos preferem ficar em casa para diminuir o contacto social. Eventos com muitas pessoas foram suspensos em todo o país. Discotecas foram encerradas, bares e restaurantes passaram a fechar mais cedo.
Foto: DW/A. Semedo
Férias escolares antecipadas
Cabo Verde antecipou as férias escolares do ensino pré-escolar, básico e secundário para o dia 23 de março, como medida de contenção à Covid-19. As universidades também suspenderam todas as aulas e outras atividades formativas. Foram ainda estabelecidas medidas "excecionais e temporárias" para o funcionamento de creches, com a possibilidade do teletrabalho para os pais.
Foto: DW/A. Semedo
Informar com urgência a população
Campanhas de sensibilização e de esclarecimento à população sobre a Covid-19 estão a ser realizadas pelas autoridades em Cabo Verde. Carros passam informações à população sobre o que é a Covid-19, as formas de transmissão e como prevenir a doença. Estas viaturas circulam nos centros das cidades e bairros para reforçar a comunicação.
Foto: DW/A. Semedo
Transportes urbanos com lotação a 50%
Os transportes urbanos e interurbanos, como taxis e "hiaces", já estão a sentir os efeitos da Covid-19. A lotação passou para metade, com impacto direto no rendimento dos condutores. A medida visa aumentar o distanciamento entre os passageiros e evitar o contágio. "Hiacistas" e taxistas pedem apoio ao Governo para colmatarem as perdas, como a suspensão de impostos ou a facilitação de créditos.
Foto: DW/A. Semedo
Praias interditadas em todo país
As autoridades interditaram o acesso às praias do país para evitar a aglomeração de pessoas e, consequentemente, prevenir o contágio e a disseminação da Covid-19. A proibição durará enquanto se mantiver o plano de contingência a nível nacional decretado pelo Governo. A polícia está a patrulhar as zonas balneares para garantir o cumprimento da interdição.
Foto: DW/A. Semedo
Acesso limitado aos locais públicos
Mercados, bancos, farmácias, lojas e outras instituições estão a limitar a entrada de pessoas para prevenir a Covid-19, o que tem levado à criação de filas à porta destes espaços. Nos mercados da Praia, por exemplo, foi proibida a entrada de crianças e as vendedeiras com mais de 65 anos devem ficar em casa. Feiras e vendas de animais vivos são agora proibidas. Algumas lojas chinesas já fecharam.
Foto: DW/A. Semedo
Corrida aos supermercados
O anúncio do plano de contingência para a prevenção e controlo da Covid-19 e do primeiro caso da doença no país, disparou as compras em Cabo Verde. O medo de ficar sem alimentos levou as pessoas a comprarem grandes quantidades de comida e produtos de higiene. O Governo alertou a população para não açambarcarem os produtos e reforçou a fiscalização contra a especulação de preços.
Foto: DW/A. Semedo
O medo de ficar sem gás butano
O anúncio do primeiro caso de Covid-19 no país levou os cidadãos à compra desenfreada de gás butano para armazenamento, temendo a sua falta no mercado. Vários postos de venda ficaram sem este combustível para atender à elevada procura. Entretanto, as empresas de combustíveis garantem à população que têm stocks de gás suficiente para abastecer o mercado, afastando um cenário de escassez.
Foto: DW/A. Semedo
Faltam materiais de proteção individual
A falta de máscaras e álcool em gel no mercado tem deixado os cidadãos muito preocupados. A procura por estes produtos aumentou drasticamente com o registo do primeiro caso de Covid-19 no país. A empresa de medicamentos Inpharma passou a produzir álcool em gel para abastecer o país e já garantiu o fornecimento de máscaras às farmácias. Porém, a venda destes produtos está a ser racionada.