Cabo Verde prolonga estado de emergência em Santiago
Lusa
14 de maio de 2020
O anúncio foi feito pelo Presidente Jorge Carlos Fonseca, que prorrogou até 29 de maio o estado de emergência apenas em Santiago. A ilha concentra quase 80% dos casos da infeção no país, com mais de 200 doentes.
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Jorge Carlos Fonseca fez o anúncio na noite desta quarta-feira (13.05) numa mensagem ao país, numa decisão que faz com que este estado de exceção deixa de estar em vigor na Boa Vista, ilha que registou o primeiro caso da Covid-19 a 19 de março.
A Boa Vista chegou aos 56 casos, mas não regista casos positivos há duas semanas e tem apenas seis doentes ativos.
Por seu turno lado, a cidade da Praia, ilha de Santiago, o foco principal da doença e com transmissão comunitária e com casos diários, regista 226 casos da Covid-19, dos quais 17 doentes recuperados, um óbito e 208 casos em isolamento hospitalar neste momento.
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Decisão
Para tomar a decisão, Jorge Carlos Fonseca disse que analisou essas realidades, consultou diversas entidades técnicas, políticas e da sociedade civil, ouviu o Governo e teve em conta a necessidade de disponibilizar às autoridades sanitárias os meios legais considerados muito importantes para o enfrentamento da situação.
"Considerei necessário prorrogar o estado de emergência para a ilha de Santiago, no período compreendido entre as zero horas do dia 15 de maio de 2020 e as vinte e quatro horas do dia 29 de maio de 2020", anunciou o chefe de Estado.
Para o Jorge Carlos Fonseca, "a necessidade da continuidade de medidas de controlo em Santiago apresenta-se, assim, como muito importante para a monitorização da epidemia", considerando que a situação na Boa Vista está "controlada".
Retoma de atividades
Mesmo com a terceira prorrogação na maior ilha de Cabo Verde, o Presidente da República notou que é possível retomar alguma atividade económica e exercer alguns direitos fundamentais, como a liberdade de culto, especialmente em Santiago Norte. "Desde que sejam adotadas medidas de segurança sanitária e de distanciamento social que diminuam a potencialidade de propagação do coronavírus", alertou.
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O Presidente disse que o novo período apresenta "limites mais flexíveis", permitindo a retoma gradual de algumas atividades, como a construção civil, os serviços públicos, atividades agrícolas e similares.
Jorge Carlos Fonseca reconheceu que o estado de emergência, com limitações à liberdade e à iniciativa económica, causa "danos importantes e incalculáveis" na economia e no emprego, mas sublinhou que esses danos têm de ser confrontados com outro, como a vida e a saúde de comunidades inteiras.
Apelo aos cidadãos
E no momento em que oito das nove ilhas habitadas já estão fora do estado de emergência, o Presidente da República apelou a conduta cívica e individual de cada um, considerando que isso é o "elemento fundamental" no combate à pandemia da covid-19.
"Todas as medidas de confinamento, de distanciamento físico, de proteção e de higiene impostas pela força do estado de emergência, continuam a ser essenciais e têm de ser aplicadas por todos. Mas agora temos o dever de cumprir essas medidas não pela força, mas pela nossa compreensão e convicção de que só assim nos protegemos e protegemos o nosso país", pediu Fonseca, esperando que as pessoas "cumpra mais do que têm cumprido".
O primeiro período de estado de emergência, de 20 dias, começou a 29 de março, tendo vigorado até 17 de abril em todas as ilhas do país, passando depois para 15 dias nas ilhas de Santiago, Boa Vista e São Vicente. Desde 3 de maio e até esta quinta-feira (14.05) que esse período de exceção vigora apenas nas ilhas de Santiago e Boa Vista, as duas únicas com casos ativos.
No total, Cabo Verde já diagnosticou 289 casos de covid-19, distribuídos pelas ilhas de Santiago (230), Boa Vista (56) e São Vicente (3). Até hoje, 67 doentes recuperaram, a maioria (47) na Boa Vista, 17 em Santiago e todos os três em São Vicente, além de duas mortes, dois doentes transferidos para os seus países de origem, com o país a totalizar 218 doentes ativos.
O que mudou em Cabo Verde com a Covid-19
Cabo Verde registou quatro casos de infeção por Covid-19 e uma morte. Todos os casos são importados. Centenas de pessoas estão em isolamento e os voos foram condicionados. O dia a dia também está a ser afetado.
Foto: DW/A. Semedo
Movimentação reduzida nas ruas
A chegada do novo coronavírus a Cabo Verde mudou a rotina dos cabo-verdianos, sobretudo nos centros urbanos, onde se tem notado a diminuição de movimentação e aglomeração de pessoas. Muitos preferem ficar em casa para diminuir o contacto social. Eventos com muitas pessoas foram suspensos em todo o país. Discotecas foram encerradas, bares e restaurantes passaram a fechar mais cedo.
Foto: DW/A. Semedo
Férias escolares antecipadas
Cabo Verde antecipou as férias escolares do ensino pré-escolar, básico e secundário para o dia 23 de março, como medida de contenção à Covid-19. As universidades também suspenderam todas as aulas e outras atividades formativas. Foram ainda estabelecidas medidas "excecionais e temporárias" para o funcionamento de creches, com a possibilidade do teletrabalho para os pais.
Foto: DW/A. Semedo
Informar com urgência a população
Campanhas de sensibilização e de esclarecimento à população sobre a Covid-19 estão a ser realizadas pelas autoridades em Cabo Verde. Carros passam informações à população sobre o que é a Covid-19, as formas de transmissão e como prevenir a doença. Estas viaturas circulam nos centros das cidades e bairros para reforçar a comunicação.
Foto: DW/A. Semedo
Transportes urbanos com lotação a 50%
Os transportes urbanos e interurbanos, como taxis e "hiaces", já estão a sentir os efeitos da Covid-19. A lotação passou para metade, com impacto direto no rendimento dos condutores. A medida visa aumentar o distanciamento entre os passageiros e evitar o contágio. "Hiacistas" e taxistas pedem apoio ao Governo para colmatarem as perdas, como a suspensão de impostos ou a facilitação de créditos.
Foto: DW/A. Semedo
Praias interditadas em todo país
As autoridades interditaram o acesso às praias do país para evitar a aglomeração de pessoas e, consequentemente, prevenir o contágio e a disseminação da Covid-19. A proibição durará enquanto se mantiver o plano de contingência a nível nacional decretado pelo Governo. A polícia está a patrulhar as zonas balneares para garantir o cumprimento da interdição.
Foto: DW/A. Semedo
Acesso limitado aos locais públicos
Mercados, bancos, farmácias, lojas e outras instituições estão a limitar a entrada de pessoas para prevenir a Covid-19, o que tem levado à criação de filas à porta destes espaços. Nos mercados da Praia, por exemplo, foi proibida a entrada de crianças e as vendedeiras com mais de 65 anos devem ficar em casa. Feiras e vendas de animais vivos são agora proibidas. Algumas lojas chinesas já fecharam.
Foto: DW/A. Semedo
Corrida aos supermercados
O anúncio do plano de contingência para a prevenção e controlo da Covid-19 e do primeiro caso da doença no país, disparou as compras em Cabo Verde. O medo de ficar sem alimentos levou as pessoas a comprarem grandes quantidades de comida e produtos de higiene. O Governo alertou a população para não açambarcarem os produtos e reforçou a fiscalização contra a especulação de preços.
Foto: DW/A. Semedo
O medo de ficar sem gás butano
O anúncio do primeiro caso de Covid-19 no país levou os cidadãos à compra desenfreada de gás butano para armazenamento, temendo a sua falta no mercado. Vários postos de venda ficaram sem este combustível para atender à elevada procura. Entretanto, as empresas de combustíveis garantem à população que têm stocks de gás suficiente para abastecer o mercado, afastando um cenário de escassez.
Foto: DW/A. Semedo
Faltam materiais de proteção individual
A falta de máscaras e álcool em gel no mercado tem deixado os cidadãos muito preocupados. A procura por estes produtos aumentou drasticamente com o registo do primeiro caso de Covid-19 no país. A empresa de medicamentos Inpharma passou a produzir álcool em gel para abastecer o país e já garantiu o fornecimento de máscaras às farmácias. Porém, a venda destes produtos está a ser racionada.