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SociedadeGlobal

Covid-19: Cidadão africanos retidos em Portugal pedem ajuda

15 de julho de 2020

Os angolanos, moçambicanos e outros cidadãos africanos retidos em Portugal devido à pandemia da Covid-19, estão a passar por dificuldades e pedem ajuda para poderem regressar aos países de origem.

Coronavirus Afrikaner sitzen in Portugal fest
Foto: DW/J. Carlos

O surto do coronavírus levou os governos a fecharem as fronteiras e as ligações aéreas para travar o avanço da pandemia. A decisão afeta vários cidadãos impedidos de regressarem aos seus países de origem. É o caso de perto de numerosos angolanos que, há mais de três meses, aguardam em Portugal pelo repatriamento.

Os visados, ouvidos pela DW África, pedem mais informação, apoio e medidas mais claras para o regresso aos respetivos países de origem.

De acordo com fonte da Embaixada de Angola, estão em curso diligências para se levar a cabo a operação de repatriamento dos angolanos retidos em Portugal. Fontes não oficiais falam em mais de mil cidadãos que querem uma solução para o regresso ao país.

Situação constrangedora

Elisa Coelho chegou a Portugal em meados de março para 15 dias de férias. Já está em terras lusas há mais de quatro meses, devido ao surto do coronavírusl. O dinheiro que trouxe de Angola era apenas para suportar as despesas durante aquele período de férias. Foi uma situação imprevisível, lamenta.

"Infelizmente estamos cá há mais de cem dias. É uma situação bastante constrangedora e com consequências nefastas, porque é um desgaste mental, é um nervosismo inesperado; eu deixei a família lá [em Angola]”.

Para Elisa Coelho, jornalista angolana, a situação é desgastante Foto: DW/J. Carlos

A jornalista faz parte de um grupo de mais de mil angolanos retidos em Portugal devido à COVID-19. Está em casa de familiares, mas conta que há pessoas em situação mais difíceis, algumas das quais desalojadas por falta de meios. "Há pessoas que estão também na rua. Há pessoas que nem têm o que comer. Às vezes, nem sei, pode aparecer alguém que dê um prato de comida”.

O escritor angolano Lopito Feijó veio a Lisboa no início do mês de fevereiro com vários propósitos, incluindo a participação no encontro anual "Correntes d´Escritas”, na Póvoa de Varzim. Entrou em confinamento no dia 27 desse mês por ter estado naquele evento cultural com o escritor chileno, Luís Sepúlveda, então infetado pelo coronavírus, e que viria a falecer a 16 de abril, em Espanha. Seis meses mais tarde, o escritor angolano continua retido em Portugal por causa da pandemia.

"Ficamos em casa. Apelámos a que os outros ficassem em casa também na esperança de que as autoridades angolanas pudessem tomar medidas no sentido repatriar ou levar para casa todos os cidadãos angolanos que estivessem no estrangeiro”.

"Nós não somos portugueses”

Porém, o Governo angolano viu-se obrigado a fechar as fronteiras, ao abrigo das medidas de emergência nacional.

Em Portugal desde a segunda semana de março, Avelino Salva é outra das vítimas dos efeitos da COVID-19. "Eu, por mim, hoje se tivesse um voo regressava já, porque para mim pelo menos e para todos nós que estamos aqui o mais importante é estarmos junto das nossas famílias. Nós não somos portugueses”, disse o engenheiro angolano que fala ainda do desgaste emocional e psicológico e da penúria vivida pelas pessoas, mas também da falta que faz a família que está em Luanda.

O escritor angolano Lopito Feijó está retido em Portugal desde fevereiro.Foto: DW/J. Carlos

"E temos outros afazeres em Angola, além da questão laboral e familiar”.

Face às dificuldades, os angolanos criaram uma comissão para pressionar o Governo de Luanda a encontrar uma solução visando o regresso sem acrescentar custos aos afetados.

Tal como Avelino Salva, Elisa Coelho reclama o silêncio e a falta de informação por parte do Governo angolano. "Nós ficamos mais de dois meses sem alguma comunicação do Governo do que é que seria de nós. E a passarmos essas dificuldades todas o Governo tinha de aparecer a dizer alguma coisa”.

Não há data de regresso

Até agora não obtiveram respostas concretas. "Continuamos sem garantia sobre a data de regresso”, diz. Os entrevistados reconhecem haver um esforço por parte das autoridades em Luanda, mas Avelino Salva pede que Angola precise as datas de retorno.

"Não havendo um plano claro, com datas, que dêem alguma esperança e alento às pessoas que estão aqui, só torna a situação cada vez mais desgastante para nós. Queremos regressar para Luanda. Este é o nosso apelo”.

O grupo, cuja comissão foi recebida há duas semanas pelo Embaixador de Angola em Lisboa, ainda ponderou fazer uma manifestação de protesto, mas a ideia foi esbatida com a promessa de uma possível operação de repatriamento a partir do mês de agosto.

Vítor Carvalho, adido de imprensa da representação diplomática de Angola, confirmou o encontro do qual resultou um relatório enviado a Luanda. "Neste momento, estamos a aguardar pela data de um eventual repatriamento, de eventual realização de voos humanitários que permitam o regresso desses cidadãos a Angola. Ainda não temos uma data definitiva em relação a isso, mas é um assunto que está, portanto, bem encaminhado e estamos convencidos que vai ter uma resolução dentro de muito pouco tempo”.

Avelino Salva, um dos angolanos que não consegue regressar à casa.Foto: DW/J. Carlos

Cerca de 150 estudantes retidos em Lisboa

Lopito Feijó espera que a partir de agosto seja possível operar os voos para o regresso gradual dos angolanos a Luanda e que a operação de repatriamento, com a coordenação do corpo diplomático em Portugal seja feita da melhor maneira, "sem atropelos, priorizando aqueles cujo regresso deve ser imediato e prioritário”.

Não há números exatos, mas também há moçambicanos retidos em Portugal, entre os quais um grupo de estudantes que terminou os estudos e está impedido de regressar ao país de origem. Mendes Afonso Chongo, estudante de mestrado em Saúde Ocupacional, faz parte do grupo.

"Falo de uma lista de mais ou menos 150 estudantes. Muitos deles já ostentavam bilhetes de várias companhias aéreas e uma vez que coincide com o final do ano letivo cá em Portugal era suposto que eles viajassem. Foram fazendo os seus planos contando que, caso chegasse ao final do ano, eles pudessem viajar. Mas, infelizmente, foram [apanhados] em contra-pé com o cenário que nós todos estamos a viver – a pandemia – algo que afeta não só Moçambique”.

Este mês, a companhia aérea portuguesa TAP realiza dois voos para Moçambique. Mas ao fixar o preço do bilhete só de ida em 1600 euros, colocou muitos dos estudantes moçambicanos sem grandes condições financeiras perante novos problemas.

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