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SaúdeChina

Combinação de várias vacinas pode ser a solução para África?

Catarina Domingues (Macau)
7 de junho de 2021

A combinação de diferentes vacinas, chinesas ou não, no combate contra a Covid-19 pode ser uma solução eficaz e económica para o continente africano, defendem especialistas chineses.

WHO-Zulassung für chinesischen Impfstoff Sinovac Biotech
Vacinas chinesas já chegaram a mais de 30 países africanosFoto: Donal Husni/ZumaWire/dpa/picture alliance

A DW falou com a epidemiologista chinesa Jennifer Huang Bouey para tentar perceber qual o impacto da utilização generalizada de vacinas chinesas, geralmente de menor eficácia, que as das farmacêuticas norte-americanas Pfizer ou Moderna, no continente africano.

A investigadora do think-tank norte-americano RAND realça que “qualquer vacina é melhor do que nenhuma vacina”. Mas sublinha que “uma vacina com eficácia mais elevada vai ajudar um país ou comunidade a alcançar imunidade de grupo mais rápido".

Contudo questiona: "Mas se essas vacinas não são acessíveis em certas áreas ou países, não há nada a fazer, certo? Mesmo com baixa eficácia, se essa vacina estiver acessível, é melhor que nada”.

Uma grande parte das vacinas administradas no continente africano é de produção chinesa. As vacinas chinesas aprovadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e administradas em cerca de cem países já chegaram a mais de três dezenas de nações africanas, na forma de doação (6 milhões) e venda (14 milhões).

Os dois imunizantes, das farmacêuticas Sinopharm e Sinovac, apresentam taxas de eficácia mais baixas quando comparadas às da Pfizer e da Moderna - estas garantem uma protecção de cerca de 95% - mas estão entre as mais acessíveis a África.

Vacina chinesa Sinovac no aeroporto de Harare, Zimbabué. Foto ilustrativaFoto: Getty Images

O caso das Seychelles

Olhemos para o caso das Seychelles, um dos países mais vacinados do globo, onde 62% da população foi inoculada com os fármacos da chinesa Sinopharm e da Covidshield, vacina da AstraZeneca produzida pela Índia e que tem chegado a vários países africanos ao abrigo da iniciativa COVAX.

À semelhança da Sinopharm, também a Covidshield tem uma eficácia menor em comparação com os fármacos da Pfizer ou da Moderna. A OMS atribuiu recentemente à Sinopharm uma taxa de eficácia de 78% para pessoas entre os 18 e os 59 anos. No caso da AstraZeneca, o valor ronda 79%.

Um novo surto, em maio, obrigou o país a repensar a estratégia de combate à Covid-19. É que perto de 40% dos novos infetados já tinham sido vacinados. Mas nem tudo são más notícias: Para aqueles que estão protegidos pela vacina, mesmo que estejam infetados, terão uma doença mais leve, ou assintomática ou com sintomas leves, portanto a vacina está a protegê-los de doenças graves.

A médica Huang Bouey alerta que é necessário vacinar entre 80% a 90% da população para alcançar imunidade de grupo. Além disso – nota - existe um crescente consenso entre os profissionais de saúde de que a vacinação “não pode eliminar por si só transmissões e surtos”. Quarentenas, uso de máscara e distanciamento social devem fazer parte da estratégia de saúde pública, afirma ainda Huang Bouey.

Zimbabué: Mulher recebe vacina anti-Covid de fabrico chinêsFoto: Tafadzwa Ufumeli/Getty Images

É aconselhável combinar vacinas diferentes? 

A combinação de diferentes vacinas também pode ajudar África no combate à Covid-19, ao “aumentar o impacto dos programas de vacinação”, considera Ben Cowling, epidemiologista e docente da Universidade de Hong Kong".

E Cowling recorda: "Vi um artigo científico ainda em revisão, há uns dias, sobre a combinação da AstraZeneca e da BioNtech e parece que a resposta foi muito boa. Ao administrar a AstraZeneca e de seguida a BioNtech, penso que a resposta em termos de imunidade foi bem melhor do que duas doses da AstraZeneca. E para as vacinas chinesas eu suspeito que misturar vacinas inativadas com outro tipo poderia ser mais eficaz do que ter duas doses de vacinas inativadas.”

A epidemiologista chinesa Huang Bouey concorda: “Mas diria que qualquer uma destas intervenções farmacêuticas precisaria de bons ensaios clínicos para mostrar a eficácia e segurança das vacinas. Penso que neste momento estão a ser levados a cabo vários ensaios clínicos”.

Em Abril deste ano, o diretor do Centro de Controlo de Doenças da China, Gao Fu, admitiu que a eficácia das vacinas chinesas para a Covid-19 é baixa e que o Governo estava a considerar a combinação de fármacos. As declarações de Gao Fu fizeram eco na imprensa internacional.

O especialista recuou, mais tarde, no que disse em relação à competência dos fármacos chineses, sublinhando numa entrevista ao jornal oficial em língua inglesa “Global Times” que foi mal interpretado e que estava a referir-se a imunizantes de uma maneira geral e não apenas aos desenvolvidos na China.

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