Encerramento de lojas, especulação de preços e mau atendimento hospitalar são algumas das dificuldades apontadas por residentes na província de Inhambane, sul de Moçambique. Conselho empresarial local lamenta a situação.
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Nestes últimos dias tem sido frequente o encerramento das lojas e o agravamento do mau atendimento hospitalar na província de Inhambane. Os casos de infeção por Covid-19 têm aumentado nesta região, o que piora cada vez mais a situação nos hospitais.
Amâncio Alberto, residente na cidade de Maxixe, disse à DW África que por causa da pandemia, muitos proprietários de lojas têm sido oportunistas, especulando os preços dos produtos de primeira necessidade, por isso pede melhorias no comércio.
"Há muitas lojas e armazéns que se têm aproveitado das pessoas, já não sabemos se aquele é o preço [real] do produto. As coisas estão muito caras agora e existe desorganização, sofremos muito", lamenta.
Marcelo Basílio, outro residente de Inhambane, lamenta o encerramento de algumas lojas e pede a melhoria no comércio de produtos. "Reduziu, mas também os comerciantes precisam de clientes, fecham mais cedo, deviam melhorar ainda mais", diz.
Dificuldades no atendimento hospitalar
Desde janeiro, os casos de oronavírus ultrapassaram a barreira dos 500 infetados na província de Inhambane. Por isso, muitos cidadãos têm tido dificuldades para atendimento hospitalar público e reclamam da demora nos testes.
Inhambane: Idosos abandonados, sem subsídio da Covid-19
01:49
Joaquim José, utente em Inhambane, revela em entrevista à DW África a falta de medicamentos nos hospitais. "Fui lá na semana antepassada fazer teste de tosse e ainda não saiu o resultado e vi que mesmo medicamentos não há."
Micaela Hassane, residente em Massinga, conta que já passou momentos difíceis quando procurou serviços no hospital público local. "Já aconteceu quase três vezes neste intervalo de dezembro até hoje. O que nós queremos são os medicamentos", sublinha.
Abdul Razaque, presidente do Conselho Empresarial em Inhambane, afirma que a Covid-19 já matou alguns comerciantes e há mais casos no setor do comércio. "Infelizmente até eu tenho de lamentar esta situação, temos tido mais comerciantes com problemas da pandemia do que noutras áreas. Alguns proprietários dessas lojas encontram-se em Maputo em exames ou tratamento deste vírus", conta.
O porta-voz da Direção provincial de Saúde em Inhambane, Crimildo Helena, diz que há muita procura de utentes pelos serviços sanitários na província, "principalmente para testagens de caso de Covid-19 porque é uma doença nova e todo o mundo está preocupado."
O fardo da Covid-19 para as famílias de Inhambane
Milhares de famílias estão a sofrer na província de Inhambane, no sul de Moçambique, desde que eclodiu a pandemia do novo coronavirus. Há pessoas sem emprego, em isolamento, obras paralisadas e os bens escasseiam.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Famílias sofrem por causa da Covid-19
Muitos habitantes da província moçambicana de Inhambane perderam os postos de trabalho por causa da crise provocada pela Covid-19, outros foram dispensados para cumprirem o isolamento social. Por outro lado, há obras paralisadas e faltam vários produtos, principalmente nas zonas rurais. Muita gente está a migrar para as cidades e vilas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
A culpa é do coronavírus
Dulce Eugénio, mãe de dois filhos e residente no bairro Sarrene, na cidade de Maxixe, disse que antes da pandemia o negócio corria muito bem, mas depois ficou sem dinheiro: "Consegui comprar o meu terreno e já estava a construir a minha casa de blocos com este pequeno negócio de vender tomates, cebola, pepino e cenoura, mas essa doença veio atrapalhar toda a situação."
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Coronavírus trouxe mais fome"
Com o confinamento obrigatório decretado em abril de 2020, a situação da fome agravou em Inhambane. Os cidadãos consideram que a pandemia do novo coronavírus "trouxe mais fome e miséria às comunidades". O desespero continua a imperar.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Viver de hortaliças é para quem pode
Há cada vez mais pessoas desempregadas, muitas famílias tiveram de adaptar as receitas em casa e passaram a consumir mais verduras, por exemplo. Mesmo assim, nem todos conseguem comprar, porque as hortaliças também já começam a escassear. Marta Alberto diz que não foi registada para receber o subsídio da Covid-19, concedido pelo Estado, e pede ajuda.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Produção agrícola em queda
Não é só a pandemia que tem sido um problema. Não tem chovido e muitas pessoas abandonaram a atividade agrícola. Os camponeses pedem ao Estado sementes, que estão cada vez mais caras no mercado. Em Inhambane, nem todos os camponeses vão receber o subsídio de dois mil meticais mensais (cerca de 23 euros) para suprir as suas necessidades durante seis meses.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Abandonada pela família e sem apoio
Joana Cândido foi abandonada pela família. Vivia com os netos, mas, com a pandemia, o filho solicitou aos netos que residissem juntos noutro bairro, deixando assim a idosa à sua sorte. Com problemas na perna e dores constantes na coluna, não lhe é fácil ter três refeições por dia. Afirma que não foi selecionada pelo Instituto Nacional de Ação Social (INAS) para receber o subsídio da Covid-19.
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Estamos a sofrer e precisamos de apoio"
Laura Simão foi registada pelo INAS, na cidade de Maxixe, mas ainda não recebeu o dinheiro e afirma não ter comida suficiente. Em situação semelhante estão muitas outras pessoas carenciadas, que foram inscritas mas ainda não receberam os subsídios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Excluída dos apoios, com a panela vazia
Maria João revela que não foi contemplada pelos apoios da Covid-19. Ficou surpreendida, porque não trabalha, tem filhos a seu cargo e a panela vazia. E pede apoio ao Estado.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Enganar a fome
Teresa António trabalhava como doméstica em Inhambane, numa residência, mas, com a pandemia, teve de deixar de trabalhar para os seus patrões. Agora desempregada, diz que é difícil ter arroz na mesa e, muitas vezes, tem de misturar o arroz com tapioca (farinha de mandioca) para conseguir enganar a fome.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Vender mangas para sobreviver à pandemia
Cândida Maurício fazia venda ambulante no centro da cidade da Maxixe, mas - impossibilitada de continuar o negócio na rua por causa da pandemia - teve de se adaptar. Faz agora revenda de mangas na sua residência, mas soma prejuízos e não recebe apoio do Governo.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Perdeu o emprego com a Covid-19
Com o encerramento dos estabelecimentos comerciais em cumprimento do decreto do estado de emergência, João Saul foi demitido do serviço de guarda. Afirma que a pandemia lhe trouxe efeitos negativos que jamais irá esquecer. Sobrevive com o subsídio que recebe por ser desmobilizado - não superior a 50 euros - valor que considera insuficiente.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Sonho perdido?
Nina Cumbe concluiu o 12º ano de escolaridade em Inhambane, em 2019. Antes da eclosão da pandemia, queria concorrer a uma escola técnica profissional, mas não conseguiu, porque muitos estabelecimentos de ensino tiveram que encerrar com a declaração do estado de emergência no país. Agora, tenta ganhar a vida fazendo tranças a amigas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Resta fé e esperança
No meio de tanto sofrimento provocado pela pandemia do novo coronavírus, as famílias estão a lutar para superar a crise. Ilda Joaquim, residente de Inhambane, afirma que o confinamento social agravou a maneira de viver e que está a ser difícil adaptar-se às novas medidas. Reza muito para que consiga ultrapassar esta crise, porque está difícil receber apoios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
À espera de dias melhores
Antes da chegada do novo coronavírus, Maria Alberto fazia trabalhos para terceiros e produzia mandioca para fabricar e vender farinha. Hoje, é uma simples dona de casa que deixa as panelas limpas à espera que o marido traga alguma coisa dos seus biscates diários. Lamenta o sofrimento provocado pela Covid-19, mas vive na esperança de que tudo voltará à normalidade.