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SaúdeCabo Verde

Covid-19: Hospitais sob pressão, mas a conseguir responder

7 de maio de 2021

Cabo Verde regista um aumento exponencial de novos casos de infeção com coronavírus. Apesar do aumento da pressão, os serviços hospitalares têm conseguido, para já, manter a capacidade de resposta.

Hospital Agostinho Neto, Cidade da Praia, Ilha de SantiagoFoto: DW/A. Semedo

Cabo Verde bateu, esta semana, um novo recorde diário com 417 casos de infeção com coronavírus. Regista atualmente 3.152 casos ativos.

A situação preocupa a população e as autoridades nacionais tendo o Governo decretado, há uma semana, o estado de calamidade por 30 dias em todas as ilhas do arquipélago, à exceção da Brava.

Em entrevista à DW África, Maria da Luz Lima, presidente do Instituto Nacional de Saúde Pública (INSP), mostra-se confiante de que o reforço das restrições possa rapidamente achatar a curva e apela a uma maior sensibilização da população para o cumprimento das regras.

DW África: Qual é a situação sanitária em Cabo Verde neste momento?

Maria da Luz Lima (MLL): Desde o início da pandemia, em março do ano passado, tivemos uma primeira onda com um aumento de casos inicial, mas a curva foi evoluindo tranquilamente, depois baixou, tendo voltado a aumentar ligeiramente no final do ano passado, mas nada por aí além.

Neste último mês, temos tido um número crescente de casos, atingindo neste momento valores muito mais altos do que na primeira fase. É uma preocupação para as autoridades de saúde. Com todas as informações de prevenção que tem havido e as medidas tomadas, é claro que não se esperava, mas é algo que temos agora de controlar para conseguirmos reduzir o número de casos.

Campanha para travar Covid-19 na Praia

02:36

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DW África: O que motivou esse aumento exponencial de novos casos?

MLL: Em finais de março já havia essa tendência de aumento de casos. Depois foram as festas da Páscoa, as campanhas [eleitorais para as legislativas], isso tudo poderá ter contribuído para esse aumento. Também [terá sido motivado] por um relaxar em relação às medidas preventivas nos últimos meses, talvez por algum cansaço provocado pelas restrições impostas pela pandemia. Além disso, acreditamos que a chegada da vacina a Cabo Verde – apesar de termos dito que a vacinação é mais uma medida– poderá ter contribuído nesse sentido, porque as pessoas começam a pensar que já há solução e podemos estar mais tranquilos.

Também há outro fator muito importante que se prende com o facto de Cabo Verde ter uma estratégia de testagem que, se calhar, muitos países não estão a adotar. Desde o início, foi sempre adotada a estratégia de "testar, testar, testar". Todos os casos suspeitos, contactos dos casos positivos, as viagens internacionais e interilhas. Portanto, tem havido também um aumento do número de testes e, consequentemente, aumenta o número de casos positivos.

Por fim, o facto de termos a variante do Reino Unido a circular no país [também motivou o aumento]. Vamos tento resultados, mas até agora 8% das amostras processadas demonstraram a presença dessa variante e, como a ciência diz, tem uma alta transmissibilidade.

DW África: Que medidas têm sido tomadas no sentido de travar essa tendência crescente?

MLL: Desde logo, a declaração do estado de calamidade a nível nacional – exceto na ilha da Brava que tem pouquíssimos casos -, o aumento da comunicação de risco, as campanhas mais próximas da população para implementar medidas preventivas, as campanhas porta a porta e carros de som... Estamos também a trabalhar com organizações não-governamentais que já assumiram esse papel da comunicação e sensibilização das pessoas e as Câmaras Municipais. Acreditamos que rapidamente poderemos controlar essa situação.

Ajuntamentos nas campanhas para as últimas eleições legislativas, em abril, podem ter contribuído para aumento de casosFoto: picture-alliance/dpa/M.Cruz

DW África: A declaração do estado de emergência é uma possibilidade?

MLL: Não tenho conhecimento se essa possibilidade está em cima da mesa. Por agora temos o estado de calamidade e uma maior fiscalização pelas forças de segurança. Acreditamos que com medidas estruturantes conseguiremos controlar a pandemia. Quanto ao estado de emergência, não tenho informações e não posso avançar.

DW África: Como tem sido a resposta dos hospitais do país? Há risco de rutura?

MLL: Os serviços de saúde tiveram de adotar estratégias para responder à demanda de casos. No início da pandemia havia alguns hospitais de campanha que foram encerrados, e agora alguns vão sendo reabertos para os casos moderados. As situações mais graves ficam nos hospitais, nos serviços mais avançados. Tem havido uma certa pressão, mas o serviço de saúde tem conseguido lidar com a situação.

Felizmente não tem faltado oxigénio quando há necessidade de internamento ou de um tratamento específico, pelo menos até agora. Por enquanto estamos a aguentar bem. Pensamos que a vacinação dos grupos de risco e mais vulneráveis poderá também ter contribuído para que não tenhamos assim tantos casos graves. Continuamos com uma taxa de assintomáticos positivos de mais de 70%.

DW África: Chegou esta semana ao arquipélago uma missão portuguesa do INEM para levantamento de eventuais necessidades no combate à pandemia. Se a situação atual continuar, o país poderá precisar de mais apoio internacional?

MLL: Cabo Verde fez esse apelo desde o início da pandemia. A nível internacional, estão cá ainda médicos cubanos que têm dado uma ajuda muito importante, também Portugal está a ajudar-nos. Essa equipa do INEM está a fazer uma análise da situação, para verem as fragilidades e onde é que podem efetivamente ajudar, para que o apoio tenha mais impacto.

DW África: Qual tem sido o grupo mais afetado?

MLL: Continua a mesma tendência, na idade entre os 20 e os 45 anos. É o grupo mais afetado. Cabo Verde tem uma população jovem e é normal que os jovens sejam mais afetados. Infelizmente, são os jovens que são mais assintomáticos e acabam por transmitir a outras pessoas de grupos vulneráveis, podendo desencadear situações mais graves e óbitos.

DW África: Como tem decorrido o processo de vacinação? Há desconfianças e recusas por parte da população?

MLL: Há boa adesão à vacinação. Segundo as informações que temos até agora, não tem havido grandes recusas, nem por parte dos profissionais de saúde nem da população em geral.

Já foram vacinados os profissionais de saúde, estão em fase de vacinação pessoas com mais de 65 anos, mas já há pessoas mais jovens a perguntar quando poderão ser vacinadas. Há essa procura e a população está sensibilizada, pelo menos grande parte.

DW África: Os atrasos na distribuição das vacinas pela iniciativa Covax poderão afetar o programa de vacinação em Cabo Verde?

MLL: O Governo de Cabo Verde tem, com o apoio do Banco Mundial, verba disponível para aquisição de vacinas. É claro que, a nível de competição, Cabo Verde é um mercado muito pequenino e obviamente que os países maiores têm mais chances. Mas o país está confiante que conseguirá adquirir as vacinas que pretende atempadamente. Esperamos que rapidamente a Covax disponibilize a segunda tranche e estamos esperançosos que as coisas venham a correr bem. Temos também a oferta de Portugal que, segundo informações, deve chegar ainda em maio ou mais tardar no início de junho.

Cabo Verde: Vacinação contra Covid-19 é "esperança"

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