Tete, no centro de Moçambique, regista desde 1 de junho um aumento dos casos de Covid-19. A variante Delta na região acelerou a sua propagação e atinge muitos jovens, disse à DW o médico chefe da província.
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A variante Delta do novo coronavírus, com origem na Índia, foi detetada na província central de Tete. Segundo o médico chefe da província, Xarifo Gentivo, nas últimas três semanas, houve um aumento preocupante de novos casos e internamentos de doentes infetados.
Com a nova variante, há muitos jovens "aparentemente saudáveis" que acabam por ficar internados, diz Gentivo em declarações à DW África,.
DW África: Qual é o ponto da situação ao nível da província em termos de novos casos de Covid-19, principalmente com o diagnóstico da variante Delta?
Xarifo Gentivo (XG): Temos vindo a registar uma tendência de aumento do número de casos desde 1 de junho. Tínhamos diminuído. Estávamos a registar um ou dois casos por dia quando começámos a notar um novo aumento. Isto também foi caracterizado pelo aumento da taxa de positividade, que era de 1% e que, nestas últimas semanas, até ontem [segunda-feira, 21 de junho], subiu até cerca de 38%.
DW África: Quais são os distritos que estão a registar elevados números de novos casos?
XG: O distrito de Tete regista o maior número, cerca de 25 casos ativos – e depois Moatize, com 30; Changara, com 12; Cahora Bassa, com 7; e, por fim, o distrito de Marara, com 5.
DW África: Quais as faixas etárias mais afetadas por este novo aumento que se verifica na província?
XG: O grupo etário mais afetado é o grupo dos 35 a 45 anos. Depois surge o dos 45 a 54. Então, de uma forma geral, o grupo entre 35 e 50 anos é o mais afetado. Mas quem está em maior risco de ser internado e de morrer continua a ser o grupo dos maiores de 55 anos. Uma nova tendência que estamos a verificar neste novo aumento, pela nova variante - e isto já foi dito pelas autoridades centrais - é que não há muita relação com as comorbidades como no caso das outras variantes, quando [a maioria dos casos] estava ligada a pacientes diabéticos, hipertensos, cardiopatas e idosos. Agora, pessoas jovens, aparentemente saudáveis, também desenvolvem [a forma grave da] doença [Covid-19].
A vacinação contra o coronavírus em Moçambique
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DW África: Nesse caso, isto continua a constituir uma preocupação, tendo em conta que a maior parte dos jovens ainda não foi vacinada...
XG: Exatamente.
DW África: Qual a capacidade de internamento na província?
XG: Temos capacidade para internar, tendo em conta aquilo que é a nossa disponibilidade de camas. Temos pelo menos 34 camas para internamento e, neste momento, temos 12 pacientes internados.
DW África: Que ações concretas estão a ser implementadas para controlar a propagação do vírus?
XG: Muito por causa do cumprimento dos decretos presidenciais, após o relaxamento das medidas, houve um relaxamento total. Então, neste momento, temos que reforçar as ações de comunicação para podermos adotar as medidas de prevenção. As variantes não mudaram a forma de transmitir, nem a forma de prevenir [o novo coronavírus]. Por isso, vale a pena lembrar que a prevenção ainda é a medida mais eficaz. Começamos a apostar nisso, juntamente com ações multisetoriais do município, polícia, INATTER [Instituto Nacional de Transportes Terrestres] e outras instituições, para fazer a fiscalização do cumprimento do decreto, do recolher obrigatório, entre outros, e diminuir os aglomerados nos mercados.
O fardo da Covid-19 para as famílias de Inhambane
Milhares de famílias estão a sofrer na província de Inhambane, no sul de Moçambique, desde que eclodiu a pandemia do novo coronavirus. Há pessoas sem emprego, em isolamento, obras paralisadas e os bens escasseiam.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Famílias sofrem por causa da Covid-19
Muitos habitantes da província moçambicana de Inhambane perderam os postos de trabalho por causa da crise provocada pela Covid-19, outros foram dispensados para cumprirem o isolamento social. Por outro lado, há obras paralisadas e faltam vários produtos, principalmente nas zonas rurais. Muita gente está a migrar para as cidades e vilas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
A culpa é do coronavírus
Dulce Eugénio, mãe de dois filhos e residente no bairro Sarrene, na cidade de Maxixe, disse que antes da pandemia o negócio corria muito bem, mas depois ficou sem dinheiro: "Consegui comprar o meu terreno e já estava a construir a minha casa de blocos com este pequeno negócio de vender tomates, cebola, pepino e cenoura, mas essa doença veio atrapalhar toda a situação."
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Coronavírus trouxe mais fome"
Com o confinamento obrigatório decretado em abril de 2020, a situação da fome agravou em Inhambane. Os cidadãos consideram que a pandemia do novo coronavírus "trouxe mais fome e miséria às comunidades". O desespero continua a imperar.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Viver de hortaliças é para quem pode
Há cada vez mais pessoas desempregadas, muitas famílias tiveram de adaptar as receitas em casa e passaram a consumir mais verduras, por exemplo. Mesmo assim, nem todos conseguem comprar, porque as hortaliças também já começam a escassear. Marta Alberto diz que não foi registada para receber o subsídio da Covid-19, concedido pelo Estado, e pede ajuda.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Produção agrícola em queda
Não é só a pandemia que tem sido um problema. Não tem chovido e muitas pessoas abandonaram a atividade agrícola. Os camponeses pedem ao Estado sementes, que estão cada vez mais caras no mercado. Em Inhambane, nem todos os camponeses vão receber o subsídio de dois mil meticais mensais (cerca de 23 euros) para suprir as suas necessidades durante seis meses.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Abandonada pela família e sem apoio
Joana Cândido foi abandonada pela família. Vivia com os netos, mas, com a pandemia, o filho solicitou aos netos que residissem juntos noutro bairro, deixando assim a idosa à sua sorte. Com problemas na perna e dores constantes na coluna, não lhe é fácil ter três refeições por dia. Afirma que não foi selecionada pelo Instituto Nacional de Ação Social (INAS) para receber o subsídio da Covid-19.
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Estamos a sofrer e precisamos de apoio"
Laura Simão foi registada pelo INAS, na cidade de Maxixe, mas ainda não recebeu o dinheiro e afirma não ter comida suficiente. Em situação semelhante estão muitas outras pessoas carenciadas, que foram inscritas mas ainda não receberam os subsídios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Excluída dos apoios, com a panela vazia
Maria João revela que não foi contemplada pelos apoios da Covid-19. Ficou surpreendida, porque não trabalha, tem filhos a seu cargo e a panela vazia. E pede apoio ao Estado.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Enganar a fome
Teresa António trabalhava como doméstica em Inhambane, numa residência, mas, com a pandemia, teve de deixar de trabalhar para os seus patrões. Agora desempregada, diz que é difícil ter arroz na mesa e, muitas vezes, tem de misturar o arroz com tapioca (farinha de mandioca) para conseguir enganar a fome.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Vender mangas para sobreviver à pandemia
Cândida Maurício fazia venda ambulante no centro da cidade da Maxixe, mas - impossibilitada de continuar o negócio na rua por causa da pandemia - teve de se adaptar. Faz agora revenda de mangas na sua residência, mas soma prejuízos e não recebe apoio do Governo.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Perdeu o emprego com a Covid-19
Com o encerramento dos estabelecimentos comerciais em cumprimento do decreto do estado de emergência, João Saul foi demitido do serviço de guarda. Afirma que a pandemia lhe trouxe efeitos negativos que jamais irá esquecer. Sobrevive com o subsídio que recebe por ser desmobilizado - não superior a 50 euros - valor que considera insuficiente.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Sonho perdido?
Nina Cumbe concluiu o 12º ano de escolaridade em Inhambane, em 2019. Antes da eclosão da pandemia, queria concorrer a uma escola técnica profissional, mas não conseguiu, porque muitos estabelecimentos de ensino tiveram que encerrar com a declaração do estado de emergência no país. Agora, tenta ganhar a vida fazendo tranças a amigas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Resta fé e esperança
No meio de tanto sofrimento provocado pela pandemia do novo coronavírus, as famílias estão a lutar para superar a crise. Ilda Joaquim, residente de Inhambane, afirma que o confinamento social agravou a maneira de viver e que está a ser difícil adaptar-se às novas medidas. Reza muito para que consiga ultrapassar esta crise, porque está difícil receber apoios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
À espera de dias melhores
Antes da chegada do novo coronavírus, Maria Alberto fazia trabalhos para terceiros e produzia mandioca para fabricar e vender farinha. Hoje, é uma simples dona de casa que deixa as panelas limpas à espera que o marido traga alguma coisa dos seus biscates diários. Lamenta o sofrimento provocado pela Covid-19, mas vive na esperança de que tudo voltará à normalidade.