Estado de emergência prolongado na Boa Vista e Santiago
Lusa
1 de maio de 2020
O Presidente de Cabo Verde anunciou uma nova prorrogação do estado de emergência nas duas ilhas que concentram mais de 96% dos casos de Covid-19 no arquipélago, até 14 de maio.
Publicidade
Numa mensagem ao país, Jorge Carlos Fonseca anunciou ao início da tarde desta sexta-feira (01.05) a decisão de prorrogar o estado de emergência, que desde 29 de março obriga ao dever geral de confinamento ou ao encerramento de empresas, "apenas nas ilhas da Boa Vista e de Santiago, por um período de 12 dias, com início às 00:00 do dia 03 de maio de 2020 e término às 24:00 do dia 14 de maio de 2020".
"Decisão esta que será submetida à autorização da Assembleia Nacional, nos termos constitucionais", afirmou na mesma mensagem o chefe de Estado, que assim não renovará estado de emergência na ilha de São Vicente (a terceira em que ainda está em vigor), que assim terminará às 24:00 de 02 de maio.
Só na Praia, capital do país, na ilha de Santiago, estão confirmados 60 casos de Covid-19, num quadro de transmissão comunitária, de um total nacional de 122 doentes.
Riscos relevantes
Para tomar esta decisão, Jorge Carlos Fonseca ouviu nos últimos dias autarcas, especialistas, técnicos e personalidades nacionais e estrangeiras, além do Governo e de representantes dos partidos políticos, tendo concluído que levantar o estado de emergência naquelas duas ilhas representaria "um risco ainda relevante de aceleração do risco de contágio e de possível descontrolo da pandemia", com "efeitos negativos" desde logo na pressão sobre os serviços de saúde: "Numa altura em que o país ainda não está suficientemente preparado".
Cabo Verde regista 122 casos de Covid-19, distribuídos pelas ilhas de Santiago (63), Boa Vista (56) e São Vicente (03 -- uma única família, dois recuperados). Destes, quatro foram considerados recuperados, dois dos quais em São Vicente, um na Praia e outro na Boa Vista.
Um dos casos, um turista inglês de 62 anos -- o primeiro diagnosticado com a doença no país, em 19 de março - acabou por morrer na Boa Vista, enquanto outros dois doentes viajaram para os seus países, totalizando 115 casos ativos no arquipélago.
Para entrar em vigor, esta prorrogação do estado de emergência ainda carece de aprovação pela Assembleia Nacional e terá de ser regulamentado por decreto governamental, com o Presidente da República a garantir que deixará abertura suficiente para o Governo levantar restrições neste terceiro período.
Cabo Verde recomeça aulas escolares através da TV e rádio
04:57
Ilhas sem casos
O primeiro período de estado de emergência em Cabo Verde iniciou-se a 29 de março, para todas as ilhas, para conter a progressão da pandemia, incluindo a suspensão de todas as ligações aéreas e marítimas interilhas - que continuam em vigor para todas as ilhas -, tendo sido prorrogado em 18 de abril, mas diferenciado entre ilhas.
As populações das seis ilhas cabo-verdianas -- Maio, Fogo, Brava, Sal, São Nicolau e Santo Antão - sem casos da doença deixaram a 27 de abril de estar obrigadas ao confinamento domiciliar e as empresas começaram a reabrir, terminando o estado de emergência, não prorrogado pelo chefe de Estado, mas permanecendo algumas restrições em vigor.
Estas seis ilhas continuam sem casos da doença, o que levou o chefe de Estado a sublinhar a importância das medidas que foram adotadas desde março, afirmando que, caso contrário, o número de infeções e de óbitos "seria muitíssimo pior".
Ainda assim, Jorge Carlos Fonseca enfatizou que é necessário manter "apertada vigilância" em todo o país e apelou ao Governo para cumprir com todas as medidas anunciadas para mitigar a crise económica e social provocada pela pandemia, que apresenta "impactos quase devastadores".
"Só será uma vitória [o combate à pandemia], se não deixarmos verdadeiramente ninguém para trás", disse o Presidente da República.
O que mudou em Cabo Verde com a Covid-19
Cabo Verde registou quatro casos de infeção por Covid-19 e uma morte. Todos os casos são importados. Centenas de pessoas estão em isolamento e os voos foram condicionados. O dia a dia também está a ser afetado.
Foto: DW/A. Semedo
Movimentação reduzida nas ruas
A chegada do novo coronavírus a Cabo Verde mudou a rotina dos cabo-verdianos, sobretudo nos centros urbanos, onde se tem notado a diminuição de movimentação e aglomeração de pessoas. Muitos preferem ficar em casa para diminuir o contacto social. Eventos com muitas pessoas foram suspensos em todo o país. Discotecas foram encerradas, bares e restaurantes passaram a fechar mais cedo.
Foto: DW/A. Semedo
Férias escolares antecipadas
Cabo Verde antecipou as férias escolares do ensino pré-escolar, básico e secundário para o dia 23 de março, como medida de contenção à Covid-19. As universidades também suspenderam todas as aulas e outras atividades formativas. Foram ainda estabelecidas medidas "excecionais e temporárias" para o funcionamento de creches, com a possibilidade do teletrabalho para os pais.
Foto: DW/A. Semedo
Informar com urgência a população
Campanhas de sensibilização e de esclarecimento à população sobre a Covid-19 estão a ser realizadas pelas autoridades em Cabo Verde. Carros passam informações à população sobre o que é a Covid-19, as formas de transmissão e como prevenir a doença. Estas viaturas circulam nos centros das cidades e bairros para reforçar a comunicação.
Foto: DW/A. Semedo
Transportes urbanos com lotação a 50%
Os transportes urbanos e interurbanos, como taxis e "hiaces", já estão a sentir os efeitos da Covid-19. A lotação passou para metade, com impacto direto no rendimento dos condutores. A medida visa aumentar o distanciamento entre os passageiros e evitar o contágio. "Hiacistas" e taxistas pedem apoio ao Governo para colmatarem as perdas, como a suspensão de impostos ou a facilitação de créditos.
Foto: DW/A. Semedo
Praias interditadas em todo país
As autoridades interditaram o acesso às praias do país para evitar a aglomeração de pessoas e, consequentemente, prevenir o contágio e a disseminação da Covid-19. A proibição durará enquanto se mantiver o plano de contingência a nível nacional decretado pelo Governo. A polícia está a patrulhar as zonas balneares para garantir o cumprimento da interdição.
Foto: DW/A. Semedo
Acesso limitado aos locais públicos
Mercados, bancos, farmácias, lojas e outras instituições estão a limitar a entrada de pessoas para prevenir a Covid-19, o que tem levado à criação de filas à porta destes espaços. Nos mercados da Praia, por exemplo, foi proibida a entrada de crianças e as vendedeiras com mais de 65 anos devem ficar em casa. Feiras e vendas de animais vivos são agora proibidas. Algumas lojas chinesas já fecharam.
Foto: DW/A. Semedo
Corrida aos supermercados
O anúncio do plano de contingência para a prevenção e controlo da Covid-19 e do primeiro caso da doença no país, disparou as compras em Cabo Verde. O medo de ficar sem alimentos levou as pessoas a comprarem grandes quantidades de comida e produtos de higiene. O Governo alertou a população para não açambarcarem os produtos e reforçou a fiscalização contra a especulação de preços.
Foto: DW/A. Semedo
O medo de ficar sem gás butano
O anúncio do primeiro caso de Covid-19 no país levou os cidadãos à compra desenfreada de gás butano para armazenamento, temendo a sua falta no mercado. Vários postos de venda ficaram sem este combustível para atender à elevada procura. Entretanto, as empresas de combustíveis garantem à população que têm stocks de gás suficiente para abastecer o mercado, afastando um cenário de escassez.
Foto: DW/A. Semedo
Faltam materiais de proteção individual
A falta de máscaras e álcool em gel no mercado tem deixado os cidadãos muito preocupados. A procura por estes produtos aumentou drasticamente com o registo do primeiro caso de Covid-19 no país. A empresa de medicamentos Inpharma passou a produzir álcool em gel para abastecer o país e já garantiu o fornecimento de máscaras às farmácias. Porém, a venda destes produtos está a ser racionada.