Moçambique: Aumentam pedidos de ajuda alimentar de albinos
Lusa | rl
13 de junho de 2020
Desemprego provocado pela discriminação é a principal causa apontada pela Associação de Apoio a Albinos em Moçambique. Celebra-se, este sábado (13.06), o Dia Internacional para a Consciencialização do Albinismo.
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Em entrevista à Lusa, a Associação de Apoio a Albinos de Moçambique (Albimoz) dá conta que o número crescente de pedidos de ajuda alimentar devido à covid-19 ensombram, este ano, o Dia Internacional para a Consciencialização do Albinismo. Sempre que se aproximam da associação "é para pedir mantimentos, muitos não têm o que comer, não têm nenhuma fonte de rendimento e isso piorou com a covid-19", conta Wiliamo Savanguene, presidente da Albimoz.
Para a associação, o alto nível de desemprego nas pessoas com albinismo, provocado por discriminação, é a principal causa de fome e o novo coronavírus amplificou o problema.
"Antes [estas pessoas] arranjavam outros meios para se sustentar, mas agora tudo piorou", referiu Wiliamo Savanguene, numa alusão às restrições impostas pelo estado de emergência para prevenção da covid-19, em vigor desde 01 de abril e até 29 de junho.
Cuidados em tempos de Covid-19
Sem acesso a alimentos, também não há maneira de garantir produtos de higienização.
"Nem todos tem condição de adquirir o álcool gel, por exemplo, e, por isso, temos estado a bater às portas para obter esses produtos", acrescentou o presidente da Albimoz.
A associação, com mais de 2.000 membros, comemora a Dia Internacional para a Consciencialização do Albinismo numa altura em que ainda coloca a discriminação pelas pessoas com albinismo em Moçambique como um dos seus principais desafios.
"Sem discriminação, a pessoa luta por si mesma, mas com obstáculos, é difícil, muitas portas estão fechadas", concluiu.
Estima-se que haja 20.000 a 30.000 pessoas com albinismo em Moçambique, muitas com condições de saúde agravadas devido à falta de pigmentação na pele, olhos e cabelo, tornando-as mais claras.
O cancro da pele é uma das principais causas de morte entre pessoas com albinismo na África Subsaariana, estimando-se que muitas morram prematuramente entre os 30 e 40 anos.
Outras são vítimas de perseguições, violência e discriminação devido a mitos e superstições - especialmente quando são crianças -, colocando-as entre as que mais sofrem violações de direitos humanos.
Feitiço e preconceito: albinos em Moçambique
Em vários países africanos, os albinos sofrem preconceito, são perseguidos por curandeiros, rejeitados pelas famílias e têm dificuldade em encontrar trabalho. Há no entanto ativistas que lutam contra a discriminação.
Foto: Carlos Litulo
Sem preconceitos
Por causa de um distúrbio genético, a pele, os olhos e os cabelos de pessoas com albinismo têm falta de melanina, substância responsável pela pigmentação e pela proteção de raios solares ultravioletas. Na foto, Hilário Jorge Agostinho, o único skatista albino de Moçambique. Agostinho incentiva a integração da população albina para combater os preconceitos e a exclusão social dos albinos no país.
Foto: Carlos Litulo
Pele branca, magia negra
Hilário Jorge Agostinho nas proximidades da Rua da Sé, em Maputo. Em vários países africanos, albinos são perseguidos por curandeiros para realizar rituais com eles. Existem muitas crenças ligadas ao albinismo: por exemplo, a de que manter relações sexuais com albinos cura a SIDA, a de que tomar "poção de albino" traz riqueza, ou a de que o toque de mão de um albino traz má sorte.
Foto: Carlos Litulo
O preço da pele
Na Tanzânia, considerado o país com o maior número de albinos do continente africano, albinos são mortos e desmembrados devido a uma crença de que poções feitas com partes dos corpos dos albinos trazem sorte, fortuna e prosperidade. As partes dos corpos de albinos chegam a valer milhares de dólares. Na foto, o skatista albino Hilário Agostinho faz manobra diante da Catedral de Maputo.
Foto: Carlos Litulo
Luta solidária
A luta dos albinos por reconhecimento e inclusão não é solitária, embora na maior parte das vezes não encontre ouvidos atentos. Em 2008, as Nações Unidas declararam oficialmente os albinos como "pessoas com deficiência", depois de assassinatos massivos de pessoas com albinismo na Tanzânia, vizinha de Moçambique, no Burundi e em outros países do leste africano.
Foto: Carlos Litulo
Estigma
Em Moçambique, entre outros países, crianças ou até mesmo bebés chegariam a ser usados em rituais de magia, especialmente no norte do país, na fronteira com a Tanzânia. Os albinos sofrem preconceito em vários países africanos, têm dificuldade em encontrar trabalho e muitas vezes são rejeitados pelas famílias. Na foto, o músico albino Ali Faque ensaia em seu estúdio em Maputo, em janeiro de 2010.
Foto: Carlos Litulo
Proteção da pele e dos olhos
O músico Ali Faque tem sido o embaixador na luta contra a discriminação da população que sofre de albinismo em Moçambique. Na foto, Ali Faque lê partitura em seu estúdio. Por causa da falta de proteção da pele contra os raios solares, os albinos são mais vulneráveis a problemas nos olhos e ao cancro. Precisam de roupa protetora, óculos escuros e acesso aos raros cremes de proteção solar.
Foto: Carlos Litulo
Sem direitos
Artigo do jornal sul-africano "Mail & Guardian", publicado em setembro de 2012, diz que, apesar de o país ser signatário da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, não haveria reconhecimento dos direitos de albinos neste país da Africa Austral. Em Moçambique, o músico Ali Faque também se empenha pelos direitos dos albinos.
Foto: Carlos Litulo
Mais albinos em África
O albinismo é uma condição que afeta etnias no mundo todo. Mundialmente há um albino em aproximadamente cada 20 mil pessoas. No continente africano, o número dispara para um em cada 4 mil, por ser uma condição hereditária e por mais albinos se relacionarem entre si.
Foto: Carlos Litulo
Vulneráveis
A ONU declarou os albinos "pessoas com deficiência", porque são vulneráveis ao cancro por causa da falta de proteção da pele contra os raios solares. Na Tanzânia, mais de 80 albinos terão morrido em rituais nos últimos anos, várias das pessoas com albinismo terão sido estupradas. O Governo da Tanzânia reconhece os albinos como "minoria ameaçada". Fotos: Carlos Litulo.