Histórias de idosos que sobreviveram ao coronavírus
Marina Oliveto
31 de março de 2020
O coronavírus é especialmente letal quando infeta pessoas mais velhas, mas há histórias de superação em meio à pandemia. A Covid-19 já atingiu mais de 770 mil pessoas e levou à morte quase 38 mil.
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Os números da Covid-19 são assustadores. A doença é provocada por um vírus rápido e silencioso, que quebra a rotina da população mundial. São mais de 770 mil infetados e quase 38 mil mortes confirmadas pelo novo coronavírus - o Sars-Cov-2.
Em quatro meses, o que se aprendeu sobre o surto que se tornou pandemia é que a taxa de letalidade da doença é mais expressiva entre os idosos. As pessoas com idade acima dos 60 anos compõem o chamado "grupo de risco”, juntamente com pacientes com doenças crônicas.
Algumas histórias, no entanto, estão a comover o mundo. A recuperação de idosos infetados mostra uma ponta de esperança e alívio de que os mais velhos não estão condenados a morte pelo vírus.
Supervelhinhos
A italiana Alma Clara Corsini, de 95 anos, é a primeira paciente idosa curada. No dia 5 de março, ela deu entrada num hospital da província de Modena, no norte da Itália, com todos os sintomas da doença.
Corsini passou duas semanas internada, recebendo cuidados intensivos da equipe médica, até que veio a alta hospitalar.
A Itália é um dos países mais afetados pela Covid-19 – com mais de 100 mil infectados e 11 mil mortes.
Da Gripe Espanhola ao Covid-19
de recuperação mais surpreendentes nesta pandemia vem de Rimini - uma cidade da costa adriática, também no norte da Itália. A região de Emilia-Romana é uma das mais afetada pela doença no planeta.
Apesar de boa parte da população de Rimini estar infetada e várias mortes terem sido registadas nas últimas semanas, o caso do senhor "P.”, de 101 anos, como ficou conhecido, trouxe esperança aos idosos.
Nascido em meio da pandemia de Gripe Espanhola, em 1919, o "nonno” teve alta hospitalar após ser considerado curado da Covid-19. "P.” foi um dos sobreviventes da antiga pandemia que matou 50 milhões de pessoas e infectou outras 500 milhões. Pela segunda vez, sobrevive a uma doença global.
Ao sair do hospital, o italiano disse aos enfermeiros que está feliz por integrar a página dos recuperados no jornal da cidade. Na Itália, cerca de 80% das vítimas fatais são idosas - uma estatística cruel para um país com mais de 23% população acima dos 65 anos.
Enquanto pacientes entre 60 e 70 anos têm probabilidade de 0,4% de morrer, aqueles com idades entre 70 e 80 anos têm 1,3%m e os com mais de 80 anos, de 3,6%. Embora isso não pareça uma probabilidade alta de morte, no surto que a Itália está a enfrentar, 83% das pessoas que morreram de Covid-19 tinham mais de 60 anos de idade.
A solidariedade à beira da morte
Um ato heroico de uma das vítimas do Covid-19 marcou o mundo nos últimos dias. Uma mulher belga de 90 anos, infetada pelo vírus, abriu mão do tratamento intensivo com o uso de respirador para que um paciente mais jovem fosse salvo.
Susanne Hoylaerts foi internada na cidade de Lubbek, no início de março. Ela apresentava problemas respiratórios e perda de apetite.
Após receber o diagnóstico da Covid-19, Hoylaerts disse aos médicos: "Eu já tive uma vida linda”. Esse ato gerou comoção nas redes sociais e foi visto como um incentivo para que as pessoas aderirem ao isolamento social.
Covid-19 não tem perfil etário
A Organização Mundial de Saúde (OMS) fez recomendações para que todas as pessoas que possam, fiquem em isolamento social para reduzir a velocidade da propagação da doença e número de infeções no mundo.
No entanto, se no começo do surto era possível observar que as vítimas graves e fatais estavam dentro do "grupo de risco”, aos poucos é possível perceber que isso não é uma regra e que todos estão suscetíveis.
Os Estados Unidos anunciaram no final de semana a primeira morte de uma criança por suspeita de Covid-19. O bebé de menos de 1 ano foi testado positivo para a doença em um hospital da cidade de Illinois e veio a falecer dias depois.
As causas da morte estão sob investigação, mas o caso sugere que é possível pessoas jovens e saudáveis, entre elas crianças, manifestarem a forma mais grave da doença e morrerem.
Idosos abandonados em Inhambane
Maltratados, acusados de feitiçaria e sem apoio. Em Moçambique, muitos idosos são rejeitados pelos familiares, vivem sem abrigo e passam a maior parte do dia nas ruas a pedir esmola. Governo diz que faltam fundos.
Foto: DW/L. da Conceição
Viver na rua sem abrigo e comida
Isabel Bato vive há cinco anos nas ruas da cidade de Maxixe, na província de Inhambane. Os familiares rejeitaram-na, alegando que estava a enfeitiçar os filhos e netos para que não tivessem sucesso nos seus trabalhos e negócios. Sem apoio do Governo, a idosa vive pedindo esmola nas lojas dos comerciantes locais.
Foto: DW/L. da Conceição
Caminhar sem destino
Como muitas pessoas da terceira idade, Jortina João caminha pelas ruas do distrito de Morrumbene a pedir ajuda às pessoas. É "caminhar sem ter destino e descanso", diz. Se ficar sentada, ninguém a apoiará com alimentação e roupas, sublinha.
Foto: DW/L. da Conceição
Pedir ajuda
Nos mercados, lojas e mercearias, os idosos pedem ajuda todos os dias para conseguir algo para comer, mas nem todos satisfazem os seus pedidos. Abandonada pela família, Joana de Vaz precisa de sair para pedir ajuda, mas nem sempre sai satisfeita. "Às vezes, recebo dois quilos de arroz, um pouco de óleo, mas muitas pessoas não são solidárias", conta.
Foto: DW/L. da Conceição
Olhar de fome
Tal como outras idosas no interior da província de Inhambane, Joana Wacitela passa fome devido à seca que assola esta região de Moçambique. A colheita não foi boa na sua machamba: "Estou a passar mal de fome, estou a pedir ajuda". Segundo o governo provincial, o apoio não chega a todos os idosos devido à falta de fundos.
Foto: DW/L. da Conceição
Poucos idosos recebem apoio
A Associação dos Aposentados de Moçambique (APOSEMO), o Instituto Nacional de Ação Social (INAS) e a Associação Gupuanana em Inhambane confirmam que os apoios direcionados aos idosos não chegam a todos. Em Inhambane, nem metade das pessoas da terceira idade beneficia dos programas sociais básicos. Estas pessoas são cada vez mais excluídas.
Foto: DW/L. da Conceição
Cesta básica com poucos produtos
O artigo 5º da Lei 03/2014, aprovada pelo Parlamento moçambicano, estabelece que cabe às famílias, à comunidade, à sociedade e ao Estado assegurar o direito à alimentação da pessoa idosa. Em Moçambique, algumas pessoas da terceira idade recebem uma cesta básica, mas com pouquíssimos produtos, como óleo, açúcar, arroz e sal.
Foto: DW/L. da Conceição
Amizade para sempre
Apesar de tantas dificuldades, os idosos gostam de fazer novas amizades enquanto a vida lhes permite. Sitoe Manuel e Ernesto José enfrentam juntos os problemas e reclamam do pouco apoio que recebem do INAS. "Mesmo com dificuldades, temos que ter fé e recordar os bons momentos que passámos. A amizade faz bem a uma pessoa", dizem.
Foto: DW/L. da Conceição
Sem alternativas
Japao Boane perdeu o emprego de motorista por causa da sua idade. Sem ter outra alternativa para se sustentar, decidiu abrir uma pequena banca em frente à sua residência para vender pequenos produtos, como rebuçados e bolachas. Ele diz sentir-se excluído da sociedade.
Foto: DW/L. da Conceição
Investir em pequenos negócios
Joana Chaquir luta todos os dias para sobreviver. Os filhos não lhe dão nenhum apoio. Ela decidiu começar um negócio para vender caldo e alface no mercado distrital de Morrumbene, em Inhambane. Com o que vende, consegue comprar um copo de arroz, meio litro de óleo e arroz.
Foto: DW/L. da Conceição
A perder as forças para trabalhar
Hawa Leka recebe um subsídio de 300 meticais fornecido pelo INAS. Com o dinheiro, começou a vender camarão e peixe seco em Inhambane. Ela afirma que está a perder as forças a cada dia que passa e não sabe o que será do seu futuro, caso não consiga mais trabalhar.
Foto: DW/L. da Conceição
Idosos assassinados pelos familiares
Araujo Nhanice, líder comunitário do povoado de Guicico, no distrito de Morrumbene, não recebe apoio do Governo e não sabe porquê. Ele alerta que, na sua comunidade, os casos de assassinato de idosos prosseguem e que os principais autores são familiares das vítimas.
Foto: DW/L. da Conceição
Esperança em dias melhores
Embora passem muitas dificuldades no dia-a-dia, os idosos de Inhambane ainda têm esperança de que melhores momentos virão. O rosto, no entanto, não esconde as marcas do sofrimento.