Autoridades estão preocupadas com novas cadeias de transmissão no país. Em Cabo Delgado, ministro da Saúde lançou o alerta: recomendações do Governo devem ser seguidas para evitar situação de calamidade de saúde pública.
Foto: DW
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Continua a aumentar o número de casos positivos do novo coronavírus em Moçambique, uma situação que está a preocupar as autoridades sanitárias. A preocupação cresce numa altura em que surgem novas cadeias de transmissão em vários pontos do país, com o registo de casos em Manica, Tete, Sofala e Inhambane.
Esta segunda-feira (18.05), último dos quatro dias da sua visita à província de Cabo Delgado, o ministro da Saúde, Armindo Tiago, voltou a apelar ao cumprimento rigoroso das medidas de prevenção para evitar o pior cenário: "Este apelo deve ser redobrado porque nós saímos de uma situação de transmissão esporádica para uma situação de focos de transmissão", frisou.
Segundo o ministro, após este processo de avanço na transmissão, o país estará na transmissão comunitária. "E se chegarmos a essa fase, estaremos numa situação de calamidade", garante.
Se um falha, todos falham
O ministro da Saúde lamentou ainda a postura de muitos moçambicanos perante as medidas do estado de emergência que vigora no país desde abril, contrariando o que "muitas pessoas pensam, e isto já está a ficar generalizado, que o Governo é responsável pela prevenção da Covid-19".
Cabo Delgado, o epicentro da pandemia em Moçambique
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"O papel do Governo é criar as directrizes e é cada um de nós que deve fazer o trabalho da prevenção. Portanto, prevenir a Covid-19 é uma responsabilidade de cada um de nós e de todos, como uma comunidade moçambicana. Se cada um de nós fizer a sua parte nós vamos ter sucesso na prevenção. Se um de nós falhar nós todos vamos falhar", considerou.
Também a Polícia da República de Moçambique (PRM) está preocupada com a violação das regras. Este domingo, na celebração dos 45 anos da polícia moçambicana, o Comandante-Geral, Bernardino Rafael, exortou os agentes da PRM a envolverem-se na prevenção da gripe viral, apelando ao empenho de todos os agentes "nas fronteiras, postos policiais, comando dos regimentos de várias especialidades e na garantia da ordem e segurança pública". Bernardino Rafael frisou que a PRM deve evitar perturbações "para que os moçambicanos consigam observar da melhor forma o estado de emergência".
Laboratório em Cabo Delgado?
Cabo Delgado é a província com mais infecções pelo novo coronavírus em Moçambique. Mas as amostras continuam a ser transportadas para a capital do país para serem testadas. Questionado sobre a eventual instalação de um laboratório na região, o ministro da Saúde sublinhou os obstáculos financeiros e técnicos: "Um laboratório completo a ser montado numa província como Cabo Delgado está entre 300 mil a 500 mil dólares. Isto inclui o elemento para a extração de DNA, os kits de extração e a máquina que faz o teste do PCR. Mas o problema maior não está no custo, está em assegurar a qualidade da realização do teste".
"O PCR é um teste de uma exigência técnica elevada", explicou Armindo Tiago. "Por outras palavras, não é só adquirir e colocar o equipamento em Cabo Delgado. É preciso assegurar que os aspectos técnicos estão no lugar para permitir que aquilo que é o resultado do teste seja credível".
Armindo Tiago garantiu que não há custos adicionais para o Estado com o envio das amostras de Cabo Delgado para Maputo, uma vez que a operação está a ser levada a cabo em colaboração com as Linhas Aéreas de Moçambique.
Além do apoio à equipa técnica da província no âmbito da Covid-19, a análise da situação dos deslocados dos ataques armados e a preparação da vacina contra a cólera na província, a visita do ministro da Saúde a Cabo Delgado incluiu ainda a distribuição de máscaras aos cerca de 17 mil deslocados nos centros de acolhimento em Metuge.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
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Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
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Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
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Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
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Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
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Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
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Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
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Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.