Os médicos em Moçambique anunciaram que vão processar o Governo por não pagar subsídios prometidos para enfrentarem a pandemia de Covid-19. Os médicos denunciam também as precárias condições de trabalho em todo o país.
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A Associação Médica de Moçambique abriu um processo contra os Ministérios da Economia e Finanças e da Saúde por não cumprirem com as promessas de pagamentos de subsídios de horas-extra e de risco prometidos antes mesmo de Moçambique diagnosticar os primeiros casos do novo coronavírus.
Os médicos denunciam também velhos problemas, como a falta de condições de trabalho e a redução do orçamento para o setor da saúde em quase 6% nos anos de 2018 e 2019.
"Essa situação é preocupante. Este é um país deficitário e o normal era o incremento do orçamento para atender àquilo que são as obrigações do Estado. Existem acordos internacionais a que o país está vinculado, tendo de injetar pelo menos 15% do orçamento para a área da saúde. Infelizmente, nesta altura estamos em menos de 10%", afirmou o secretário-geral da Associação Médica, Napoleão Viola, em declarações ao canal televisivo STV, parceiro da DW África.
Falta de condições
Napoleão Viola lembrou ainda que, nos últimos 15 anos, o sistema nacional de saúde moçambicano se deteriorou, registando-se situações bastantes precárias.
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"Há uma série de aparelhos que deviam estar disponíveis para diagnósticos mais específicos. Muitas vezes não estão disponíveis no país e, quando estão, estão avariados", exemplificou.
O jornalista e analista político Fernando Lima acrescenta que os médicos não podem aceitar trabalhar nas condições atuais, sabendo que o país recebeu 300 milhões de dólares dos doadores para conter o avanço do novo coronavírus.
"Eles depois não veem isso a refletir-se no seu dia a dia, na sua atividade. Portanto, aqui há dois fenómenos a separar: há uma situação conjuntural que reporta à Covid-19, mas que de algum modo reflete algum mal-estar mais global."
Saúde em África: Desfazer mitos
02:33
Para onde vão as doações?
Fernando Lima não tem dúvida de que os problemas no sistema de saúde resultam do conformismo do Governo face às doações.
"Não pode haver justiça social com doações dos benfeitores de Moçambique. Aliás, com a situação de 2016 [dívidas ocultas] sabemos que, ao nível bilateral, a cooperação não terminou. Pelo contrário, muitos dos dinheiros que iam para o Orçamento do Estado foram para projetos de natureza bilateral", refere o analista.
Recorde-se que, em 2013, os médicos entraram em greve em todo o país para reivindicar aumentos salariais. A Associação Médica de Moçambique denunciou na altura que vários profissionais foram penalizados por aderirem à grave, sofrendo processos disciplinares ou sendo transferidos ou reformados compulsivamente.
Covid-19: Cuidados de higiene em áreas de risco
Como manter os cuidados de higiene em campos de refugiados e bairros de lata é um grande desafio na pandemia. Mas alguns países e organizações estão a lutar para manter esses locais seguros e limpos.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Pilick
Zâmbia
Algumas pessoas ficam semanas sem acesso à água potável em muitas partes do mundo. O vale de Gwembe foi profundamente afetado pela seca nos últimos dois anos. Atualmente, o UNICEF está a apoiar a reabilitação e a perfuração de 60 poços para reforçar a lavagem das mãos nos pontos de distribuição de água durante a pandemia do novo coronavírus.
Foto: UNICEF/UNI308267/Karin Schermbrucker
Quénia
Várias estações de água foram instaladas em locais públicos do Quénia para fornecer a água limpa à população. Em Nairobi, para impedir a propagação da Covid-19, um menino segue as instruções de como lavar as mãos adequadamente numa estação de água em Kibera.
Foto: UNICEF/UNI322682/Ilako
Iémen
O Iémen abriga cerca de 3,6 milhões de pessoas deslocadas internamente. Com grande parte do seu sistema de saúde e saneamento destruído pela guerra, esses deslocados são altamente vulneráveis ao novo coronavírus. Voluntários treinados pelo UNICEF estão a orientar a população sobre como evitar que a doença se espalhe.
Foto: UNICEF/UNI324899/AlGhabri
Síria
A Síria enfrenta um problema semelhante ao entrar no seu décimo ano de guerra. Milhões de sírios vivem em campos de refugiados, como o campo de Akrabat, perto da fronteira com a Turquia. Para explicar às famílias sobre os riscos do coronavírus, os funcionários da ONU visitam os campos e usam bonecos feitos à mão para falar sobre os perigos da Covid-19.
Foto: UNICEF/UNI326167/Albam
Filipinas
Os efeitos a longo prazo dos desastres naturais também são um fator de risco. Nas Filipinas, as casas de banho públicas, como as vistas aqui, num centro de evacuação na cidade de Tacloban, tornaram-se um terreno fértil para a propagação do vírus. O saneamento tornou-se ainda mais crucial. A região sofre com os efeitos posteriores do tufão Haiyan há anos.
Foto: UNICEF/UNI154811/Maitem
Jordânia
Kafa, de 13 anos, volta à caravana da sua família carregando um grande recipiente de plástico cheio de água que ela acabou de coletar num ponto de abastecimento comunitário. As mulheres no maior campo de refugiados da Jordânia agora estão a fabricar sabão com materiais naturais para as famílias necessitadas.
Foto: UNICEF/UNI156134/Noorani
Índia
Na Índia, as pessoas são incentivadas a costurar máscaras em casa. Isso também gera dinheiro, especialmente para mulheres que vivem em áreas rurais. Estas mulheres costuram máscaras no centro de Bihar, na GOONJ, uma ONG situada em vários estados indianos, que disponibiliza socorro, ajuda humanitária e desenvolvimento comunitário.
Foto: Goonj
Bangladesh
Voluntários de vários grupos de pessoas com deficiência também se envolvem ativamente na distribuição de desinfetantes pela cidade de Dhaka. Roman Hossain distribui desinfetantes e informa outros membros da sua comunidade sobre a importância de lavar as mãos regularmente.
Foto: CDD
Guatemala
Há uma necessidade urgente de reduzir os impactos da crise da Covid-19 em Huehuetenango, na Guatemala, para além da crise alimentar já existente, causada pela seca de 2019. As comunidades indígenas esperam todos os dias para coletar seus alimentos e kits de higiene básica, onde também obtêm informações e recomendações para prevenir a Covid-19 nos idiomas locais.