Covid-19: Cumprimento de medidas abranda em Moçambique
Leonel Matias (Maputo)
18 de maio de 2020
Instituto para Democracia Multipartidária aponta a subsistência, a negligência e a falta de fiscalização como motivos para o abrandamento no cumprimento das medidas restritivas nas últimas três semanas em Moçambique.
Publicidade
O Instituto para Democracia Multipartidária afirma ter ficado evidente que nas últimas três semanas houve um abrandamento no cumprimento das medidas restritivas e um aumento da mobilidade das pessoas, apesar dos apelos para permanecerem em casa.
Moçambique está a observar desde 1 de maio o segundo período do estado de emergência, que consiste num conjunto de medidas "bastante oportunas e algumas das quais estão a ser implementadas com alto nível de eficácia", considera Osman Crossing, gestor de projetos da organização da sociedade civil.
No entanto, registam-se várias violações do estado de emergência explicadas, em parte, por "alguma negligência por parte do cidadão, uma vez que ele tem informação sobre quais são as medidas e mesmo assim não as cumpre", mas também pela "necessidade premente das pessoas procurarem garantir a sua subsistência e, por outro lado, a existência de um reduzido nível de fiscalização", explica Osman Crossing.
"Fragilidades evidentes"
A organização da sociedade civil menciona outras violações, como o registo de casas de diversão, como barracas e bares, que estão a ser reabertos, máscaras mal usadas e em alguns casos até sujas.
Segundo o bispo Dinis Matsolo, apesar dos esforços das autoridades governamentais para conter a propagação da doença, nesta segunda fase do estado de emergência ficam evidentes algumas falhas, nomeadamente "no sistema de rastreio e monitoria de casos suspeitos".
"Ainda no campo das fragilidades, algumas medidas adoptadas, como são os casos da redução de aglomerados, não estão a surtir os efeitos desejados por fraca capacidade de controlo e falta de preparação do pessoal para implementação", afirmou o bispo.
O bispo Dinis Matsolo acrescentou que no setor dos transportes não está a ser eficazmente implementado o distanciamento social e, na educação, não foram criadas condições estruturais e com base na equidade para que todos possam estudar em casa, em tempos de confinamento.
Endurecer medidas não é solução
Na sexta-feira (15.05), o Presidente Filipe Nyusi admitiu a tomada de medidas mais duras se persistir o incumprimento de algumas restrições, nomeadamente caso os níveis de circulação interna continuarem altos.
No entanto, para o bispo Dinis Matsolo, não se justifica avançar eventualmente para um endurecimento das medidas até ao nível quatro, apontando como melhor opção a adopção de medidas combinadas de sensibilização do cidadão, melhoria do mapeamento e monitoria de pessoas suspeitas ou a quarentena e o reforço da capacidade das instituições para melhor fiscalização.
O Instituto para Democracia Multipartidária defende ainda que quaisquer medidas restritivas adicionais devem ter em conta a necessidade premente de subsistência dos cidadãos, e recomenda o envolvimento de todos os segmentos da sociedade no processo de tomada de decisões no contexto do estado de emergência.
Epidemia evolui para "focos de transmissão”
Com um total de 145 casos de pessoas infectadas com o Covid-19 ate esta segunda feira (18.05), o Diretor Geral do Instituto Nacional de Saúde, Ilesh Jani, disse que o país acaba de transitar da fase de epidemia com casos esporádicos para uma epidemia baseada em focos de transmissão.
"A janela de oportunidade para evitar a transmissão comunitária ainda existe, mas não será permanente. É preciso intensificar o cumprimento das medidas de prevenção para evitar o pior. Esta acção depende da sociedade como um todo", concluiu o diretor.
Moçambique já realizou 6.272 testes, dos quais 145 revelaram-se positivos, representando uma taxa de positividade de 2.3%. O número de pessoas recuperadas é de 46, sem nenhum óbito. Das 11 províncias do país, apenas quatro ainda não registaram nenhum caso, nomeadamente Gaza, Zambézia, Nampula e Niassa.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.