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Covid-19: Moçambique terá que "lutar com as armas que tem"

6 de julho de 2021

Moçambique foi o país com maior aumento de casos de Covid-19 nas últimas duas semanas em África, mostra estudo. O investigador Jorge Matine diz que "fica difícil aos africanos socorrerem a si próprios" sem apoio externo.

Foto: Osvaldo Silva/AFP

Um estudo do Instituto Tony Blair, publicado esta terça-feira (06.07), dá conta de que Moçambique foi o país com maior crescimento de casos de Covid-19 nas últimas duas semanas em África, com um aumento de 172%.

Esta terça-feira (06.07), o país registou mais 11 mortes e 1.458 novos casos - a maioria na cidade e província de Maputo.

Apesar do crescimento das infeções, Jorge Matine, médico e investigador da organização não-governamental Observatório Cidadãos para a Saúde, não duvida que o país está agora mais "bem preparado" do que há um ano, quando enfrentou a primeira vaga da pandemia.

A vacinação contra o coronavírus em Moçambique

03:41

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Jorge Matine notou ainda que o Governo moçambicano "replicou abundantemente todas as medidas anunciadas pela Organização Mundial da Saúde" (OMS) em todo o país - desde o confinamento, ao fecho do comércio e obrigatoriedade do teletrabalho. "Por isso, que tipo de medidas deveriam ser implementadas mais?", questiona.

Mesmo assim, pondera que nem sempre a implementação das medidas no país teve sucesso, devido em parte a problemas sociais e de proximidade com a África do Sul.

Entre vacinas doadas pela China, Índia, Portugal e o mecanismo internacional Covax, chegaram a Moçambique desde o início da pandemia 981 mil doses. A estas somam-se outras 500 mil vacinas adquiridas pelo setor privado para os seus trabalhadores. Destas, 139.000 foram oferecidas ao Ministério da Saúde.

Moçambique terá que continuar "a lutar com as armas que tem", frisa Jorge Matine, que acrescenta: "O pouco que está a chegar permitiu já ir vacinando as pessoas que estão na primeira linha. Agora, se os outros continuarem a ficar com as vacinas, vai ser difícil eliminar esta pandemia". 

DW África: O Governo moçambicano já confirmou que Moçambique está perante à terceira vaga da pandemia. O país tem agora mais condições para fazer frente a uma nova vaga do que um ano atrás?

Jorge Matine (JM): Penso que Moçambique está melhor preparado hoje para poder enfrentar, pelo menos sem grandes problemas, essa terceira vaga do que estava há um ano, quando começou a primeira vaga da pandemia. 

DW África: Em vários países do mundo, o combate a novas variantes e vagas está a ser feito com a vacinação massiva, o que não é o caso de Moçambique e África em geral. Posto isto, qual deve ser a estratégia do Governo para evitar um novo surto mais grave?

JM: Neste momento - e este é o discurso que tem sido uma marca do Governo desde o princípio - é que todas as medidas anunciadas pela OMS foram replicadas abundantemente em todas as zonas do país. Houve uma comunicação direta do Presidente Filipe Nyusi aos moçambicanos sobre a gravidade da pandemia. Com a situação de pobreza do país e que atinge uma grande faixa da nossa população, Moçambique não tem sido capaz de implementar com sucesso esses tipos de medidas. Veja só que, nos grandes centros urbanos, é onde essa situação mais prevalece. 

Jorge Matine: "Que tipo de medidas deveriam ser implementadas mais?"Foto: Privat

DW África: Como pode esta realidade ser alterada? Devem ser impostas mais sanções?

JM: Isso é um bocado difícil. O que se dizia entre nós quando eu era mais jovem era "vamos brincar lá fora". Com a chegada da pandemia, esse discurso alterou-se. O Governo está consciente de que é necessário alterar hábitos, e isso está sendo feito pelo Governo moçambicano, pelas autoridades sanitárias e também pelas autoridades policiais. E, neste momento, eu pergunto, que outros tipos de medidas poderiam ainda ser aplicadas? Fechar o comércio, o recolher obrigatório, obrigar as pessoas a ficarem confinadas, o teletrabalho - tudo foi ensaiado. É verdade que não temos tido muita sorte, porque os países vizinhos são grandemente afetados pela pandemia. A África do Sul foi o primeiro país aqui na região austral de África a ser atingido pela variante Delta.

DW África: Moçambique está apto para identificar a variante Delta ou continua a enviar os testes para a África do Sul?

JM: Ainda está a enviar os testes para a África do Sul.

DW África: A OMS disse recentemente que a procura de oxigénio em África pode vir a ser um problema nesta terceira vaga. Acha que Moçambique corre também este risco?

JM: Conhecendo a realidade moçambicana e olhando também para as dificuldades da economia africana, os países vizinhos e outros, somente a África do Sul estaria em condições de fazer face com sucesso a uma situação de carência de oxigénio. Nós temos que lutar com as armas que temos, porque se o Ocidente - sobretudo a União Europeia e os Estados Unidos da América - também não divide as condições que tem, fica difícil para os africanos socorrerem a si próprios. Se outros continuarem a manter consigo as vacinas, não vai ser possível eliminar essa pandemia. Vamos levar muitos mais anos.

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