Enquanto algumas igrejas suspenderam os cultos, outras continuam a realizar atividades com aglomerações de pessoas. Medidas preventivas não estão a ser seguidas em todos os templos.
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Para maior prevenção da doença Covid-19, a diocese da igreja católica em Inhambane, no sul de Moçambique, cancelou a realização de todas as missas há quase uma semana.
E como a pandemia continua a expandir-se, o Vaticano enviou uma carta a todas paróquias desta região com uma série de recomendações, entre as quais parar com as atividades que reúnem muitas pessoas. Deste modo, as celebrações passam a ser privadas.
"Nós, como sacerdotes, temos a obrigação de rezar pelos nossos fiéis até que a doença passe”, conta o porta-voz da diocese de Inhambane, Frei Orlando.
Apesar de as autoridades recomendarem que as pessoas mantenham a distância umas das outras como medida preventiva, algumas igrejas ainda continuam a realizar as suas atividades com algumas aglomerações.
Entretanto, segundo Adriano Vilankulo, delegado do Conselho Cristão de Moçambique em Inhambane, todos os distritos foram já avisados para dividir os crentes em grupos mais pequenos do que o habitual e, se for necessário, cada um deve rezar na sua residência.
"Neste preciso momento, dividiu-se os crentes em grupos de 30, 50 ou 40. É preciso obedecer às recomendações do Presidente da República, porque de que vale ir à igreja para mais tarde aparecer que mais de 50 pessoas foram infetadas na mesma hora?”.
Apelo por mais vigilância
Muitas igrejas protestantes ainda não encerram as portas na região. Augusto José, pastor da Igreja Mundial do Poder de Deus, disse à DW que continuam a rezar, mas com menos crentes e foram formados dois grupos para as orações.
"16 horas como também 18 horas, vêm aí 40 a 30 pessoas. A solução é lavar as mãos com sabão, é isso que estamos a fazer. Aqui na igreja apelamos que as pessoas não fiquem apertadas”, explica o pastor.
Aimane Abacar Juma, porta-voz da mesquita Hallima Bibi, a maior da cidade de Maxixe, afirma que foram já interrompidas as orações de sexta-feira porque concentram muita gente.
"As orações ainda estamos a fazer, só o Juma é que agora está anulado porque enche muito. O Sulati estamos a fazer um metro de distância com outro. Aqui na mesquita aconselhamos a ficar em casa”.
Já foram declarados os primeiros casos de coronavírus em Moçambique, mas nas ruas nota-se que muitas pessoas não seguem ainda nenhuma medida preventiva.
Por isso, o porta-voz da diocese de Inhambane apela a uma maior vigilância nos movimentos efetuados entre os membros de cada família de modo a evitar trazer a doença para casa.
"De quarentena, cada um em sua casa, é a medida que todos devíamos disciplinar e observar. Porque se um sai, lá onde vai, ainda que eu guarde a minha quarentena, ele no regresso pode trazer doença para casa”.
Esperança, paz e reconciliação na visita do Papa Francisco a Moçambique
O líder da Igreja católica foi recebido em festa pelo país inteiro. Mas houve críticas ao alegado aproveitamento político da visita em vésperas de eleições.
Foto: DW/M. Sampaio
Moçambique em festa
Volvidas mais de três décadas sobre a última visita de um Papa a Moçambique, esta quarta-feira, 4 de setembro, foi a vez do Papa Francisco levar aos moçambicanos uma mensagem de paz, justiça e reconciliação. Por poucos momentos, o país esqueceu as dificuldades políticas, económicas e sociais que atravessa para celebrar o sumo pontífice.
Foto: DW/M. Sampaio
Danças e cantares para o Papa
A festa começou logo à chegada do Papa Francisco no fim da tarde. Muitos moçambicanos têm esperança que o chefe da Igreja católica dê um novo ímpeto ao processo de reconciliação, numa altura em que o acordo de paz assinado entre a RENAMO e a FRELIMO há poucas semanas volta a ser posto em causa por milícias armadas.
Foto: DW/M. Sampaio
Aproveitamento político?
O Papa Francisco foi recebido com as devidas honras pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, mas dos partidos da oposição choveram críticas ao alegado aproveitamento político da visita pelo partido no poder, a FRELIMO. Tanto mais que o país está em vésperas de eleições gerais, marcadas para 15 de outubro.
Foto: DW/Ricardo Franco
Suspensão da campanha eleitoral
A campanha eleitoral em Maputo foi interrompida pela duração da visita. A decisão não convenceu os partidos da oposição. O porta-voz do MDM, Sande Carmona, levantou mesmo a suspeita de que a visita do Papa "seja uma oportunidade para a lavagem de dinheiro dos cofres do Estado, para financiar a campanha eleitoral da FRELIMO". A visita do Papa terá custado ao Estado o equivalente a 300 mil euros.
Foto: DW/M. Sampaio
Apelo aos direitos humanos
A Amnistia Internacional (AI) pediu ao Papa que na sua deslocação a Moçambique aborde com o Presidente Nyusi a situação da violação dos direitos humanos. Uma carta subscrita pela AI e mais 11 organizações moçambicanas e internacionais expressa enorme preocupação "com a crescente intimidação e perseguição aos defensores dos direitos humanos, ativistas, organizações da sociedade civil e média"
Foto: DW/M. Sampaio
Nação abençoada
"Moçambique é uma nação abençoada e vós especialmente sois convidados a cuidar desta bênção", disse o Papa no seu primeiro discurso em Moçambique. Mas Francisco também frisou que "sem igualdade de oportunidades" não há paz duradoura. Francisco criticou "a pilhagem e espoliação" no país.
Foto: DW/Ricardo Franco
Encontro com os jovens de Moçambique
Jovens de todas as confissões foram convidados a encontrar-se com o Papa no Pavihão de Maxaquene em Maputo. O pavilhão encheu para escutar a mensagem de Francisco. Que foi clara: "Estejam atentos àqueles que querem dividir e fragmentar". Uma alusão também a movimentos obscuros de cariz islamita suspeitos de estarem na origem de violência no norte do país.
Foto: DW/M. Sampaio
Alegria ecuménica
Nas redes sociais circularam apelos de proveniência incerta contra a participação de jovens muçulmanos na festa em torno do Papa. Mas muitos muçulmanos foram ouvir a mensagem de paz e reconciliação que lhes foi igualmente dirigida. "A alegria de viver, como se pode sentir aqui, a alegria partilhada e celebrada, reconcilia", declarou Francisco.
Foto: DW/M. Sampaio
A 47ª visita do Papa ao exterior
Jorge Mário Bergoglio é o segundo Papa a escalar Moçambique depois de João Paulo II em 1988. O lema da visita é "Esperança, Paz e Reconciliação". Moçambique é o sétimo país que Francisco visita em 2018, e o 47° desde que chegou ao Vaticano em 2013. De Moçambique o líder católico segue para o Madagáscar e as Ilhas Maurícias.
Foto: DW/Ricardo Franco
Atentos às palavras do Papa
O Estádio Nacional do Zimpeto encheu na manhã de sexta-feira (06.09) para a celebração da missa e homilía pelo Papa Francisco. A missa, que colocou um ponto final na visita papal, foi celebrada no dia em que se assinala um mês da assinatura de um acordo de paz - o terceiro desde 1992 - entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
Foto: DW/M. Sampaio
Apelo ao combate contra a corrupção e pela paz
Durante a homilía, o Papa Francisco fez um apelo para o combate à corrupção: "Moçambique possui um território cheio de recursos naturais e culturais", disse, mas apesar destas riquezas, "uma quantidade enorme de população vive abaixo do nível de pobreza". Numa alusão à situação de violência armada em Cabo Delgado, o Papa pediu ainda que se amem os inimigos, sem lhes responder com violência.