Covid-19: Já arrancou o processo de vacinação no Reino Unido
8 de dezembro de 2020A primeira pessoa do Reino Unido a receber a vacina contra a Covid-19, desenvolvida pela farmacêutica norte-americana Pfizer e a sua associada alemã BioNTech, foi uma mulher de 90 anos. Margaret Keenan foi filmada enquanto lhe era administrada a vacina, nas primeiras horas da manhã de terça-feira (08.12), no Hospital Universitário de Coventry, no centro de Inglaterra.
O dia do arranque do programa de imunização foi apelidado de Dia-V pelo ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, que se referiu ao feito como um "momento histórico", numa clara alusão ao Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial.
Os reguladores britânicos deram luz verde à utilização desta vacina na semana passada, que começará por ser administrada aos principais grupos de risco e só depois alargada a toda a população.
As 800.000 doses disponibilizadas ao governo do Reino Unido são apenas uma pequena fração do que é necessário. O Governo pretende vacinar mais de 25 milhões de pessoas, cerca de 40% da população, na primeira fase do seu programa de vacinação, dando prioridade às pessoas com maior risco de contrair a doença. O segundo grupo será o das pessoas com mais de 80 anos e dos trabalhadores em lares.
O Reino Unido contabilizou até ao momento mais de 61.000 mortes - mais do que qualquer outro país da Europa – e cerca de 1,7 milhões de casos associados à Covid-19.
Agências internacionais analisam uso da vacina
A entidade reguladora da saúde do Reino Unido foi a primeira agência ocidental a autorizar de emergência para o uso da vacina da Pfizer/BioNTech. Apesar da rapidez com que o regulador britânico aprovou o fármaco profilático, a diretora-executiva do organismo, June Raine, reiterou que "os mais elevados padrões" internacionais foram aplicados.
As autoridades dos EUA e da União Europeia também estão a rever a utilização da vacina, a par de outras preparações "rivais" desenvolvidas, por exemplo, pela empresa americana de biotecnologia Moderna, e por uma colaboração entre a Universidade de Oxford e o fabricante de medicamentos AstraZeneca.
As questões logísticas são um dos principais entraves à distribuição da vacina da Pfizer/BioNTech, porque esta tem de ser armazenada a uma temperatura negativa muito baixa: -70 graus Celsius (-94 graus Fahrenheit). As autoridades estão a concentrar-se nos pontos de distribuição em grande escala porque cada pacote de vacinas contém 975 doses e o ideal é que nenhuma seja desperdiçada.
No sábado (05.12), a Rússia também começou a vacinar milhares de médicos, professores e outros grupos de risco em dezenas de centros clínicos em Moscovo, com a sua vacina Sputnik V, cujo processo de desenvolvimento permanece, contudo, pouco claro para a comunidade científica internacional.
OMS defende vacina voluntária
Especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) defenderam na segunda-feira (07.12) a não obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19, preferindo a persuasão e o diálogo com as populações.
Numa conferência de imprensa online a partir da sede da organização, em Genebra, o carácter facultativo das futuras vacinas foi defendido pelo diretor para as emergências em saúde, Michael Ryan, e pela diretora do programa de vacinas da organização, Kate O´Brien.
"Não creio que a obrigatoriedade seja o caminho a seguir", sublinhou a responsável aos jornalistas, tendo Michael Ryan acrescentado que os benefícios das vacinas precisam de ser mais bem explicados, em vez de tornar a vacinação obrigatória. "Estamos preparados para apresentar os dados, os benefícios decorrentes da vacina, para que as pessoas tomem as suas decisões", disse.
Kate O`Brien, que defendeu a segurança das vacinas atualmente em processo de aprovação, notou que a experiência tem mostrado que quando os países quiseram tornar certas vacinas obrigatórias não tiveram o efeito pretendido, mas alertou que nalgumas situações e países a administração da vacina deve ser "fortemente recomendada".
Michael Ryan adiantou que quando as vacinas estiverem disponíveis para todos, o que poderá demorar até um ano, já que no início de 2021 haverá poucas e serão inicialmente para grupos de risco, muitas pessoas irão perceber que a vacinação será um "ato de responsabilidade".
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu na mesma conferência de imprensa que os países deem prioridade aos mais necessitados, como os profissionais de saúde e os mais idosos. "À medida que a oferta [de vacinas] aumenta, os próximos grupos incluiriam aqueles que têm maior risco de doença grave" devido a outras patologias associadas, e "os grupos marginalizados com maior risco", referiu.
OMS evita açambarcamento da vacina
Para evitar que os países mais ricos comprem todas as doses de vacinas que nos primeiros meses estarão disponíveis em quantidades limitadas, a OMS criou um mecanismo chamado ACT-Accelerator, para assegurar a distribuição equitativa de vacinas e outros tratamentos possíveis.
A OMS tem dito que são precisos de imediato, para esse efeito, cerca de 4 mil milhões de euros. Na conferência de imprensa de segunda-feira, o responsável máximo da organização lembrou que foi criada a Fundação OMS, para diversificar as fontes de financiamento, e disse que o diretor executivo da nova instituição, a partir de 2021, é Anil Soni, um especialista em saúde global.
A pandemia de Covid-19 já provocou pelo menos 1.535.987 mortos resultantes de mais de 67 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.