Covid-19: ONG acusa Nyusi de omitir dados sobre apoios
Lusa
2 de agosto de 2020
Centro para Democracia e Desenvolvimento acusa o Presidente de Moçambique de omitir informações sobre os apoios que o país recebeu de parceiros no relatório sobre o estado de emergência enviado ao Parlamento.
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"No seu relatório sobre o fim do estado de emergência submetido à Assembleia da República, Filipe Nyusi não informa os deputados sobre os apoios e créditos concessionais que Moçambique tem estado a mobilizar junto dos parceiros de cooperação para financiar a estratégia de resposta à pandemia da Covid-19", lê-se numa nota distribuída à comunicação social pela organização não-governamental Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD).
A 23 de março, o Governo moçambicano pediu a parceiros, em Maputo, um apoio financeiro de 700 milhões de dólares (594 milhões de euros) para cobrir o buraco fiscal provocado pela pandemia no Orçamento do Estado (OE) de 2020, bem como para financiar o combate à doença e dar apoios para os mais pobres.
Entre os parceiros que manifestaram interesse em apoiar, o destaque vai para um empréstimo de 309 milhões de dólares (262 milhões de euros) que já foi disponibilizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) a Moçambique, bem como um outro montante de 40 milhões de dólares(34 milhões de euros) aprovado a 22 de julho pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).
O relatório que o chefe de Estado moçambicano enviou na sexta-feira (31.07) ao Parlamento não apresenta informações relacionadas com os apoios, o que é "preocupante" para a organização não-governamental CDD.
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Para onde foi o dinheiro?
"Numa das passagens do relatório, o Presidente da República reporta a abertura de uma conta bancária para facilitar a prestação de contas dos fundos recebidos no âmbito da estratégia de resposta à Covid-19. Mas no documento não consta nenhuma informação sobre o dinheiro que Moçambique recebeu nos últimos quatro meses, muito menos o destino a que foi dado", refere a ONG.
O documento do chefe de Estado moçambicano faz menção a gastos de cerca de 68 mil milhões de meticais ( cerca de 818 milhões de euros ) com fornecedores de bens e serviços contratados "com recurso a mobilidade de ajuste direto", como uma das medidas "mais flexíveis e céleres".
Para a ONG, esta opção não é segura e "existe o risco de algumas instituições públicas se terem aproveitado do estado de emergência para fazer adjudicações diretas de empreitadas de obras públicas, fornecimento de bens e prestação de serviço", lê-se na nota do CDD.
Por outro lado, segundo a ONG moçambicana, o relatório do chefe de Estado moçambicano também omite alegadas violações protagonizadas pelas autoridades, que detiveram quase quatro mil indivíduos por alegada desobediência durante este período, destacando que, pelo menos, quatro pessoas morreram nas mãos da polícia alegadamente por desobedecerem às regras do estado de emergência.
O relatório foi entregue na sexta-feira ao Parlamento moçambicano e deverá ser analisado em sessão extraordinária da plenária na terça-feira.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.