Covid-19: ONG pede esclarecimentos sobre mortes no Niassa
Lusa
29 de maio de 2020
O Centro para a Democracia e Desenvolvimento pede esclarecimentos sobre a morte de duas pessoas num tumulto entre a polícia e um grupo de religiosos. Contenda deveu-se às restrições do estado de emergência em Moçambique.
Publicidade
A ONG lamentou a morte dos dois cidadãos, exigindo que os agentes que terão disparado contra as vítimas sejam responsabilizados, refere uma nota divulgada esta sexta-feira (29.05) pelo Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD).
Em causa está a morte de duas pessoas num tumulto na segunda-feira, quando cerca de 200 pessoas tentaram vandalizar um posto da polícia em Lichinga, província do Niassa, após as autoridades terem proibido o grupo de celebrar o fim do Ramadão numa mesquita local, em cumprimento das regras do estado de emergência face à Covid-19.
Para a ONG, "nada justifica que a polícia recorra a armas de guerra [AK-47] para dispersar pessoas que se encontravam numa celebração religiosa" e, por isso, exigiu que o Estado assuma a sua responsabilidade.
Luta contra Covid-19 leva enfermeiros moçambicanos ao limite
01:17
"Existem várias formas eficazes que a polícia pode usar para dispersar pessoas aglomeradas, que não seja necessariamente o recurso a armas de guerra", frisou o CDD.
A organização acrescentou que "as vítimas de Lichinga juntam-se a tantas outras que morreram baleadas por agentes a quem o Estado conferiu a responsabilidade de manter a ordem e a segurança dos cidadãos."
Além dos dois óbitos, outras quatro pessoas ficaram feridas, três das quais também alvejadas por balas durante a confusão.
Polícia diz que foi "obrigada a disparar para o ar"
Em contacto com a agência de notícias Lusa na terça-feira, o porta-voz da corporação naquela província do norte de Moçambique, Alves Mathe, disse que as vítimas foram alvejadas acidentalmente, após a força policial ter sido "obrigada a disparar para o ar" para impedir que vandalizassem o posto policial.
"Infelizmente, os crentes partiram para cima da polícia com tudo o que tinham, pedras e outros instrumentos", disse Alves Mathe.
Com um total de 233 casos registados e dois óbitos devido à Covid-19, Moçambique vive em estado de emergência desde 01 de abril e vai durar até finais de junho, após duas prorrogações.
A vida dos latoeiros em Lichinga
A latoeria é uma profissão antiga em Moçambique. Apesar das novas tecnologias industriais, esta atividade resiste e continua a ser rentável na capital da província do Niassa. Cada vez mais jovens dominam a técnica.
Foto: DW/M. David
Cuidado e atenção
Tudo começa assim. Esta é a fase de organização e alinhamento da chapa. Os profissionais precisam aqui de muito cuidado e atenção para não machucarem os braços.
Foto: DW/M. David
Dando forma à lata
Depois de ter a matéria-prima alinhada, os latoeiros seguem com o fabrico, agora na parte do dobramento da peça. Isto é o que vai dar origem ao recipiente que terá várias utilidades.
Foto: DW/M. David
Pronta para venda
Depois de prontas, as latas são postas em exposição para a venda. E com um preço bem mais baixo do que é praticado pela indústria.
Foto: DW/M. David
Latas e regadores
Os latoeiros fabricam vários tipos de recipientes, com destaque para latas e regadores. Cada lata custa 150 meticais (pouco mais de 2 euros), enquanto os regadores custam em média 250 meticais (aproximadamente 3,60 euros) cada.
Foto: DW/M. David
Jovens mantêm a tradição
Esta profissão é antiga, mas muitos jovens estão a assegurar a atividade de forma ativa com vista a salvaguardar a tradição dos seus antepassados. É o caso deste grupo de latoeiros que trabalha em Lichinga.
Foto: DW/M. David
Escassez de matéria-prima
Apesar de os jovens estarem a trabalhar na profissão, a escassez de matéria-prima tem sido um dos desafios para a manutenção desta atividade. Chapas de zinco e até mesmo eletrodomésticos usados podem servir como insumos para esta produção.
Foto: DW/M. David
Indústria do plástico
O “boom” da indústria do plástico nos últimos anos é outro desafio para a profissão dos latoeiros. A grande oferta de novos produtos ameaça acabar com a tradição. Na cidade de Lichinga, por exemplo, muitos estabelecimentos comercializam baldes de plástico.
Foto: DW/M. David
Preferência do consumidor
Mesmo com outras ofertas de produtos nos mercados, muitos consumidores ainda dão preferência à tradição. Continuam a comprar as peças fabricadas pelos latoeiros, principalmente, por serem de material mais duradouro.