Quase a metade dos trabalhadores do setor de Turismo são demitidos somente em Inhambane, onde crise pode afetar mais de 5 mil pessoas. Representantes da categoria querem negociar solução com Governo.
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A pandemia de Covid-19 está a aumentar o número de pessoas desempregadas na província de Inhambane, no sul de Moçambique. Um dos setores da economia mais afetados pelo esfriamento da economia é o Turismo, porque muitas pessoas não só em Moçambique, mas em outros países são orientadas a suspender viagens e permanecer em casas como medida preventiva.
Em Inhambane, o setor emprega o maior número de trabalhadores, por isso a Associação de Turismo pede o apoio do Governo, principalmente para garantir o pagamento de salários por alguns meses.
O presidente da entidade, Yassine Amugi, diz que a crise pode impactar entre 4 mil e 5 mil empregos no setor. "É uma cadeia de valores enormes. Se calhar, duas vezes maior do que o próprio emprego direto. Há um operador turístico em estruturação que tem 2 mil trabalhadores e suspenderá 900”, informa Amugi.
Impacto em outros setores
A crise económica provocada pela pandemia agrava a situação numa província que já contabiliza 10 mil desempregados. Estima-se que o setor de Turismo não seja o único afetado.
João dos Santos trabalha como gerente de um estabelecimento comercial. O cidadão português radicado em Moçambique diz que a empresa já marcou reunião com os trabalhadores para discutir o futuro dos seus contratos. Existe o risco de demissão em massa por causa da pandemia.
"Vamos negociar com trabalhadores e ver todos os gastos. Esperamos que bons tempos virão... Daqui a dois ou três meses fique melhor. Acho que o mundo intero vai sofrer muito. Moçambique está a sofrer, mas tem países que ainda estão piores com a quarentena total".
Carlos de Sousa José é segurança num estabelecimento comercial em Inhambane e diz que todos seus colegas, mais de 50 pessoas, receberam ordem de suspensão até segunda ordem. A empresa explicou que adotou a medida devido à pandemia.
"Estão em casa até acabar esta doença. A pousada está fechada desde semana passada. Desde sexta-feira passada, não estão a trabalhar e todos estão em casa”, diz o segurança.
"Devem ativar a segurança social”
O representante da Direção Provincial da Cultura e Turismo, Alfredo Wetimane, informa que 70 empresas comunicaram encerramento de atividades por tempo indeterminado. Wetimane garante que está a ocorrer uma averiguação do que se passa com as empresas.
"O setor privado está a tomar a peito a negociação coletiva - que é a esfera ideal para este tipo de caso em que há situação de pandemia. Nós aconselhamos para não demitir ninguém. A inspeção do trabalho também está a peito. Fazemos monitoria de tudo o que está a acontecer no terreno”.
O jurista Hilofero da Conceição defende que empresas e Governo cumpram com o que está previsto em lei, principalmente agora, quando o estado de emergência está em vigor.
"O despedimento para este caso de coronavirus é uma falsa questão. É uma verdadeira questão de oportunismo. Esta graduação que passa por 75%, 50% e até 25%, eles devem ativar segurança social”.
O drama dos transportes em Inhambane
Sobrelotados, danificados e sem condições mínimas de segurança: os transportes públicos da província de Inhambane, no sul de Moçambique, têm graves problemas.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem condições
Em Inhambane, passageiros vêem-se obrigados a viajar em veículos sobrelotados e sem as mínimas condições de segurança - muitas vezes ao lado de mercadorias. Da cidade de Maxixe, capital económica da província, saem muitas viaturas para os distritos do interior. Mas as vias de acesso estão muito degradadas, o que explica os danos nas viaturas, dizem os condutores.
Foto: DW/L. d. Conceição
Ir para a escola de "My Love"
Os alunos que estudam longe de casa enfrentam vários riscos para chegar à escola em viaturas de caixa aberta, conhecidas como "My Love", principalmente nos distritos de Maxixe, Morrumbene, Massinga, Homoíne, Jangamo, Panda e Vilankulo. O "transporte escolar" não respeita as normas de segurança e os acidentes são frequentes.
Foto: DW/L. d. Conceição
Longas distâncias de pé
Fazer vários quilómetros de pé nos transportes coletivos é rotina para muitas pessoas em Inhambane. Isto, porque alguns proprietários dos carros que fazem serviços de transporte proíbem os passageiros de se sentarem para poderem transportar um maior número de pessoas. Quando chegam ao destino - muitas vezes depois de percorrerem 50 quilómetros de pé - o corpo ressente-se.
Foto: DW/L. d. Conceição
A idade não é um posto
Os problemas afetam todos os passageiros - não há exceções para os idosos, que viajam também em más condições. O Governo tem vindo a prometer melhores condições para a terceira idade, mas a situação continua precária. E os preços dos transportes continuam elevados para todos, dos mais novos aos mais velhos.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem alternativas
Para quem tem carro próprio, as vias de acesso degradadas, que chegam a ficar intransitáveis quando chove, são um fator que pesa muito na decisão de conduzir até ao destino. E muitos outros não têm escolha: ou viajam de "My Love" ou ficam em terra. Entre os passageiros, idosos, mulheres grávidas ou com crianças de colo também têm muitas vezes mercadorias como companheiros de viagem.
Foto: DW/L. d. Conceição
Luxo…de passagem
Os autocarros com melhores condições saem da capital, Maputo, com destino a Inhambane, Vilankulo, Mambone, Massinga e Inhassoro. Não apanham passageiros pelo caminho, nas localidades mais pequenas. E, muitas vezes, já vêm sobrelotados de Maputo. A população pede às autoridades da província que melhorem os transportes entre distritos, para acabar com as viagens em carrinhas de caixa aberta.
Foto: DW/L. d. Conceição
150 quilómetros de desconforto
Esta viatura faz transporte público da cidade de Maxixe até ao distrito de Funhalouro, a mais de 150 quilómetros. As pessoas são obrigadas a viajar de pé e a partilhar o espaço com mercadorias. A agravar a situação está uma via de acesso em péssimas condições.
Foto: DW/L. d. Conceição
Viagem de risco para o interior
A história repete-se para muitos que vivem no interior da província. As deslocações entre os locais de residência e as cidades fazem-se em viaturas de caixa aberta, muitas vezes com material de construção, galinhas e produtos alimentares a dificultar uma viagem já em si perigosa.
Foto: DW/L. d. Conceição
De txopela nas zonas urbanas
Nas cidades e vilas, há alternativa aos "My Love". Aumenta o número das chamadas txopelas - motorizadas de três rodas - na maioria, provenientes da Índia, que acabam por tirar alguns jovens do desemprego. Mas nem todos os cidadãos têm dinheiro para andar de txopela nos centros urbanos: em média, uma viagem custa 150 meticais (cerca de 2 euros).
Foto: DW/L. d. Conceição
Só para estradas pavimentadas
Os mini-autocarros de 15 lugares são usados apenas em estradas pavimentadas ou alcatroadas, e a província de Inhambane só tem a Estrada Nacional. Muitas viaturas como estas não conseguem entrar em alguns distritos, como Funhalouro e Panda, devido ao estado das vias de acesso. Arriscar a entrada em estradas degradadas pode obrigar a uma visita ao mecânico.
Foto: DW/L. d. Conceição
Problemas também no transporte oficial
O Governo de Moçambique tem alocado todos os anos viaturas para o transporte de passageiros nas províncias. Mas, por falta de condições nas estradas, os veículos operam apenas em zonas urbanas. O Estado tem vindo a entregar a gestão destes transportes a terceiros, a título de empréstimo, mediante uma taxa mensal. Mesmo assim, os transportes públicos oficiais também estão sobrelotados.
Foto: DW/L. d. Conceição
Até quando?
Tal como os "My Love" demoram a chegar ao destino - devido também ao excesso de peso a diminuir a velocidade - a solução para os transportes públicos em Inhambane tarda igualmente em chegar. Ainda não há fim à vista para o transporte de passageiros em viaturas de caixa aberta. Até lá, veículos como este continuarão a ser adaptados para transportar passageiros e mercadorias.