Covid-19: Pessoas com deficiência recebem apoio na Gorongosa
Arcénio Sebastião (Beira)
10 de julho de 2020
A pandemia do novo coronavírus veio dificultar ainda mais a vida de pessoas portadoras de deficiência. Uma ONG está a apoiar cidadãos na Gorongosa, em Moçambique, com alimentos e materiais de prevenção.
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Pessoas portadoras de deficiência estão a enfrentar dificuldades acrescidas em Moçambique. Devido ao estado de emergência imposto pelo Governo no âmbito do combate à pandemia do novo coronavírus, muitas não conseguem o sustento para comprar comida ou produtos para higienizar as mãos.
Para proteger estas pessoas, a Light For The World, uma organização não-governamental a operar na província central de Sofala, distribui meios de proteção, produtos de higiene e alimentos a centenas de famílias no distrito da Gorongosa.
Justina Filipe, de 68 anos, portadora de deficiência, mora na localidade de Pungue, distrito de Gorongosa. Beneficiou recentemente de um kit de alimentos e produtos de prevenção e combate ao novo coronavírus. "Antes eu sofria muito, nem cultivar nas machambas para ser paga eu conseguia, só ficava sentada em casa", conta. A ajuda da Light For The World veio mudar este cenário: "Hoje estou muito feliz, porque recebi farinha, arroz, óleo e muita coisa".
A idosa recebeu também um balde com torneira e sabão em barra, itens essenciais para manter os cuidados contra a Covid-19. "Basta chegar a casa, vou colocar este balde na entrada e logo começar a lavar as mãos regularmente. Vou lavar a minha loiça e depois de pegar em qualquer coisa tenho de lavar as mãos", diz.
Ficar em casaFor the World
Tal como Justina Filipe, outras pessoas estão a ser assistidas pela organização Light nesta pandemia. A ação visa ajudar os mais vulneráveis à doença.
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Marcos Obadias é portador de uma deficiência no pé esquerdo. Para se locomover, apoia-se numa muleta improvisada com um pedaço de pau. Agora, Marcos recebeu ajuda da ONG. "Estou satisfeito, parabéns a todos beneficiários pelo que Deus fez para nós para poderem nos ajudar em algo de comer", afirma. "Não tinha máscara, mas já recebi máscara, estou bem mesmo".
Sara Albero, uma rapariga portadora de deficiência, também agradece o apoio: "Recebi arroz, sal, óleo, sabão, outras coisas. Estou muito feliz com esta oferta, não esperava que um dia pudesse merecer esta ajuda, isto vai-me ajudar, porque já tenho alguma coisa para cozinhar".
"É uma contribuição que a Light For The World está a fazer para facilitar que as pessoas observem as medidas de prevenção à Covid-19 ficando em casa", explica o diretor-geral da ONG, Zacarias Zicai.
"Também estamos a distribuir material de higienização, assim como de proteção, estamos a dar esta contribuição para reforçar aquilo que têm sido os esforços do Governo", acrescenta.
Segundo Zacarias Zicai, a organização vai apoiar mais distritos de Sofala, com foco nas pessoas portadoras de deficiência: "Depois vamos seguir para Nhamatanda, vamos para Buzi, Dondo, assim como para a cidade da Beira".
E além desta iniciativa, sublinha, a ONG tem outras atividades para reforçar as medidas de prevenção, incluindo a formação de algumas famílias para a produção de máscaras.
Moçambique: O empreendedorismo e os sonhos das pessoas com deficiência
Eles são sonhadores, mas, acima de tudo, trabalhadores e empreendedores. Pessoas com deficiência na província de Manica, em Moçambique, dão exemplos de superação.
Foto: DW/B. Jequete
Trabalhar para o futuro
O Governo, através do Instituto Nacional de Ação Social e do Rotary Club, ergueu esta organização em 2010 visando acomodar as pessoas com deficiência física. Chama-se Associação MABASSA, que quer dizer "trabalho". O espaço foi equipado pela embaixada alemã com materiais e máquinas para que os portadores de deficiências pudessem confeccionar chinelos e sandálias, entre outros produtos.
Foto: DW/B. Jequete
Aprender a superar-se
Tozinho Luís Vasco é deficiente e membro fundador da Associação MABASSA. Foi dele a ideia de confeccionar sapatos. Ele vê nesta atividade uma superação de vida. "Antes eu estendia as mãos pedindo esmola na estrada, porque não tinha o que comer. Mas agora já consigo alimentar a minha família e consequentemente estou a construir minha casa", conta Tonzinho, que hoje é grato aos que lhe ajudaram.
Foto: DW/B. Jequete
Acreditar e trabalhar
Zacarias Quembo é o responsável da Associação MABASSA. É um verdadeiro empreendedor. Das 8h às 17h, vende batatas. Depois deste trabalho, e aos fim de semana, dedica-se às atividades da MABASSA, confeccionando chinelos e sandálias. "Eu era um mendigo e não acreditava em mim mesmo", conta Quembo, que quer resgatar mais pessoas através da sua associação.
Foto: DW/B. Jequete
O pão de cada dia
São uma parte dos chinelos e sandálias confeccionados pela Associação MABASSA, na cidade de Chimoio. São vendidos nas províncias de Manica, Tete e Sofala. Um par desses calçados varia entre 250 meticais (3,5 euros) e 450 meticais (6,5 euros), e tem saída. Além de vender os produtos nas províncias, participam também em feiras empresariais, como a FACIM, em Maputo.
Foto: DW/B. Jequete
Oportunidades contra a pobreza
A Associação de Cegos e Amblíopes de Moçambique (ACAMO) é outra agremiação em Manica que desenvolve várias atividades com os portadores de deficiência. Desde a criação de salas de informática até a capacitação dos seus membros em pequenos negócios, eles visam dar oportunidades àquelas pessoas. Também se sustentam por meio do arrendamento de salas na sede da associação.
Foto: DW/B. Jequete
Iniciativa rentável
Esta é a sala de informática da ACAMO em Manica. Há computadores com acesso à internet e impressoras. Tudo ao serviço dos cidadãos. Segundo o presidente da associação, a iniciativa é rentável, embora o movimento tenha diminuído. "Para sairmos dessa, estou a negociar com uma instituição de ensino para facilitar os estudantes e consequentemente aproveitarmos os clientes", disse Domingos Neves.
Foto: DW/B. Jequete
Vencer nas competições da vida
Titos Zinguize Chapo e Cláudio Paulo Santos (ao fundo), de 31 e 53 anos de idade respetivamente, são atletas que participam em campeonatos de corrida de triciclos em Moçambique. Ambos dizem viver desta atividade desportiva, através da qual têm conseguido sustentar as suas famílias e, inclusive, construíram as suas casas.
Foto: DW/B. Jequete
"Seremos estrelas"
Este é um jogo de jovens futebolistas com deficiência auditiva. Eles também abraçaram o desporto e estão a se dar bem na carreira. Quem os vê jogar percebe o quão bem se comunicam através da mímica. Há bons talentos no seio do grupo, alguns premiados, que almejam chegar mais longe. Entretanto, lamentam a falta de material desportivo na Associação Desportiva para Pessoa com Deficiência.
Foto: DW/B. Jequete
Correr atrás dos sonhos
Chama-se Pita Rondão, é deficiente visual, atleta paralímpico e estudante do segundo ano de licenciatura em Português, em Manica. O atletismo faz parte da sua vida desde a sua mocidade. Ele já participou em vários campeonatos nacionais e internacionais. "O meu sonho é de um dia ser professor, mas isso não me inibe a deixar de correr", conta o jovem que tira o sustento do atletismo.