Rede Angolana das ONGs de Luta Contra o HIV/SIDA lança projeto para apoiar seropositivos no âmbito da pandemia do novo coronavírus. Covid-19 é especialmente letal para pessoas com sistema imunológico fragilizado.
Publicidade
A Rede Angolana das Organizações Não-Governamentais de Luta Contra o HIV/SIDA (ANASO) está empenhada na proteção dos seropositivos durante a pandemia da Covid-19. Em Angola, há mais de 300 mil cidadãos a viver com HIV/SIDA. Francisco Simões, secretário executivo da ANASO, explica que "neste momento, as pessoas vivendo com HIV estão em casa” e reforça que é lá que se devem manter para se protegerem da Covid-19.
Além dos idosos, hipertensos, diabéticos, pessoas afetadas por tuberculose e outras doenças, pessoas que vivem com o HIV/SIDA fazem parte do grupo de risco para o contágio do novo coronavírus.
Assim que surgiram os primeiros casos de infeção na China, em dezembro, especialistas das Nações Unidas lançaram o alerta sobre os possíveis riscos que o vírus poderia representar para os doentes com SIDA - que têm sistemas imunitários enfraquecidos.
Medicamentos ao domicílio
Instados a respeitar as regras do estado de emergência em vigor no país, os angolanos a viver com HIV-SIDA não podem descuidar da medicação regular. Segundo os especialistas, os seropositivos que não são tratados com medicamentos antirretrovirais correm um maior risco de contrair infeções – e podem estar em maior risco de contrair a Covid-19.
Para garantir a continuidade do acesso aos cuidados de saúde a estes cidadãos, a ANASO lançou o projeto "Corrente da vida", começando por identificar quem precisa de apoio. Francisco Simões explica que é obrigação das organizações cadastrar as pessoas que vivem com HIV/SIDA nas suas comunidades: "Depois de cadastradas, as vão identificar as unidades sanitárias onde essas pessoas são acompanhadas, onde essas pessoas levantam a medicação, e os médicos que os acompanham".
A organização tem trabalhado com o Instituto Nacional de Luta Contra a SIDA e as entidades sanitárias angolanas na entrega dos medicamentos ao domicílio. Basta contatar a rede, quer em Luanda, quer nas outras 17 províncias. Francisco Simões assegura que o "projeto já começou" e que as pessoas já começaram a receber os medicamentos em casa.
Isolamento social para todos
Angola registou até esta terça-feira (14.04) cinco casos recuperados de Covid-19 e continua com duas mortes resultantes de 19 infecções diagnosticadas positivas.
De acordo com Franco Mufinda, secretário de Estado para saúde pública, mais de 300 equipas trabalham nas comunidades todos os dias, para constatar eventuais casos suspeitos. Enquanto isso, o governante apela à observância do estado de emergência, que está agora na segunda fase.
A Comissão Interministerial continua a visitar as províncias angolanas para avaliar o grau de prontidão para dar resposta à pandemia.
Em Luanda, a Rede Angolana das Organizações Não-Governamentais de Luta Contra o HIV/SIDA capacitou 200 atores comunitários sobre a Covid-19, visando uma "maior sensibilização local". O projeto conta com 25 brigadas comunitárias que vão desenvolver nos nove municípios ações integradas de sensibilização em saúde para melhorar a informação", bem como "o conhecimento das pessoas, famílias e comunidades sobre as medidas de prevenção contra a Covid-19".
Perigos da ignorância: Os presidentes africanos e a negação da SIDA
Saber é poder. Por isso o lema do Dia Mundial da SIDA 2018 é "conhece o teu estado". Estar ciente da doença torna mais fácil combatê-la. Mas nem todos os presidentes africanos entenderam a ameaça que o vírus representa.
Foto: picture-alliance/dpa
Negação fatal
O ex-Presidente sul africano Thabo Mbeki (1999 - 2008) ficou para a história como o principal negacionista do HIV/SIDA. Contrariando a evidência científica, Mbeki insistiu que o HIV não causava SIDA e mandou que a doença fosse tratada com ervas. Analistas acreditam que isto custou a vida a 300.000 pessoas. Há quem exija que o ex-Presidente seja julgado por crimes contra a humanidade.
Foto: Getty Images/AFP/G. Khan
O Presidente curandeiro
Em 2007, o então Presidente da Gâmbia, Yayah Jammeh (1996 - 2017) obrigou pacientes da SIDA a submeter-se a uma cura que dizia ter pessoalmente desenvolvido. A cura consistia de uma mistura de ervas. Um número desconhecido de pessoas morreu. Jammeh, que dizia ter poderes místicos, é o primeiro Presidente africano a ser julgado por violação dos direitos de pessoas com HIV/SIDA.
Foto: picture alliance/AP Photo
Duche como prevenção
Outro Presidente famoso pelas suas declarações inconvencionais sobre o HIV/SIDA é Jacob Zuma da África do Sul (2009 - 2018). Durante o processo por violação de uma mulher HIV-positiva em 2006, Zuma disse que não correu perigo de contágio apesar de não ter usado preservativo, porque "tomou um duche a seguir".
Foto: Reuters/N. Bothma
Sem preservativo?
O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni , também levou algum tempo a compreender a dimensão do problema. Ainda em 2004, numa conferência internacional na Tailândia dedicada ao combate da SIDA, Museveni minimizou a eficácia de preservativos alegando, entre outras coisas, que o seu uso contrariava algumas práticas sexuais africanas. Os seus comentários foram recebidos com risadas pela audiência.
Foto: picture-alliance/dpa/I. Langsdon
Um imposto para o tratamento
Algumas medidas tomadas por líderes africanos para combater a doença foram mal recebidas. Em 1999, o Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe (1987-2017) introduziu um imposto destinado a apoiar os órfãos e pacientes do HIV/SIDA, que provocou protestos. O imposto ainda existe. Mugabe admitiu que membros da sua família foram afetados e chamou à infeção "um dos maiores desafios da nação".
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Um grande exemplo
As possíveis consequências económicas, por exemplo, para o turismo, fizeram com que muitos líderes africanos mostrassem relutância em aceitar a dimensão da ameaça. Mas Kenneth Kaunda, o Presidente da Zâmbia (1964-1991), já em 1987 anunciou a morte de um filho com SIDA. Em 2002 foi o primeiro Presidente africano a fazer um teste de SIDA. Até hoje continua a lutar pela erradicação da doença.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Mwape
Testes compulsórios
A luta contra a SIDA do sucessor de Kaunda, Edgar Lungu, também causou consternação. Lungu quis introduzir testes compulsórios na Zâmbia em 2016. Mas protestos no país e no exterior obrigaram-no a recuar. Sobretudo quando a Organização Mundial de Saúde criticou o propósito e deixou claro que esses testes só servem para aumentar o estigma do HIV/SIDA.
Foto: Imago/Xinhua
Por uma África sem HIV
Depois de abandonar o cargo de Presidente do Botswana, Festus Mogae (1998-2008) lançou a organização "Campeões por uma geração sem SIDA", à qual se juntaram numerosos ex-chefes de Estado e outras personalidades influentes. Juntos tentam pressionar governos e parceiros a investir mais na prevenção da SIDA.