O alerta é do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e surge numa altura em que o número de casos de Covid-19 no país continua a crescer. São já 409.
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A Covid-19 "significa uma pobreza mais extrema e prolongada e a negação dos direitos fundamentais para dez milhões de crianças de Moçambique" que já vivem desfavorecidas, alertou, este sábado (06.06), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
A declaração faz parte de um conjunto de análises publicadas por aquela agência da ONU entre o Dia da Criança, a 01 de junho, e o Dia da Criança Africana, celebrado a 16 de junho.
As escolas em Moçambique estão fechadas desde 23 de março como forma de prevenir o avanço do novo coronavírus e o UNICEF lança um alerta: "Quanto mais tempo as escolas estiverem fechadas, maior será a perda de tempo de aprendizagem e maiores serão as hipóteses de as crianças, especialmente as raparigas, não regressarem à sala de aula após a reabertura escolar".
Ao mesmo tempo, "a insegurança económica e a suspensão escolar prolongada pode exacerbar as tendências para uniões prematuras de crianças e para o sexo transacional como formas de lidar com a situação e como mecanismos de proteção" por parte dos agregados familiares.
Situação em Cabo Delgado
A UNICEF destaca ainda uma "preocupação crescente com o bem-estar das crianças de Cabo Delgado, província do norte do país, afetadas por uma conjugação de fatores: deslocação, violência intensa e pobreza".
De uma forma global, o UNICEF chama ainda a atenção para "uma redução agravada no acesso aos serviços de saúde essenciais devido a uma perturbação significativa do sistema de saúde", o que pode "agravar a vulnerabilidade já existente em crianças que necessitam de vacinação, sofrem de doenças crónicas, vivem com uma deficiência ou são afetadas por doenças infeciosas comuns, como a malária".
"Espero que esta informação faça começar uma reflexão e um diálogo construtivos a todos os níveis políticos e entre um vasto leque de atores para responder a esta emergência, recuperar o futuro das crianças e reimaginar um Moçambique adequado a cada criança depois de esta crise se atenuar", conclui Katarina Johansson, representante do UNICEF em Moçambique.
Números continua a aumentar
Os dados mais recentes do Ministério da Saúde dão conta de que Moçambique regista 409 casos positivos do novo coronavírus, dois mortos e 126 recuperados.
Em declarações este sábado, o ministro da Saúde Armindo Tiago manifestou preocupação com a "rápida propagação" da covid-19 na província de Nampula, que conta com um total de 115 casos positivos, cerca de duas semanas após o registo do primeiro caso.
"Temos uma pequena janela de oportunidade para reverter a situação e reduzir significativamente o drama que pode advir do aumento rápido e contínuo do número de casos", afirmou.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.