Covid-19: Presidente de Cabo Verde critica "desobedientes"
Lusa | tms
5 de maio de 2020
Jorge Carlos Fonseca classificou como "heróis do equívoco" os cidadãos que não respeitam as medidas do estado de emergência contra a pandemia. E disse que os "desobedientes" colocam em risco "uma comunidade inteira".
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Numa mensagem partilhada esta terça-feira (05.05) no seu perfil no Facebook, o chefe de Estado reagia, sem nunca o dizer diretamente, ao aparente relaxamento das obrigações de recolhimento domiciliário ou distanciamento social, que começa a ser visível na cidade da Praia, ainda em estado de emergência.
"No meio desta crise, aparecem, amiúde, alguns desobedientes às ordens e instruções fundamentais para o combate, com sucesso, à epidemia, arvorando-se em corajosos, em gente destemida e 'livre', quase heróis", criticou Jorge Carlos Fonseca, considerando que se trata de "heróis completamente equivocados".
"Se o problema fosse apenas de exposição individual à doença e ao perigo de vida, até se poderia aceitar um estranho modo de enfrentar riscos, de exercício da autonomia individual. Porém, o 'herói', afinal, pode ser um perigoso inimigo de outrem e, a partir deste, de outros tantos, e aí por diante. De uma comunidade inteira", reforçou.
Covid-19: As dificuldades dos mais pobres em Cabo Verde
02:35
Estado de emergência
Desde as 00:00 de 3 de maio que o estado de emergência permanece em vigor apenas nas ilhas de Santiago (Praia) e Boa Vista, que concentram 172 dos 175 casos de Covid-19 no país.
Trata-se do terceiro período de estado de emergência, em vigor até às 24:00 de 14 de maio e que entre outras medidas obriga ao dever de recolhimento, de proibição geral de circulação ou ao encerramento de empresas, declarado pela primeira vez em 29 de março, aplicando-se então em todo o território. "É preciso, pois, que se dê combate firme e adequado aos heróis do equívoco, muitos deles, 'heróis' bem esclarecidos e instruídos", apelou o Presidente.
"Certo desleixo"
O Diretor Nacional de Saúde cabo-verdiano, Artur Correia, alertou na segunda-feira para um "certo desleixo" no cumprimento de medidas de prevenção da covid-19 em algumas ilhas, avisando que, se não houver mudança de comportamentos, a situação poderá sair do controlo das autoridades.
"Nós estamos numa situação muito preocupante, a situação da covid-19 em Cabo Verde continua a aumentar, sobretudo no concelho da Praia. Apesar dos bons resultados que já temos na Boa Vista, devemos dizer que temos de estar preparados, vamos ter mais casos", alertou Artur Correia.
O que mudou em Cabo Verde com a Covid-19
Cabo Verde registou quatro casos de infeção por Covid-19 e uma morte. Todos os casos são importados. Centenas de pessoas estão em isolamento e os voos foram condicionados. O dia a dia também está a ser afetado.
Foto: DW/A. Semedo
Movimentação reduzida nas ruas
A chegada do novo coronavírus a Cabo Verde mudou a rotina dos cabo-verdianos, sobretudo nos centros urbanos, onde se tem notado a diminuição de movimentação e aglomeração de pessoas. Muitos preferem ficar em casa para diminuir o contacto social. Eventos com muitas pessoas foram suspensos em todo o país. Discotecas foram encerradas, bares e restaurantes passaram a fechar mais cedo.
Foto: DW/A. Semedo
Férias escolares antecipadas
Cabo Verde antecipou as férias escolares do ensino pré-escolar, básico e secundário para o dia 23 de março, como medida de contenção à Covid-19. As universidades também suspenderam todas as aulas e outras atividades formativas. Foram ainda estabelecidas medidas "excecionais e temporárias" para o funcionamento de creches, com a possibilidade do teletrabalho para os pais.
Foto: DW/A. Semedo
Informar com urgência a população
Campanhas de sensibilização e de esclarecimento à população sobre a Covid-19 estão a ser realizadas pelas autoridades em Cabo Verde. Carros passam informações à população sobre o que é a Covid-19, as formas de transmissão e como prevenir a doença. Estas viaturas circulam nos centros das cidades e bairros para reforçar a comunicação.
Foto: DW/A. Semedo
Transportes urbanos com lotação a 50%
Os transportes urbanos e interurbanos, como taxis e "hiaces", já estão a sentir os efeitos da Covid-19. A lotação passou para metade, com impacto direto no rendimento dos condutores. A medida visa aumentar o distanciamento entre os passageiros e evitar o contágio. "Hiacistas" e taxistas pedem apoio ao Governo para colmatarem as perdas, como a suspensão de impostos ou a facilitação de créditos.
Foto: DW/A. Semedo
Praias interditadas em todo país
As autoridades interditaram o acesso às praias do país para evitar a aglomeração de pessoas e, consequentemente, prevenir o contágio e a disseminação da Covid-19. A proibição durará enquanto se mantiver o plano de contingência a nível nacional decretado pelo Governo. A polícia está a patrulhar as zonas balneares para garantir o cumprimento da interdição.
Foto: DW/A. Semedo
Acesso limitado aos locais públicos
Mercados, bancos, farmácias, lojas e outras instituições estão a limitar a entrada de pessoas para prevenir a Covid-19, o que tem levado à criação de filas à porta destes espaços. Nos mercados da Praia, por exemplo, foi proibida a entrada de crianças e as vendedeiras com mais de 65 anos devem ficar em casa. Feiras e vendas de animais vivos são agora proibidas. Algumas lojas chinesas já fecharam.
Foto: DW/A. Semedo
Corrida aos supermercados
O anúncio do plano de contingência para a prevenção e controlo da Covid-19 e do primeiro caso da doença no país, disparou as compras em Cabo Verde. O medo de ficar sem alimentos levou as pessoas a comprarem grandes quantidades de comida e produtos de higiene. O Governo alertou a população para não açambarcarem os produtos e reforçou a fiscalização contra a especulação de preços.
Foto: DW/A. Semedo
O medo de ficar sem gás butano
O anúncio do primeiro caso de Covid-19 no país levou os cidadãos à compra desenfreada de gás butano para armazenamento, temendo a sua falta no mercado. Vários postos de venda ficaram sem este combustível para atender à elevada procura. Entretanto, as empresas de combustíveis garantem à população que têm stocks de gás suficiente para abastecer o mercado, afastando um cenário de escassez.
Foto: DW/A. Semedo
Faltam materiais de proteção individual
A falta de máscaras e álcool em gel no mercado tem deixado os cidadãos muito preocupados. A procura por estes produtos aumentou drasticamente com o registo do primeiro caso de Covid-19 no país. A empresa de medicamentos Inpharma passou a produzir álcool em gel para abastecer o país e já garantiu o fornecimento de máscaras às farmácias. Porém, a venda destes produtos está a ser racionada.