Covid-19: Procura turística por Cabo Verde recua 15 anos
Lusa
12 de outubro de 2020
A procura turística por Cabo Verde deverá recuar este ano a níveis de 2005 e levar à perda de mais de 550 mil turistas. Uma quebra de 70% devido à pandemia de Covid-19, que levou ao fecho das fronteiras há sete meses.
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A previsão, que agrava a estimativa anterior, consta dos documentos de suporte à proposta de lei do Orçamento do Estado para 2021, consultados pela Lusa esta segunda-feira, dia em que o arquipélago reabre os quatro aeroportos internacionais a voos comerciais do exterior, suspensos desde 18 de março para conter a transmissão da covid-19.
Em julho, com a previsão de reabertura do arquipélago aos voos internacionais comerciais no mês seguinte - que não se concretizou, avançando apenas um corredor aéreo para voos essenciais a partir de Lisboa -, o Governo estimava que a procura turística iria recuar este ano a níveis de 2009, com a perda de 536 mil turistas, sendo este um setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano.
"Abrasu Muzikal" para músicos afetados pela pandemia
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Tratava-se, conforme previsto no Orçamento do Estado Retificativo para este ano, então aprovado, de uma quebra de 58,8% na procura turística, face aos 819 mil turistas que o arquipélago recebeu em 2019.
O Governo estimava inicialmente, no arranque do ano, antes da pandemia, um crescimento da procura turística de 6,6%, aproximando-se da meta anual de um milhão de turistas, depois de um crescimento de 7% em 2019.
Contudo, na previsão do Governo em julho, Cabo Verde deveria receber este ano apenas 337.555 turistas. Deste total, 170.778 são turistas que já visitaram o país no primeiro trimestre de 2020, pelo que até final do ano Cabo Verde deverá receber pouco mais de 165.000 turistas.
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Governo agrava previsões
Esta quebra, depois de agosto, setembro e parte de outubro sem voos internacionais, é agora agravada na previsão do Governo. "Dado que a fronteira para o mercado turístico continua fechada, a queda no número de turistas poderá chegar a 70%, atingido os números de 2005", lê-se na proposta orçamental que deu entrada este mês no Parlamento, apontando para uma procura pouco acima de 300 mil turistas este ano.
"Entretanto, em 2021, com a recuperação da atividade económica, ainda que de forma lenta, a procura turística deverá aumentar entre 22,5% e 35%, melhorando a performance das dormidas e das receitas do turismo, com os números a situarem-se em níveis similares aos de 2011", acrescenta-se no documento.
As receitas com o turismo renderam em 2019 um máximo histórico de 43.103 milhões de escudos (389 milhões de euros), mas segundo a previsão do Governo feita em julho deverão cair este ano para 15.086 milhões de escudos (136 milhões de euros), número que também é revisto, agora, em baixa.
O anúncio do reinício dos voos comerciais internacionais a partir de hoje, ao fim de quase sete meses, foi feito na sexta-feira pelo ministro do Turismo e Transportes, Carlos Santos, indicando que os passageiros estão obrigados a apresentar testes negativos para a covid-19 com pelo menos 72 horas de antecedência da viagem.
Também esta segunda-feira (12.10) é retomado o tráfego comercial marítimo de passageiros, bem como operações de escala técnica e de abastecimento de aeronaves nos aeroportos nacionais. Cabo Verde regista um acumulado de 7.072 casos de Covid-19 no arquiélago, com 75 mortos, desde 19 de março.
Chuvas fortes em Cabo Verde: maldição e benção
As chuvas fortes do fim de semana destruíram casas e infraestruturas essenciais, sobretudo na ilha cabo-verdiana de Santiago. Mas, para os agricultores, a água é uma benção, após três anos de seca severa.
Foto: DW/Â. Semedo
Prejuízos avultados na Praia
As chuvas fortes do fim de semana deixaram um rasto de lodo e destruição na Cidade da Praia. Casas desabaram, estradas e pontes ruíram. Segundo as autoridades, os estragos na capital cabo-verdiana rondam os 2,5 milhões de euros. Entretanto, os habitantes já meteram mãos à obra e começaram a limpar as habitações e desobstruir as vias. E dão graças a Deus por terem sobrevivido.
Foto: DW/Â. Semedo
Um dia de sufoco nos bairros periféricos
No sábado, muitas famílias dos bairros periféricos da Praia viveram momentos de desespero. Um bebé de seis meses morreu afogado quando a água invadiu a casa da mãe. O Governo cabo-verdiano anunciou um programa de emergência. "A prioridade absoluta é proteger as pessoas e os seus bens", disse o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.
Foto: DW/Â. Semedo
Sem colchões para dormir
A inundação de moradias na Cidade da Praia deixou muitas famílias sem colchões para dormir. Os dois homens na foto levam para o lixo um colchão tirado de uma casa que foi inundada no bairro de Paiol. A Câmara Municipal da Praia já começou a realojar as famílias mais afetadas.
Foto: DW/Â. Semedo
Hora de limpar as ruas
Militares e civis estão a limpar as ruas e estradas na Cidade da Praia. Em bairros como a Várzea, os moradores uniram-se para fazerem a limpeza da zona, sem esperar pelas autoridades. Ao mesmo tempo, estão a angariar ajuda para os vizinhos mais afetados pelas enxurradas.
Foto: DW/Â. Semedo
Ainda há ruas intransitáveis
Várias ruas das zonas baixas da Praia continuam cobertas por uma grande massa de lodo, que tem dificultado a circulação de pessoas e automóveis na capital cabo-verdiana.
Foto: DW/Â. Semedo
Máquinas limpam ribeira na Praia após as cheias
A parte baixa da Cidade da Praia ficou inundada. Máquinas pesadas trabalham a todo o vapor para desassorear parte de uma ribeira e uma ponte que ficou quase soterrada com as terras arrastadas pelas cheias no bairro da Vila Nova, uma das áreas mais afetadas.
Foto: DW/Â. Semedo
Pontes destruídas
Esta ponte metálica que facilitava a circulação de pessoas entre os bairros de Achadinha e Calabaceira, bem como o acesso dos estudantes ao liceu que fica do outro lado, não aguentou a força das cheias. Parte da estrutura foi levada pelas águas. Infraestruturas idênticas foram derrubadas pelas cheias noutros bairros da capital cabo-verdiana.
Foto: DW/Â. Semedo
Areia para compensar os estragos?
Moradores do bairro da Jamaica e Paiol, duas das zonas mais fustigadas pelas chuvas de sábado, aproveitam a areia que apareceu nas ribeiras após as cheias para repararem as habitações. Para eles, é uma boa oportunidade, porque há pouca areia no mercado.
Foto: DW/Â. Semedo
Estradas danificadas
Várias estradas, canais de drenagem e muros de proteção foram danificados pelas chuvas, não só na Cidade da Praia como também no interior da ilha de Santiago. Algumas zonas ficaram completamente isoladas devido ao desabamento de rochas e terra nas vias, em diferentes pontos da ilha.
Foto: DW/Â. Semedo
Finalmente muita água nas barragens
Apesar da destruição, as mulheres e homens do campo estão felizes por ter caído tanta água, após três anos de seca severa. Cabo Verde tem nove barragens e várias delas ficaram secas. Porém, as chuvas caídas nos últimos dias mudaram este cenário. Em Santo Antão, por exemplo, a barragem de Canto de Cagarra já transbordou.
Foto: DW/Â. Semedo
Pasto verde para os animais
Os criadores de gado cabo-verdianos enfrentaram momentos difíceis devido à falta de pasto, durante os anos de seca. Vários animais morreram de fome ou foram vendidos ao desbarato. Mas a chuva veio renovar a esperança destas pessoas, que já estão a usufruir do pasto que começa a abundar em várias regiões, colocando os seus animais a pastar ao ar livre.
Foto: DW/Â. Semedo
Esperança num bom ano agrícola
Os campos de cultivo de milho e feijão encontram-se em estado avançado em várias ilhas. No interior de Santiago, sobretudo nas zonas altas, os agricultores estão entusiasmados, à espera de um bom ano agrícola. Muitos já fizeram a segunda monda. Contudo, estão preocupados com a praga da lagarta-do-cartucho do milho, que tem afetado as culturas.
Foto: DW/Â. Semedo
Sementeira em terra molhada
Apesar do cultivo de milho e feijão estar em fase avançada em vários pontos do país, há locais onde os agricultores ainda estão a completar as sementeiras ou a prepararem-se para a primeira monda. Esta agricultora da zona de Ribeirão Areia, Santa Catarina, semeia milho e feijão após as fortes chuvas que caíram no fim de semana. A agricultora de 73 anos diz estar muito animada.