Em Inhambane, alunos e professores apontam falta de estratégias e temem regressar às aulas presenciais dentro dos próximos dias, como anunciou o Governo. Por outro lado, estudo online não abrange todos os alunos em casa.
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O Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, anunciou este domingo (28.06), numa comunicação à nação, a retoma faseada das aulas presenciais em todos os graus de ensino, com calendários a divulgar dentro de dias.
Preparam-se, assim, para regressar à escola os alunos do ensino secundário, principalmente os que vão ter exames, mas também os estudantes dos institutos de formação e os estudantes do terceiro e quarto ano do ensino superior.
Sebastião Arnaldo Moiane, residente em Homoine e encarregado de educação de oito crianças, afirma ter medo que os estudantes voltem às aulas em plena pandemia, alegando que as escolas não estão em condições de controlar a prevenção da Covid–19.
"Não estou me sentindo melhor, porque a doença está mais avante”, disse Sebastião Arnaldo Moiane, acrescentando que não está de acordo com o regresso das crianças às escolas, "porque quando voltarem não será fácil, de maneira que estamos a prevenir as crianças [da Covid-19] em casa", conta.
Regresso "perigoso"
Silva Reginaldo, estudante do terceiro ano do ensino superior em Inhambane, disse à DW que regressar às aulas neste momento é perigoso, mas irá adaptar-se à nova realidade.
"Temos que nos adaptar às mudanças. Estou acostumado a estudar com auxílio do professor, às vezes fico frustrada sem ninguém para me auxiliar", reconheceu a estudante, referindo-se ao estudo online.
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04:57
Ayuba Junior, professor em Inhambane, considera que há falta de condições para a reabertura das aulas em Moçambique. "Por vezes nas escolas falta giz. Será que desta vez não ira faltar água e sabão? O professor também tem direito de subsídio de riscos", lembra.
Preocupado com essa situação, o professor assegura que os seus filhos não deverão regressar à escola este ano.
Dificuldades para estudar online
Os alunos que não têm exames vão ter de continuar a estudar online. No entanto, nem todos os alunos estão a frequentar as aulas usando as tecnologias de informação e comunicação (TIC).
Lucas Bernardo, diretor da escola primária de Maxixe, disse que o estudo online não está ser a abrangente porque nem todos os alunos e professores possuem telefone com aplicativo compatível.
"Na verdade nem todos professores e turmas conseguiram criar aquela plataforma de WhatsaApp para troca de informação. Mas algumas turmas da sétima classe conseguiram fazer isto", relata.
Palmira Pinto, diretora provincial de Educação e Desenvolvimento Humano em Inhambane, admitiu à DW que tem consciência de falhas na estratégia usada para estudos e abertura das aulas, por isso pede a colaboração de todos intervenientes.
"Temos consciência que realmente estas metodologias que nos adotámos talvez não tenha sido 100% abrangente, mas nós estamos sempre abertos a colaborar com pais e encarregados da educação", esclareceu a diretora.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.