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Tecnologia

Covid-19: Soluções tecnológicas multiplicam-se em África

Cai Nebe | Abu-Bakarr Jalloh | mjp
20 de abril de 2020

A pandemia de Covid-19 coloca enormes desafios em África. Sem grandes expectativas de ajuda de doadores, os génios tecnológicos do continente estão a inventar soluções rápidas e baratas para travar a propagação do vírus.

Startup zimbabueana Fresh in a Box está a distribuir produtos frescos ao domicílioFoto: DW/P. Musvanhiri

A inovação e o engenho não são nada de novo em África, um continente onde a população está habituada a fazer o melhor possível com recursos limitados. Desde ferramentas agrícolas caseiras a veículos encontrados em celeiros da África do Sul, passando por um rapaz que construiu um moinho a partir de sucata numa aldeia do Malawi ao popular sistema de pagamento móvel M-Pesa – os africanos sabem ser criativos.

A pandemia do novo coronavírus está a limitar ainda mais os já escassos recursos do continente africano. E não se espera muita ajuda dos doadores ocidentais, cujas economias também estão a ser afetadas pelo surto. Startups em todo o continente estão a encontrar soluções inovadoras, mesmo para as necessidades mais básicas e temporárias.

Ventiladores

A Covid-19 ataca o sistema respiratório. Pessoas com sintomas graves têm dificuldades em respirar e precisam de ventilação artificial. Em África, no entanto, há muito poucas unidades de cuidados intensivos equipadas com estas máquinas.

Não é um problema exclusivamente africano: países industrializados como os Estados Unidos e a Alemanha pediram aos fabricantes de automóveis que produzam ventiladores em massa. Com a procura a exceder largamente a produção, países como a África do Sul, o Gana e o Uganda começaram a procurar formas de produzirem os seus próprios ventiladores.

Este protótipo de ventilador está atualmente a ser testado na Universidade de Makerere, no UgandaFoto: Prof. Vincent Sembetya

Vincent Ssembatya, um professor da Universidade de Makerere, em Kampala, no Uganda, juntou-se a uma outra história de sucesso, a fabricante automóvel Kiira Motors, com o único objetivo de produzir ventiladores a um preço acessível para fornecer o sistema de saúde em dificuldades. "Toda a gente precisa do mesmo produto, então, África tem hipóteses muito reduzidas", disse Ssembataya à DW.

Uma equipa da Academic City University College, em Accra, no Gana, desenvolveu um protótipo, mas luta com dificuldades financeiras para adquirir mais componentes para que o equipamento esteja pronto para ser testado e certificado.

Na Nigéria, a rede de investimento não-lucrativa Africa Business Angel Network está a trabalhar noutro protótipo, enquanto um fabricante automóvel local, Innoson Motors, pôs de lado a sua produção para fabricar ventiladores. Segundo o serviço de distribuição de sangue LifeBank, a Nigéria tem cerca de 100 ventiladores que são propriedade de unidades de saúde privadas.

Entretanto, na África do Sul, o Projeto Ventilador Nacional, controlado pelo Governo, planeia produzir 10.000 máquinas até ao final de junho, usando materiais produzidos localmente ou já disponíveis no país.

Aplicações móveis e soluções web

Depois da maratona tecnológica da semana passada – a primeira "hackaton" da Organização Mundial de Saúde - a OMS disponibilizou 18.400 euros aos finalistas com soluções digitais para travar a pandemia.

A equipa vencedora do Gana desenvolveu uma ferramenta que mapeia casos, à semelhança do Centro de Recursos do Coronavírus da Universidade Johns Hopkins. A diferença é que a nova ferramenta é capaz de classificar os casos de acordo com o risco e enviar os dados às autoridades nacionais.

Na Nigéria, a plataforma de saúde Wellvis lançou uma aplicação móvel, de fácil utilização, denominada COVID-19 Triage Tool – em português, Ferramenta de Teste Covid-19 – que permite ao utilizador auto-avaliar a sua categoria de risco com base nos seus sintomas e historial de exposição ao novo coronavírus. Dependendo das respostas, o utilizador recebe aconselhamento médico à distância ou é encaminhado para a unidade de saúde mais próxima.

Foto: DW/P. Musvanhiri

O Governo sul-africano está a usar o Whatsapp para gerir um chatbot interativo para responder a questões frequentes sobre mitos, sintomas e tratamento da Covid-19. A ferramenta já chegou a milhões de utilizadores, em cinco línguas diferentes.

Também na África do Sul, num esforço para travar as "fake news" e evitar o pânico, dois ex-alunos da Universidade da Cidade do Cabo criaram a Coronapp, uma ferramente que centraliza o fluxo de informação sobre a pandemia.

No final de março, a Redbird, uma startup de saúde do Gana, lançou um dispositivo que permite aos utilizadores reportarem os seus sintomas na aplicação para o browser do computador, sem ser preciso ir a uma unidade de saúde. A CcHub, a maior incubadora tecnológica de África, também disponibilizou um fundo e apela a mais projetos tecnológicos.

Transferências móveis

O uso de serviços de transferência de dinheiro através do telemóvel é vulgar no continente. A plataforma do Quénia M-Pesa é usada por mais de 20 milhões de pessoas. A gigante de telecomunicações Safaricom, dona da M-Pesa, suspendeu as taxas de utilização nas transferências abaixo dos 1.000 xelins, cerca de 9 euros, enquanto a Airtel deixou de cobrar todos os pagamentos através da sua plataforma Airtel Money.

O Banco Central do Gana pediu aos prestadores de serviços que eliminem as taxas nas transações abaixo dos 100 cedi, cerca de 16 euros, permitindo aos cidadãos abrir mais do que uma conta.

Produtos alimentares ao domicílio

Os confinamentos nacionais na África subsaariana são sinónimo de dificuldades em pôr comida na mesa. A medida visa travar a propagação da Covid-19, mas também paralisa tudo o resto, incluindo o fornecimento de produtos alimentares aos mercados tradicionais.

Covid-19: Falta de alimentos gera protestos na África do Sul

01:33

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Em muitas cidades do sul de África, os mercados são essenciais para o abastecimento diário da população – ao contrário do que acontece em muitos países europeus, onde os cidadãos podem armazenar comida.

Uma startup do Zimbabué, a Fresh in a Box, está a distribuir produtos frescos ao domicílio, diretamente dos agricultores, ajudando a reduzir os riscos de infeção e fome. O negócio funciona através de uma aplicação e as caixas de comida são transportadas nas famosas motorizadas de três rodas.

No Uganda, a aplicação Market Garden permite aos vendedores vender e distribuir frutas e vegetais aos clientes, enquanto as restrições para promover o distanciamento social estão em vigor. Desenvolvida pelo Instituto para a Transformação Social, uma instituição de caridade ugandesa, a aplicação reduz as multidões nos mercados, permitindo aos vendedores venderem os seus produtos a partir de casa. Moto-táxis fazem as entregas aos clientes.

Já a gigante africana de comércio online Jumia pôs ao dispor dos governos a utilização da sua extensa rede de distribuição para o abastecimento de unidades de saúde e trabalhadores.

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