Tanzânia proibiu voos da Kenya Airways de entrarem no país. É o episódio mais recente das querelas diplomáticas entre os dois países por causa das medidas (e da falta delas) para travar a pandemia do novo coronavírus.
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A Tanzânia proibiu a companhia aérea nacional do Quénia de entrar no país a partir deste sábado (01.08). É a mais recente "jogada" numa série de divergências diplomáticas desencadeadas pela controversa gestão da pandemia do novo coronavírus pelo Governo tanzaniano.
A Tanzânia diz que os voos da Kenya Airways são banidos "numa base de reciprocidade", depois de o Quénia ter decidido deixar a Tanzânia de fora da lista de países cujos passageiros seriam autorizados a entrar no Quénia quando os voos comerciais fossem retomados, a 1 de agosto.
"A Tanzânia registou a sua exclusão da lista de países cuja população será autorizada a viajar para o Quénia", disse o director-geral da Autoridade da Aviação Civil da Tanzânia, Hamza Johari, numa carta enviada à Kenya Airways na sexta-feira.
"O Governo tanzaniano decidiu anular a sua aprovação dos voos da Kenya Airways (KQ) entre Nairobi e Dar/Kilimanjaro/Zanzibar a partir de 1 de agosto de 2020, até novo aviso", escreveu Johari. "Esta carta também anula todos os acordos anteriores que permitem voos da KQ para a República Unida da Tanzânia".
O chefe executivo da Kenya Airways, Allan Kilavuka, disse no sábado que estava "entristecido" com a carta e esperava que a situação fosse resolvida em breve.
Magufuli e o controverso "fim da pandemia"
A Tanzânia adotou uma abordagem controversa e descontraída para enfrentar a pandemia do coronavírus e começou a reabrir o país há dois meses.
A recusa do Presidente John Magufuli em impor medidas de confinamento ou de distanciamento social e a decisão de deixar de publicar os dados das infeções, mereceram duras críticas na região e deixaram os países vizinhos e a Organização Mundial de Saúde preocupados.
Em finais de abril, quando o país registava 480 casos e 16 mortos de Covid-19, a Tanzânia suspendeu a divulgação dos dados "para evitar o pânico", continuava a funcionar em pleno e incentivava a população a recorrer à medicina tradicional e a rezar.
Magufuli declarou a Tanzânia livre de coronavírus em junho, agradecendo a Deus e às orações dos cidadãos pela derrota da doença.
A discussão diplomática entre o Quénia e a Tanzânia estalou logo após o início do surto da pandemia no leste de África, quando o Quénia bloqueou a entrada dos camionistas tanzanianos no país, temendo a propagação da doença.
Os aeroportos dos presidentes em África
São uma espécie de monumento auto-instituído: vários líderes africanos construíram os seus próprios aeroportos em locais remotos. Hoje, são estruturas esquecidas, paralisadas ou dão grandes prejuízos.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
O aeroporto esquecido de uma capital esquecida
Nos anos 60, o Presidente Félix Houphouët-Boigny decidiu fazer da sua cidade natal, Yamoussoukro, a capital da Costa do Marfim. Construiu avenidas imponentes, uma enorme igreja, vários edifícios e um aeroporto. Tanto a cidade como o Aeroporto Internacional de Yamoussoukro acabaram por cair na insignificância. Hoje em dia, o aeroporto está praticamente abandonado.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
Perdido na selva
Também Mobuto Sese Seko, ex-Presidente da RDC, se instalou com toda a pompa e circunstância na sua cidade natal, Gbadolite, com três palácios e edifícios representativos. Há também um aeroporto, rodeado por floresta tropical. Não há indústria nem turismo nas redondezas e a capital, Kinshasa, fica a 1400 quilómetros. Mobutu e a mulher gostavam de voar de Gbadolite para Paris – num Concorde alugado.
Foto: Getty Images/AFP/J. Wessels
O ditador com a sua própria pista de aterragem
Mobutu foi também recebido pelo ditador da vizinha República Centro-Africana, Jean-Bedel Bokassa (segundo à direita). Na residência de Bokassa, a cerca de 80 quilómetros de distância, havia também uma pista de aterragem para passageiros. Há muito que Bokassa morreu e a sua pista desintegra-se – tal como os seus palácios.
Foto: Getty Images/AFP/OFF
Boas-vindas a um convidado alemão
Mesmo antes de se tornar um aeroporto internacional - a mando do antigo Presidente Daniel Arap Moi - o aeródromo de Eldoret, no centro-oeste do Quénia, recebia o chanceler Helmut Kohl, em 1987. Eldoret é o centro económico dos Kalenjin – o grupo étnico do Presidente Moi. Apesar do nome, o aeroporto serve apenas para voos domésticos.
Foto: Imago Images/D. Bauer
O aeroporto inviável do ex-Presidente da Nigéria
O ex-Presidente da Nigéria, Umaru Yar'Adua, também converteu o aeroporto da sua cidade natal, Katsina, em aeroporto internacional durante o seu mandato (2007-2010). Mas o projeto preferido do antigo Presidente, que morreu em 2010, não é rentável. O Governo está a ponderar a entrada da autoridade aeronáutica nacional na equipa de gestão do aeroporto de Katsina.
Foto: Getty Images/AFP/P. Utomi Ekpei
Rumo a Chato?
A companhia aérea tanzaniana Precision Air poderá voar em breve para Chato, cidade natal do Presidente John Magufuli. O chefe de Estado quer expandir este aeroporto para impulsionar o turismo. Mas uma comissão parlamentar apela à renovação das infraestruturas já existentes em vez de novos projetos. Apenas 5 dos 58 aeroportos e pistas de aterragem do país contribuem para o PIB, dizem os deputados.