Todos os dias, trabalhadoras domésticas perdem o emprego em Inhambane, no sul de Moçambique, por causa da crise provocada pelo novo coronavírus. Os patrões dizem que não têm dinheiro para pagar os salários.
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Devido à pandemia do coronavírus, muitas trabalhadoras domésticas perderam os seus postos de trabalho na província de Inhambane.
Amélia Manuel, trabalhadora doméstica em Maxixe, tem algumas colegas nesta situação. Outras aguardam o fim do confinamento decretado pelo Governo para voltarem ao trabalho, mas ainda sem certeza.
"Muita gente mesmo, de verdade, está em casa a chorar. Quer dizer, não é perder emprego é mandar parar, aguentar um pouco. Quando passar [a Covid-19] vão voltar. Uns vão receber metade, mas outros não recebem. E outros voltam mas não temos horário de entrada nem de saída. Só vamos trabalhar. Porque é que não temos direitos? Porque não nos dão valor?", queixa-se a doméstica.
Muitos empregadores perderam os rendimentos devido à pandemia da Covid-19 e viram-se obrigados a dispensar as trabalhadoras domésticas.
É o caso de Argentina João, que empregava uma jovem estudante do ensino secundário. "Como posso manter a minha secretária? Não é possível porque não hei-de ter dinheiro para lhe pagar. Sendo assim, eu a mandei parar por causa do coronavírus. Outra coisa, talvez ela podia transportar corona, trazer ou vir pegar aqui em casa. Agora já não tenho dinheiro, não há como pagar à secretária", lamenta.
Empregados com fome
Fernando Machado empregava oito trabalhadores domésticos, mas por causa do coronavírus demitiu metade. As dificuldades financeiras, no entanto, mantêm-se. Os que ficaram a trabalhar, todas as semanas pedem pagamentos adiantados e alimentos ao patrão.
Angola: Trabalhadoras domésticas sentem efeitos da pandemia
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"Mas todas as semanas continuam a pedir os quinhentos meticais [cerca de 6 euros] e depois pedem peixe, arroz. Eu tenho que ir alimentando isso para não os deixar numa situação de desespero. Se não estiverem bem alimentados, também não vão trabalhar em condições. De uma e doutra maneira, vamos fazer ajuste de contas por causa das dívidas", conta Machado.
Regime de internato
Maria José, secretária provincial da Associação das Empregadas Domésticas em Inhambane, aponta uma grande mudança na vida das trabalhadoras do setor: muitas passaram a viver de forma permanente na casa dos patrões desde que o país está em confinamento.
"Dantes iam para casa aos sábados ou iam todos dias. Agora não é assim, só vão no fim do mês. Só as pessoas que ficaram em casa é que não têm salário e está muito difícil", esclarece a secretária provincial.
Leonilde Forquia, diretora provincial do Trabalho em Inhambane, disse à DW África que as trabalhadoras domésticas devem seguir o decreto 40/2008 de 26 de novembro para evitarem problemas.
"As trabalhadoras domésticas são regidas pelo decreto próprio. Concretamente é mais acordado pelas partes. Como são coisas privadas, muitas vezes não nos comunicam e chegam ao consenso entre eles", explica.
O drama dos transportes em Inhambane
Sobrelotados, danificados e sem condições mínimas de segurança: os transportes públicos da província de Inhambane, no sul de Moçambique, têm graves problemas.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem condições
Em Inhambane, passageiros vêem-se obrigados a viajar em veículos sobrelotados e sem as mínimas condições de segurança - muitas vezes ao lado de mercadorias. Da cidade de Maxixe, capital económica da província, saem muitas viaturas para os distritos do interior. Mas as vias de acesso estão muito degradadas, o que explica os danos nas viaturas, dizem os condutores.
Foto: DW/L. d. Conceição
Ir para a escola de "My Love"
Os alunos que estudam longe de casa enfrentam vários riscos para chegar à escola em viaturas de caixa aberta, conhecidas como "My Love", principalmente nos distritos de Maxixe, Morrumbene, Massinga, Homoíne, Jangamo, Panda e Vilankulo. O "transporte escolar" não respeita as normas de segurança e os acidentes são frequentes.
Foto: DW/L. d. Conceição
Longas distâncias de pé
Fazer vários quilómetros de pé nos transportes coletivos é rotina para muitas pessoas em Inhambane. Isto, porque alguns proprietários dos carros que fazem serviços de transporte proíbem os passageiros de se sentarem para poderem transportar um maior número de pessoas. Quando chegam ao destino - muitas vezes depois de percorrerem 50 quilómetros de pé - o corpo ressente-se.
Foto: DW/L. d. Conceição
A idade não é um posto
Os problemas afetam todos os passageiros - não há exceções para os idosos, que viajam também em más condições. O Governo tem vindo a prometer melhores condições para a terceira idade, mas a situação continua precária. E os preços dos transportes continuam elevados para todos, dos mais novos aos mais velhos.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem alternativas
Para quem tem carro próprio, as vias de acesso degradadas, que chegam a ficar intransitáveis quando chove, são um fator que pesa muito na decisão de conduzir até ao destino. E muitos outros não têm escolha: ou viajam de "My Love" ou ficam em terra. Entre os passageiros, idosos, mulheres grávidas ou com crianças de colo também têm muitas vezes mercadorias como companheiros de viagem.
Foto: DW/L. d. Conceição
Luxo…de passagem
Os autocarros com melhores condições saem da capital, Maputo, com destino a Inhambane, Vilankulo, Mambone, Massinga e Inhassoro. Não apanham passageiros pelo caminho, nas localidades mais pequenas. E, muitas vezes, já vêm sobrelotados de Maputo. A população pede às autoridades da província que melhorem os transportes entre distritos, para acabar com as viagens em carrinhas de caixa aberta.
Foto: DW/L. d. Conceição
150 quilómetros de desconforto
Esta viatura faz transporte público da cidade de Maxixe até ao distrito de Funhalouro, a mais de 150 quilómetros. As pessoas são obrigadas a viajar de pé e a partilhar o espaço com mercadorias. A agravar a situação está uma via de acesso em péssimas condições.
Foto: DW/L. d. Conceição
Viagem de risco para o interior
A história repete-se para muitos que vivem no interior da província. As deslocações entre os locais de residência e as cidades fazem-se em viaturas de caixa aberta, muitas vezes com material de construção, galinhas e produtos alimentares a dificultar uma viagem já em si perigosa.
Foto: DW/L. d. Conceição
De txopela nas zonas urbanas
Nas cidades e vilas, há alternativa aos "My Love". Aumenta o número das chamadas txopelas - motorizadas de três rodas - na maioria, provenientes da Índia, que acabam por tirar alguns jovens do desemprego. Mas nem todos os cidadãos têm dinheiro para andar de txopela nos centros urbanos: em média, uma viagem custa 150 meticais (cerca de 2 euros).
Foto: DW/L. d. Conceição
Só para estradas pavimentadas
Os mini-autocarros de 15 lugares são usados apenas em estradas pavimentadas ou alcatroadas, e a província de Inhambane só tem a Estrada Nacional. Muitas viaturas como estas não conseguem entrar em alguns distritos, como Funhalouro e Panda, devido ao estado das vias de acesso. Arriscar a entrada em estradas degradadas pode obrigar a uma visita ao mecânico.
Foto: DW/L. d. Conceição
Problemas também no transporte oficial
O Governo de Moçambique tem alocado todos os anos viaturas para o transporte de passageiros nas províncias. Mas, por falta de condições nas estradas, os veículos operam apenas em zonas urbanas. O Estado tem vindo a entregar a gestão destes transportes a terceiros, a título de empréstimo, mediante uma taxa mensal. Mesmo assim, os transportes públicos oficiais também estão sobrelotados.
Foto: DW/L. d. Conceição
Até quando?
Tal como os "My Love" demoram a chegar ao destino - devido também ao excesso de peso a diminuir a velocidade - a solução para os transportes públicos em Inhambane tarda igualmente em chegar. Ainda não há fim à vista para o transporte de passageiros em viaturas de caixa aberta. Até lá, veículos como este continuarão a ser adaptados para transportar passageiros e mercadorias.