A secretária-executiva da CPLP terminou a sua primeira visita à Guiné-Equatorial. A avaliação do cumprimento dos compromissos assumidos pelo país de Teodoro Obiang para adesão à CPLP foi um dos propósitos da visita.
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A secretária-executiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Maria do Carmo Silveira, acaba de chegar de uma primeira visita à Guiné Equatorial, onde participou na 18ª Reunião de Ministros da Defesa dos nove. Maria do Carmo Silveira, que teve encontros com as autoridades equato-guineenses, esteve em Malabo, capital da Guiné Equatorial, também para avaliar o cumprimento dos compromissos assumidos pelo país de Teodoro Obiang Nguema para adesão à CPLP. Um deles prende-se com a implementação de medidas que tenham em conta o respeito pelos direitos humanos. A abolição definitiva da pena de morte faz parte das exigências da Comunidade, para a qual a Guiné Equatorial pediu ajuda jurídica dos pares lusófonos.
Ajuda de Portugal
Portugal está disposto a ajudar. O apoio de Lisboa, já expresso pelo seu representante junto à CPLP, traduz-se em assistência técnico-jurídica, uma vez que as autoridades equato-guineenses dizem tratar-se de um processo complexo. A cooperação nesta área com Portugal, ainda não oficializada, surge de um pedido formulado pelo vice-primeiro ministro da Guiné Equatorial, Alfonso Nsue Mokuy. "Já fizemos uma amnistia e viemos a Portugal para que os nossos amigos da CPLP, de Portugal em particular, nos ajudem a encontrar a maneira adequada de eliminar a pena de morte", explica Alfonso Mokuy, acrescentando que assim que o país tiver "essa ajuda e assessoria", "tomará a decisão de abolir totalmente a pena de morte".
Segundo o governante, a Guiné Equatorial "quer um projeto concreto, com fórmulas jurídicas viáveis que permitam não ter problemas" quando a decisão da abolição total da pena de morte for tomada.
30.05.2017 Guiné-Equatorial- CPLP - MP3-Mono
O facto de a Guiné Equatorial ter fronteiras com os Camarões, um dos países até onde têm chegado os tentáculos do Boko Haram, é uma das razões pelas quais ainda mantém a pena capital, disse o vice-primeiro-ministro, que tutela também a área dos Direitos Humanos.
No entanto, Nsue Mokuy nega que o pedido de ajuda técnica aos parceiros da CPLP e os argumentos sobre a atuação na região do grupo radical islâmico Boko Haram, visto como um perigo para a soberania nacional, sejam argumentos para fazer retardar o processo de abolição. As autoridades da Guiné Equatorial querem conhecer as diversas experiências legislativas dos outros países membros da CPLP e avançar no plano da cooperação técnica, de modo a adotar um modo adequado de leis alternativas para pôr fim à pena de morte.
Na sua primeira visita à Guiné-Equatorial, que decorreu de 24 a 28 de maio, a secretária-executiva da CPLP teve encontros com as autoridades nacionais. Um dos objetivos foi a avaliação do nível de cumprimento do pacote de medidas que garantam o respeito pelos direitos humanos. A responsável confirmou que existem "ainda algumas preocupações, nomeadamente, alguns compromissos assumidos no momento da adesão que não estão completamente resolvidos" como é a questão da abolição da pena de morte. No entanto, Maria do Carmo Silveira ressalvou que a CPLP tem "estado a acompanhar a situação". "Acredito que a Guiné Equatorial seja um membro que de facto precisa de ser apoiado e a CPLP está disponível para essa colaboração", afirmou.
Maria do Carmo Silveira confirmou, em declarações aos jornalistas, que a organização tem um projeto já elaborado com vista a dar assistência técnica e jurídica à Guiné Equatorial, mas não avançou pormenores. Sublinhou que as autoridades equato-guineenses têm plena consciência de que é preciso avançar nesta matéria e, para tal, não é necessário qualquer ato de persuasão.
Críticas a Obiang
Por sua vez, o escritor Donato Ndongo-Bidyogo, um dos críticos do regime, diz que Teodoro Obiang continua a enganar os seus pares. "Creio que um Presidente que leva 36 anos no poder não necessita de nenhuma assessoria para abolir a pena de morte, porque sabe que basta para isso um decreto ditado e firmado por ele para terminar com a pena de morte na Guiné", afirmou.
Já ameaçado de morte, o jornalista exilado em Espanha é da opinião que Obiang Nguema apenas está a ganhar tempo para continuar no poder.
Dez líderes africanos que morreram em exercício
A população costuma acompanhar com atenção o estado de saúde dos altos dirigentes – muitos especulam atualmente, por exemplo, sobre a saúde do Presidentes da Nigéria. Vários chefes de Estado já morreram em exercício.
Foto: picture-alliance/dpa
John Magufuli, Presidente da Tanzânia
Morreu a 17 de março de 2021, doente. O seu estado de saúde, pouco antes da falecer, esteve em volto a muito secretismo. Assumiu a liderança do país em 2015 e boa parte do seu povo enaltece os seus feitos, tais como a melhoria dos sistemas de saúde, educação e transporte. Mas também foi contestado por algumas políticas duras e por perseguir os seus críticos.
Foto: Sadi Said//REUTERS
1) Malam Bacai Sanhá, Presidente da Guiné-Bissau (2012)
Malam Bacai Sanhá morreu em 2012. Ele sofria de diabetes e morreu em Paris, aos 64 anos, menos de três anos depois de chegar ao poder. Sanhá tinha vários problemas de saúde.
Foto: dapd
2) João Bernardo "Nino" Vieira, Presidente da Guiné-Bissau (2009)
João Bernardo "Nino" Vieira foi assassinado em março de 2009. Tinha 69 anos de idade. Esteve no poder durante mais de duas décadas. Tornou-se primeiro-ministro em 1978 e, em 1980, tomou a Presidência. Ficou no cargo até 1999, ano em que foi para o exílio. Regressou a Bissau em 2005 e venceu nesse ano as presidenciais.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
3) Mouammar Kadhafi, chefe de Estado da Líbia (2011)
Mouammar Kadhafi foi assassinado em 2011. Kadhafi, auto-intitulado líder da "Grande Revolução" da Líbia, foi morto por forças rebeldes em circunstâncias ainda por esclarecer. Estava no poder há 42 anos, desde um golpe de Estado contra a monarquia líbia em 1969, onde não houve derramamento de sangue. A sua liderança chegou ao fim com a chamada "Primavera Árabe".
Foto: Christophe Simon/AFP/Getty Images
4) Umaru Musa Yar'Adua, Presidente da Nigéria (2010)
Umaru Musa Yar'Adua morreu em 2010 aos 58 anos de idade. Morreu no seu país, vítima de uma inflamação do pericárdio – estava há apenas três anos no poder. Já durante a campanha eleitoral, Yar'Adua teve de se ausentar várias vezes devido a problemas de saúde. Depois de ser eleito, em 2007, a sua saúde deteriorou-se rapidamente.
Foto: P. U. Ekpei/AFP/Getty Images
5) Lansana Conté, Presidente da Guiné-Conacri (2008)
Após 24 anos no poder, Lansana Conté morreu de "doença prolongada" aos 74 anos de idade. O Presidente da Guiné-Conacri sofria de diabetes e de problemas cardíacos. Conté foi o segundo chefe de Estado do país, de abril de 1984 até à sua morte, em dezembro de 2008.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
6) John Atta Mills, Presidente do Gana (2012)
John Atta Mills morreu de apoplexia em 2012. Tinha 68 anos. Atta Mills esteve apenas três anos no poder. Enquanto chefe de Estado, introduziu uma série de reformas sociais e económicas que lhe granjearam fama a nível local e internacional.
Foto: AP
7) Meles Zenawi, primeiro-ministro da Etiópia (2012)
Meles Zenawi morreu na Bélgica aos 57 anos de idade, vítima de uma infeção não especificada. Zenawi liderou a Etiópia durante 21 anos – como Presidente, de 1991 a 1995, e como primeiro-ministro, de 1995 a 2012. Foi elogiado por introduzir o multipartidarismo, mas criticado por reprimir violentamente os protestos do povo Oromo no norte da Etiópia.
Foto: AP
8) Omar Bongo, Presidente do Gabão (2009)
Omar Bongo morreu em Barcelona, Espanha, em junho de 2009, vítima de cancro nos intestinos. Bongo estava no poder há 42 anos e morreu aos 72 anos de idade. Foi um dos líderes que esteve mais tempo no poder e um dos mais corruptos. Bongo acumulou uma riqueza imensa enquanto a maior parte da população vivia na pobreza, apesar de o país ter grandes receitas de petróleo.
Foto: AP
9) Michael Sata, Presidente da Zâmbia (2014)
Michael Sata morreu no Reino Unido aos 77 anos. A causa da morte não foi divulgada. Após a sua eleição em 2011, circularam rumores sobre o estado de saúde do Presidente. As suas ausências em eventos oficiais alimentaram ainda mais as especulações, apesar dos seus porta-vozes garantirem que estava tudo bem.
Foto: picture-alliance/dpa
10) Bingu wa Mutharika, Presidente do Malawi (2012)
Bingu wa Mutharika morreu em 2012. Teve um ataque cardíaco e faleceu dois dias depois, aos 78 anos de idade. Esteve oito anos no poder e ganhou gama internacional devido às suas políticas agrícolas e de alimentação. A sua reputação ficou manchada por uma onda de protestos por ter gasto 14 milhões de dólares num jato presidencial.