Francisco Telles é o novo secretário executivo da CPLP
Lusa | rl
15 de dezembro de 2018
Também a valorização da cultura e os oceanos constam do ranking das três principais prioridades estabelecidas por Francisco Ribeiro Telles, que tomou posse este sábado (15.12) como secretário executivo da organização.
Em entrevista à Lusa, o novo secretário executivo da CPLP afirmou que o ponto de partida da livre-circulação de pessoas é "a proposta conjunta de Portugal e Cabo Verde para a criação de um regime de autorizações de residência válido para todos os países da CPLP, fundado no critério da nacionalidade, mas que pressupõe o reconhecimento recíproco de habilitações académicas e qualificações profissionais e a portabilidade dos direitos sociais". Uma proposta, que assume, não é fácil de concretizar. "Temos de ir passo a passo, sermos realistas e ver o que é possível fazer", acrescentou.
Ainda assim admite: "O meu desejo é que no fim do meu mandato, em final de 2020, possam ter havido avanços efetivos nessa matéria. Mas isso não depende de mim depende da vontade dos estados-membros optarem por esse caminho".
Uma ideia reforçada, na cerimónia de tomada de posse deste sábado (15.12) por Jorge Carlos Fonseca, Presidente de Cabo Verde, mas também da CPLP. "Sem mobilidade não existe vida, não existe cooperação económica. Temos de assumi-la [mobilidade] aqui e agora. Assumi-la por inteiro e ir o mais longe possível sem fazer das dificuldades reais limitações intransponíveis, mas obstáculos a serem ultrapassados", disse.
Jorge Fonseca defendeu também que a CPLP tem de saber "aproveitar da melhor forma o facto de ter um grande número de cidadãos do espaço do lusófono a ocuparem cargos de direção em organismos internacionais de peso mundial", citando alguns exemplos, como Nações Unidas, Organização Internacional das Migrações, a FAO, o Tribunal Internacional do Direito do Mar e a Associação Internacional da Segurança Social.
Cultura e oceanos
Na lista de prioridades que o novo secretário-executivo traz para a CPLP estão também a valorização da cultura e os oceanos. No que toca ao último tópico, Francisco Ribeiro Telles traçou a criação de um centro de estudos marítimos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa como um objetivo. Pretende-se, explicou, que esse "centro de estudos possa vir a funcionar, de maneira a que haja uma articulação dos estados membros da CPLP em relação à política dos oceanos", para "virmos a ter uma só voz nos grandes fóruns internacionais".
"Os oceanos, que Cabo Verde escolheu como uma das referências do seu lema, são cada vez mais importantes. Sabemos da importância da economia do mar para o crescimento económico sustentável, para a segurança alimentar e para a criação de emprego. Isto ainda assume maior relevância numa organização que tem nove estados marítimos, e sabendo que alguns deles estão tentando expandir a sua plataforma continental", explicou Ribeiro Telles.
Olhar sobre a organização
Questionado sobre o contexto político em que vai assumir a liderança do secretariado executivo da CPLP, Francisco Ribeiro Telles mostrou-se otimista. Diz que o "empenho de Angola em assumir a presidência da CPLP é um sinal de que atribui importância à organização e vê-a como um instrumento útil e válido para a sua política externa". O responsável dá conta também de "empenho" por parte Brasil no que concerne à CPLP.
Sobre a crise na Guiné-Bissau, Francisco Ribeiro Telles diz ter constatado que sempre que "há um debate sobre o que se passa na Guiné-Bissau, e sobretudo nas Nações Unidas, a CPLP está presente e tem uma voz importante nesse debate". "A Guiné-Bissau vai ter eleições, haverá com certeza uma missão de observação eleitoral, e a CPLP tem de ter um diálogo muito construtivo e muito constante. Além disso, eu próprio vou ter um diálogo diário com o embaixador do país em Lisboa sobre formas e modalidades em que a organização poderá apoiar ainda mais o processo eleitoral", assegurou.
Já sobre o comportamento da Guiné Equatorial na CPLP, Francisco Ribeiro Telles recorda que se trata de "um membro" com os mesmos "direito e deveres" que os outros estados.
O novo secretário-executivo da CPLP inicia funções para o biénio 2019/2020 a 1 de janeiro, dia em que assistirá à cerimónia de posse do próximo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
Com 16 anos de experiência como embaixador em países da CPLP, Francisco Ribeiro Telles foi eleito para o cargo de secretário-executivo pela XII conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP, em julho de 2018, em Santa Maria, ilha do Sal, Cabo Verde.
Artistas da CPLP unidos contra a fome
Mais de 50 artistas doaram as suas obras para a campanha "Juntos contra a Fome". Os trabalhos estão expostos na galeria da UCCLA em Lisboa. O objetivo: angariar fundos para ajudar a erradicar a fome nos países lusófonos.
Foto: DW/João Carlos
Exposição na sede da UCCLA
Por uma causa nobre, mais de 50 artistas dos países de língua portuguesa doaram as suas obras para a campanha "Juntos contra a Fome". Mais de 90 trabalhos estão expostos até ao dia 22 de setembro na Galeria da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), em Lisboa. O objetivo: angariar fundos para ajudar a erradicar a fome nos países que falam português.
Foto: DW/João Carlos
Direitos humanos longe de serem realidade
A exposição, cuja organização contou com a ajuda do artista angolano Carlos Bajouca, foi inaugurada a 5 de setembro pela secretária executiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Maria do Carmo Silveira disse que, apesar dos "grandes esforços" no plano nacional e internacional, o direito humano a uma alimentação adequada está longe de ser uma realidade.
Foto: DW/João Carlos
Não depender sempre da ajuda externa
A mostra abre com um painel do são-tomense Estanislau Neto, que, tendo recorrido a imagens de vacas, valoriza a importância da agricultura e da pecuária no processo de produção alimentar. A criação de gado, de acordo com o artista, seria uma das vias sustentáveis no combate à fome, para contrariar a dependência de donativos.
Foto: DW/João Carlos
Estratégia para segurança alimentar
O desafio é mobilizar apoio para milhões de pessoas que vivem com falta de uma alimentação adequada. Nos países onde se fala português, mais de 20 milhões de pessoas enfrentam esta realidade. Na imagem, fotografias da portuguesa Maria João Araújo.
Foto: DW/João Carlos
Envolvimento da sociedade civil
A campanha "Juntos contra a Fome", lançada em fevereiro de 2014, tem mobilizado a sociedade civil, incluindo escritores, académicos, jornalistas, desportistas e políticos. O angolano Marco Kabenda, autor desta obra, é um dos artistas que apadrinha a iniciativa. A ele juntam-se vários pintores, escultores e tecelões dos nove países onde se fala português.
Foto: DW/João Carlos
Abrir mentes contra o preconceito
Júlio Quaresma também ofereceu um dos seus quadros, que representa a explosão das convenções na atual dinâmica da modernidade. O artista angolano acredita que só se consegue dinamizar e fazer avançar as sociedades quando abrirmos as nossas mentes sem preconceitos, em defesa de uma causa como esta: a da luta contra a fome e a pobreza.
Foto: DW/João Carlos
O poder e a gestão da água
Entre os quadros de Ismael Sequeira, destaque para a temática da gestão da água. O artista são-tomense expressa assim a sua inquietação perante a carência deste líquido precioso. Lembra que a água é importante para a vida e necessária para a agricultura, embora não seja distribuída com racionalidade.
Foto: DW/João Carlos
Amor ao próximo para acabar com a fome
As esculturas do moçambicano Frank N’Taluma transportam sempre consigo uma mensagem apelativa. Aqui, o artista apela ao amor ao próximo. "Para acabar com a fome temos que amar o próximo", afirma, condenando o facto de muita comida ser desperdiçada e deitada para o lixo quando se sabe que há milhares de pessoas a necessitarem de alimentação.
Foto: DW/João Carlos
Outros contributos moçambicanos
De igual modo, o conceituado artista plástico moçambicano Lívio de Morais não ignorou o sofrimento dos que fazem parte das estatísticas da fome nos países lusófonos. A sua contribuição é tão valiosa quanto a dos seus conterrâneos Roberto Chichorro ou Malenga, Sérgio Santimano e José Pádua, também representados na exposição.
Foto: DW/João Carlos
Cinco projetos já financiados
Até agora, de acordo com a CPLP, a campanha "Juntos contra a Fome" já angariou 175 mil euros na campanha ", que permitiram viabilizar cinco projetos em Cabo Verde, na Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Moçambique. Este quadro do guineense João Carlos Barros é mais um grão no esforço para angariar mais recursos financeiros para apoiar outros países.
Foto: DW/João Carlos
Promover a agricultura familiar
Os projetos são implementados a 100% por organizações não-governamentais locais, visando promover a agricultura familiar sustentável, assim como reduzir o número de famílias afetadas pela fome nos países lusófonos. Abel Júpiter ofereceu este quadro para o acervo de peças doadas pelos mais de 50 artistas.
Foto: DW/João Carlos
Expetativas para o leilão
No final da exposição, no dia 22, será feito um leilão, para o qual os promotores pediram a participação de todos os que querem dar o seu contributo e engrandecer esta causa. Rui Lourido, diretor do Setor Cultural da UCCLA, também abraça a causa. Na foto, alguns dos artistas que apadrinham a campanha "Juntos contra a Fome".