Diretor do Centro de Análise Estratégica do bloco lusófono não acredita em uso de força militar a curto prazo, porque seriam necessários cumprimentos de protocolos de cooperação. Ação poderia ocorrer com mandato da ONU.
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A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) não descarta o apoio militar a Moçambique contra insurgentes em Cabo Delgado. A informação é do diretor do Centro de Análise Estratégica (CAE-CPLP), o capitão de Mar e Guerra, Francisco Evandro Rodrigues Camelo. O comandante Evandro disse à DW África que os países do bloco lusófono têm um protocolo de cooperação com treinamentos de emprego da força, formação e intercâmbio militar.
Para um eventual emprego coordenado de contenção dos insurgentes em Cabo Delgado e outras zonas de conflito em Moçambique ainda há etapas a serem cumpridas - como o adestramento das forças armadas dos Estados-membros, seguindo protocolos da Organização Nações Unidas (ONU). O diretor do centro da CPLP diz que uma ação conjunta necessitaria também de um mandato da ONU.
"Se esse processo [de cumprimento de etapas] for célere, eu não descarto essa possibilidade [de apoio militar], mas nós iremos atuar dentro do protocolo de cooperação da CPLP e sob égide da ONU”, diz.
CPLP não descarta apoio militar a Moçambique
O que já existe
Há acordos bilaterais e multilaterais de apoio indireto. O diretor do CAE-CPLP acredita que, nesse âmbito, é possível ocorrer também a formação especializada de um grupo de militares, caso haja o pedido formal do Governo moçambicano.
A componente de defesa da CPLP já realiza um exercício militar chamado "Felino". O último ocorreu em setembro de 2019 em Angola e foi coordenado por militares angolanos com o apoio de militares dos outros países do bloco.
O "Felino" concentra-se em ações militares de apoio à paz e ajuda humanitária. Em 2019, Portugal propôs que países da CPLP também possam participar conjuntamente em operações sob égide da ONU no futuro. O CAE está a realizar um estudo para verificar como o emprego das tropas poderia ocorrer.
"O exemplo de Cabo Delgado motiva-nos a ver que essa perspetiva, de no futuro os países da CPLP trabalharem de forma combinada numa operação de missão de paz, poderá ocorrer. Isso vai depender de como o estudo que está em curso defina os procedimentos. Primeiramente os países deverão estar alinhados sobre os manuais e orientações da ONU”, dica CAE-CPLP.
Segurança marítima
O capitão de Mar e Guerra, Francisco Evandro Rodrigues Camelo, analisa também a possibilidade de cooperação da CPLP para apoiar Moçambique na segurança marítima do norte do país.
"Com a exploração de gás que ocorrerá na Bacia do Rovuma, há de alguma forma a necessidade de Moçambique virar os olhos para o mar e buscar a segurança marítima do seu litoral. Há conversações em curso, nada concreto no momento”, salienta.
Outro projeto no âmbito da CAE-CPLP é a criação de um protocolo de mecanismo de resposta a grandes catástrofes. Os ministros de Defesa dos países do bloco reunir-se-ão em maio no Brasil para discutir o plano. O protocolo busca dar uma resposta coordenada com base no que cada país tem para oferecer em termos de capacidade técnica.
"A exemplo do que ocorreu em Moçambique, no ciclone Idai e Kenneth, em que houve ajuda de vários países da CPLP, caso ocorra – não é o que desejamos – de algum outro países necessite desse apoio, ele será coordenado através desse mecanismo de resposta”, explica o comandante Evandro.
Feridas do ciclone Kenneth não cicatrizaram, seis meses depois
O ciclone Kenneth devastou o norte de Moçambique, em abril. 45 pessoas morreram e 250 mil foram afetadas pelo ciclone. Seis meses depois, muito já foi feito, mas muito continua por fazer na província de Cabo Delgado.
Foto: Reuters/OCHA/Saviano Abreu
Salas de aula por reconstruir
Mais de 500 salas de aula ficaram destruídas depois da passagem do ciclone Kenneth. Com apoio financeiro, recuperaram-se cerca de 100 salas. Em alguns casos, foram alocadas tendas às escolas destruídas para permitir o decurso das aulas. Entretanto, há várias escolas por reconstruir. Um exemplo é esta escola primária na Ilha das Quirimbas, distrito do Ibo, cuja cobertura foi arrasada.
Foto: DW
"Comida pelo trabalho"
O Programa Alimentar Mundial (PAM) em Cabo Delgado, chefiado por Enrique Alvarez, continua a prestar assistência alimentar às famílias afetadas pelo ciclone. Em agosto, iniciou uma nova etapa de reconstrução, denominada "Comida pelo trabalho", onde cerca 70 mil pessoas beneficiarão de apoio alimentar ou material de construção, mediante a prestação de trabalhos na comunidade.
Foto: DW
Setor da pesca atingido
O ciclone Kenneth destruiu ou danificou muitos barcos de pesca artesanal, e a atividade piscatória ficou paralisada. O motor deste barco ficou avariado com o ciclone e o proprietário e os seus sete trabalhadores viram-se obrigados a paralisar a atividade durante cinco meses.
Foto: DW/D. Anacleto
Lonas para cobrir as casas
Várias habitações devastadas pelo mau tempo em Cabo Delgado continuam por reabilitar. O Governo ofereceu tendas às famílias que tiveram as casas totalmente destruídas. Para muitas casas onde só o tecto ficou destruído, foram oferecidas lonas.
Foto: DW/D. Anacleto
A longa espera pelo reassentamento
Na cidade de Pemba, depois da passagem do ciclone, em abril, cerca de 300 famílias que tiveram as suas habitações destruídas foram levadas para o centro de trânsito do bairro de Chuiba. Aguardam aqui a distribuição de terrenos para recomeçar uma nova vida. "Ainda não há sinal de luz verde", lamentam estes cidadãos.
Foto: DW
Sistema de drenagem obstruído
Em abril, as chuvas intensas que se fizeram sentir em Pemba durante a passagem do Kenneth alagaram os bairros de Natite, Josina Machel, Eduardo Mondlane e Paquitequite. Uma das causas para o fenómeno terá sido o deficiente sistema de drenagem, que estava obstruído. O edil de Pemba, Florete Simba Motarua, promete melhorá-lo.
Foto: DW
Família pede ajuda
Uma das casas da família de Fernando Fernandes foi destruída pelo ciclone. Com um agregado numeroso, os membros têm de partilhar o pequeno espaço na residência principal. Fernandes renova o pedido de apoio a pessoas de boa-fé: "Se eles realmente sentem pelo desastre que o povo sofreu, que venham dar um apoio, não digo financeiro, mas material, como ferros ou cimento…"
Foto: DW
Lixeira municipal foi transferida
A lixeira municipal de Pemba, que há 60 anos ficava na unidade residencial de Chibuabuare, no centro da cidade, está agora a 22 quilómetros da zona urbana. A lixeira terá soterrado seis pessoas durante a passagem do ciclone Kenneth, em abril passado.
Foto: DW/D. Anacleto
União Europeia apoia reconstrução
A União Europeia ofereceu 3,5 milhões de euros para apoiar a reconstrução da autarquia de Pemba, através de um programa denominado "Mais Pemba". O programa de apoio inclui a melhoria das vias de acesso destruídas, requalificação dos espaços públicos e a limpeza da cidade. A maior parte das estradas danificadas pelo Kenneth em Pemba já foi reconstruída.