A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa tem mesmo de avançar no domínio da mobilidade. Foi a tónica dominante nos discursos dos líderes lusófonos na abertura do encontro em Cabo Verde. Até Obiang falou em português.
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No dia do 22º. aniversário da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, deu as boas-vindas aos dirigentes que participam na cimeira do Sal.
A sessão de abertura da cimeira foi presidida pelo chefe de Estado do Brasil, Michel Temer, que fez o balanço dos dois anos da presidência brasileira. "Tivemos a satisfação de sedear no Brasil diversas reuniões com delegações dos países da CPLP. Na área da segurança alimentar e nutricional reforçamos a articulação. Também na área da saúde nós tivemos avanços significativos", concluiu Michel Temer, antes de passar o testemunho ao seu homólogo cabo-verdiano.
Assumida a presidência, Jorge Carlos Fonseca reafirmou um velho desejo e objetivo de Cabo Verde: progresso no capítulo da mobilidade, um dos maiores desafios da CPLP. "Espero que durante esta Cimeira se possa obter avanços significativos. A tarefa é muito difícil, no entanto, o nosso dever é tudo fazer para que um dia possamos livremente deslocarmos neste espaço que é comum", sublinhou.
O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, instou os Estados-membros a adotarem o Estatuto do Cidadão da CPLP: "É tempo de concretizarmos o acordo relativo aos vistos de múltiplas entradas rubricado em Brasília em 2002."
Angola já aboliu vistos
O Presidente de Angola, João Lourenço, mencionou os passos que o seu país está a dar no domínio da mobilidade. "Angola deu já alguns passos e aboliu, por exemplo, os vistos em passaportes ordinários com Cabo Verde e Moçambique e simplificou o processo de aquisição de vistos para os cidadãos dos restantes Estados-membros."
Os discursos da cimeira do Sal
Discurso quase idêntico teve o Presidente são-tomense. "São Tomé e Príncipe alcançou dois grandes progressos nesta matéria: a isenção de vistos por um período de 15 dias aos cidadãos dos países-membros da CPLP, bem como a atribuição da nacionalidade santomense a todos os cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa que se encontravam no país a 12 de julho de 1975, data da proclamação da Independência Nacional ", informou Evaristo de Carvalho.
A questão da mobilidade também não passou de lado no discurso do Presidente português. "Temos e podemos fazer ainda mais e melhor, temos de olhar mais para as pessoas, para o seu estatuto, para os seus problemas concretos, olhar mais para a mobilidade pessoal, social, económica, empresarial e financeira ", desafiou Marcelo Rebelo de Sousa.
Obiang discursa em português
O Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, mostrou que está a aprender o português e foi na língua de Camões que discursou para assegurar que o seu país está a cumprir o roteiro estabelecido com a CPLP. "Após quatro anos da nossa admissão à CPLP, o roteiro da nossa integração tem sido seguido de forma paulatina e segura", disse.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, afirmou que o diálogo em curso com a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) deverá conduzir a uma paz duradoura no país. "Estamos confiantes que o diálogo que mantemos poderá trazer uma paz efetiva e duradoura, apesar dos receios iniciais devido ao desaparecimento físico daquele que foi o principal interlocutor com o nosso Governo, o senhor Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, o maior partido da oposição".
Cabo Verde assumiu a presidência da CPLP por um período de dois anos, tendo como lema "Cultura, Pessoas e Oceanos".
Um olhar lusófono sobre "a cidade" em exposição na Alemanha
Exposição "O Estado das Coisas" apresenta obras de artistas lusófonos no Instituto Camões, em Berlim. Em foco, a relação entre aspetos económicos e artísticos urbanos.
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
Ironia moçambicana
Esta é uma das obras na exposição "O Estado das Coisas". É do moçambicano Jorge Dias e consiste numa montagem de cartões de telemóvel e insetos em arame, "feitos segundo uma técnica quase popular de Moçambique", diz o curador João Silvério. "A peça tem uma ironia muito especial. 'Bem vindo' a este mundo do consumo. Mas, ao mesmo tempo, há dois insetos que parecem estar ali a roer alguma coisa."
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
Espírito revolucionário
A fotografia "Hotel da Praia Grande (O Estado das Coisas)", de Ângela Ferreira, cujo subtítulo dá nome à exposição, refere-se ao filme do diretor alemão Wim Wenders, de 1982. A foto, de 2003, é uma metáfora do mais representativo ícone da Revolução dos Cravos, "numa altura em que o espírito revolucionário do 25 de Abril está a começar a dissipar-se e a ser esquecido na sociedade portuguesa."
Foto: Ângela Ferreira
Crítica ao pós-revolução
Nascida em Moçambique, Ângela Ferreira é portuguesa e sul-africana. "Estou a fazer um comentário irónico, porque se anunciava já um desgaste do processo revolucionário em Portugal", diz. De lá para cá, o desgaste "veio a agravar-se". "Com a entrada de Portugal na UE, transforma-se num país neoliberal, com um capitalismo furioso e que se tem vindo a agravar mais nos últimos cinco anos", considera.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Sem Nome
Um corpo caído na galeria. A escultura "Sr. Central", do artista português Noé Sendas faz parte da série intitulada "Nameless" ("Sem Nome", em português). Sendas considera "natural" a exposição conjunta de obras de artistas lusófonos, porque tem "uma relação pessoal e temporal com os autores que estão aqui. Vivemos todos na mesma época. Vivemos coisas em comum. Expusemos muito em comum".
Foto: DW/C. V. Teixeira
Desconforto e inquietação
Para Noé Sendas, a cena que a presença de sua escultura cria "não é automaticamente entendida como obra" pelo público. "Quando entra aqui, não sabe se é uma escultura, se é uma pessoa, o que é. Essa inquietação interessa-me. Mais do que criar uma peça, é criar uma relação com o expetador," revela.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Espaços urbanos, espaços de transição
A série de gravuras do artista Julião Sarmento "traz consigo, não só, a figura feminina, mas uma série de relações espaciais em que a própria noção de casa, de corpo e de transcrição estão presentes", relata o curador da exposição. As obras reunidas na exposição têm como língua comum "os espaços habitados, que são espaços de transição, que são espaços urbanos. Sejam grandes ou pequenas cidades".
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
Arte e economia
A ideia da exposição é abordar aspetos económicos e artísticos urbanos a partir de obras de artistas lusófonos do acervo da Fundação portuguesa PMLJ. "Simbolicamente, o contexto económico é uma imagem não só do mundo da arte, como do mundo da economia e das trocas sociais", avalia o curador João Silvério. Assim, tentou-se "dar um 'ar do tempo' em que vivemos e tentar abrir um campo de reflexão".
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
Sociedade em foco
A exposição apresenta ainda obras de Ana Rito, Cecília Costa, Isabel Carvalho, Pedro Barateiro e Filipa César, autora da foto "Marlboro Triumph" ("O Triunfo da Malboro", em português), feita em Berlim, em que se vê uma propaganda dos cigarros Marlboro ao lado de uma propaganda de soutiens da marca Triumph. "Faço uma relação com os cowboys [e uma sociedade] machista e colonizadora", relata Filipa.
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
O olhar do público
Visitantes interagem durante a abertura da exposição "O Estado das Coisas", em Berlim. A visitante espanhola Amparo Rapela diz que gostou das fotografias e "mais especialmente das gravuras" de Julião Sarmento. "Vou para casa com uma impressão positiva," finaliza. A exposição está patente no Instituto Camões, em Berlim, até 14 de setembro de 2018 e tem entrada livre.